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Revista Eletrônica do Centro de Estudos do Imaginário
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_______________________________________________________ Vozes da (des) integração e
Imaginário da sobrevivência: As Narrativas dos Índios Arara de Rondônia [1] |
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Artigos Resenhas Biblioteca Entrevistas Primeiras Notas CONSELHO EDITORIAL Arneide Cemin Ednaldo Bezerra Freitas Valdir Aparecido de Souza |
Resumo: A história da ocupação da Amazônia, a partir da
condução estratégica dos militares nas décadas de ‘60 e ‘70, tornou-se de
sobremaneira, um momento de extrema violência física e cultural imposta sobre
as diversas populações indígenas. Fazer com que as vozes dos sobreviventes
testemunhem sobre os acontecimentos, torna-se uma oportunidade de analisarmos
complexos mecanismos de cultura, etnicidade e resistência. Nesse sentido, as
narrativas do povo Arara de Rondônia, dão parâmetros para reflexões críticas
sobre como os próprios indígenas constituíram seu imaginário sobre os
acontecimentos, e de como se vêem enquanto mediatizadores entre o passado e
presente. Palavras chaves: imaginário – índios Arara - colonização Vocês
sabem que a história do índio é muita coisa mesmo, a gente for sentar falar
verdade, pensar, guardar na cabeça, acho que num é todo mundo acho que hoje ta
tudo bom, acho que num foi bom pro índio não (Pedro Agamenon Arara) Introdução Os estudos sobre o imaginário são uma
contribuição teórica, a partir da eleição de simbologias e imagens,
constituindo, sobretudo representações da cultura e dos valores de uma
sociedade buscando contribuir com sua problematização. Narrativas orais,
escritas, iconografias, e todo o complexo da cultura material são matéria prima
para este conhecimento (DURAND, 1998). Assim, vistos como sobrevivente de uma história
de destruição e testemunhos de luta e resistência, as populações indígenas de
Rondônia reportam em memória e narrativa os aspectos conflitivos advindos do
contato interétnico com a chamada colonização recente da Amazônia: construção de
estradas, empreendimentos, hidrelétricas, novas tecnologias, agroindústria,
migração em massa, dirigida ou espontânea de colonos, distribuição de terras...
(MARTINS, 1997). Nessa dimensão, as vozes desses protagonistas indígenas
ganham ainda mais importância, na medida em que representam o eco de um
processo de longa duração, demonstrando o quanto a história do Brasil vista
pelos próprios indígenas configura em mais de quinhentos anos, um registro de
extermínio, esbulho e exploração (FREITAS, 2004) Aqui, analisamos narrativas de indígenas da etnia Karo –
Arara de Rondônia, moradores da Terra Indígena Igarapé Lurdes que comporta um
território de 185.534 hectares (demarcado em 1976). Este espaço territorial é
coabitado por outra etnia indígena a Ikolem - Gavião, tradicional “inimiga” dos
Arara e vista como invasora das suas terras . A língua indígena falada pelo
grupo é da família Tupi- rama-rama e são aproximadamente duzentos índios que
compõem tal comunidade, distribuída em duas aldeias Iterap e Paigap. As narrativas formam um conjunto de textos recolhidos
oralmente nas aldeias a partir de treze narradores indígenas, gravadas e
transcritas, sendo que alguns deles se pronunciaram em língua portuguesa,
outros apenas na língua materna e alguns nos dois idiomas. São oito homens e
cinco mulheres todos já idosos ou adultos e foram escolhidos como narradores
pela própria comunidade, sendo que tais narrativas se destinam para servir de
subsídios junto aos professores indígenas Arara, para ser utilizados no processo
de educação escolar (1) [3]. Os narradores Benedito Nhombeu . 70 anos. Aldeia Iterap Paulo Mãn, 56 anos Aldeia Iterap Procópio Na’xot, 59 anos. Aldeia Iterap Firmino Hotxana, 37anos, Aldeia Iterap – Cacique Irineu de Oliveira Silva, 68 anos. Aldeia Iterap Firmino Xit Xabat, 67 anos. Aldeia Iterap Peoro, 80 anos, Aldeia Iterap Vitoria Natxa Wên, 65 anos. Aldeia Iterap Maria Ora Yô, 55 anos. Aldeia Iterap Cida Yary, 60 anos. Aldeia Iterap Vitoria Arara, 70 anos. Aldeia Iterap Pedro Agamenon, 40 anos. Aldeia Paigap – Cacique Maria Arõy, 30 anos. Aldeia Paigap O temário das narrativas Para efeito didático, os professores Arara dividem a sua
historia em etapas de contato bem definidas: 1. Etapa da maloca – caracterizando o período anterior ao
contato com o colonizador, sendo que a maloca representa aqui a moradia
tradicional da etnia, que foi substituída depois do contato e que era
construída segundo arranjos sociais específicos de parentesco; 2. O contato interétnico inicial, com o impacto da presença
dos seringueiros, datado no meado do século passado; 3. O seringal, com o período em que os índios são
arregimentados como mão de obra semi-escrava; 4. SPI/FUNAI e a
Presença Missionária como instâncias de interferência no grupo; 5. A conquista da demarcação das terras; 6. Tempos atuais. O contato O primeiro dado a ser contextualizado é a menção e
importância atribuída ao primeiro contato interétnico, descrito como um divisor
de águas entre um tempo mítico anterior (o tempo das malocas) e a chegada do
colonizador. O tempo da maloca sendo caracterizado segundo as descrições, pela
existência de uma população de muitos índios, muitas aldeias, processos
migratórios dinâmicos, caça e pesca em abundância. O primeiro contato interétnico da etnia Arara é
explicitamente apontado em nome de um determinado seringalista – conhecido como
“Barros”, “o finado Barros” como aparece na fala dos índios (já que se sabe que
o mesmo já é falecido). De forma bastante complexa, este primeiro contato aparece
sob a dubiedade característica de como é possível perceber o próprio papel do
colonizador. De um lado, o seringalista representa morte e destruição “o Barro
andou nas mata, antigamente para acabar o nosso rastro” (Cida Yary), “o Barro
que era chefão e mandava matar índio”(Pedro Agamenon), “O Barro trouxe doença
pra nós, matando nós todos” (Firmino Xit Xabat) E de forma bastante visível,
uma expressão carregada de sentimento de perda, denunciando a quase extinção do
grupo: “os índios Arara eram muito antigamente...os branco acabaram com nossos
parentes...matando meus avós, dizem que mataram meus irmãos antigamente,
mataram os tios de minha mãe...nós íamos ter muitos parentes vivendo ...
fizeram a gente morrer” (Maria Arôy). De fato, o processo de depopulação que se
sucedeu a esse primeiro contato foi perverso, chegando a etnia a ser
contabilizada em apenas cinqüenta indivíduos no período em que se processou a
demarcação do seu território nos anos ’70 (IZIDORO, 2006). Por outro lado, aparece a figura do seringalista como aquele
que trouxe os produtos industriais, e mesmo como uma espécie de “pai” e
“protetor” das aldeias: “só o Barro que defendeu nós antigamente... defendeu a
gente dos parentes dele” (Procópio Na’Xot). A resultante desse processo foi que a grande maioria dos
Arara passou a ser arregimentada para o trabalho semi-escravo dos seringais, os
índios foram distribuídos por vários e diferentes patrões, levando a muitos
deles nunca mais voltar para as suas aldeias. Aliais muitos deles foram
entregues ainda criança para ser adotados por famílias de seringueiros ou de
seringalistas: “naquele tempo qualquer branco podia levar índio pra criar”
(Pedro Agamenon), “o finado Barro que nós conhecemo primeiro e tinha me adotaro
e tudonós trabalhando, trabalha la primeiro no seringal, cortava seringa como
eu, arruma mulher” (Benedito Nhombeu), “naquele tempo a seringa dava muito
dinheiro até o próprio índio chegou a trabalhar como empregado desse
pessoal...eles botavam os índios pra trabalhar...então eles se sujeitavam a
isso, eles obrigavam eles a fazer isso”(Pedro Agamenon). Ou a ênfase discritiva
cheia de subjetivação de quem passou pelo processo de adoção: “aí eu fui pro
poder dos Branco...Esse casal que me criaram... eles eram seringueiro, aliais
foram eles que começaram com os parentes nossos, começaram a ter contato com
eles, começaram a amansar dando algumas coisas pra eles, mercadoria, trabalhava
para eles, cortava, tirava borracha... e eles... alguma espingarda, uma roupa”
(Irineu de Oliveira Silva). Fica assim
caracterizada, por um lado a forma de cooptação da mão-de-obra e por outro o
regime de exploração de trabalho tipificado da economia seringueira da Amazônia
com a denominação de “barracão” (OLIVEIRA FILHO, 1988). Ao processo de profunda mortandade a que foram submetidos,
restava um quadro de fragmentação familiar que de maneira imediata caracterizou
o processo de distribuição dessas crianças. A descrição da dolorosa etapa de
contaminação pelas novas doenças (sarampos, gripes, diarréias) e pelo
irremediável número de mortes, testemunha uma cena apocalíptica: “meu pai
andava doente... e o catarro fica no peito... nós pegava catarro também... ai
meu pai morreu e outros também morreu...tempo que nem tem remédio pra
tratar”(Benedito Nhombeu). E ao depoimento sentido de perda dos pais, a fala de
Cida Yari parece conceber um sentido de orfandade coletivo, certamente dando
conta de uma comunidade que de repente se viu ceifada de uma geração anterior:
“Nossos pais morreram e nos deixaram. Nossos pais não vivem... Nós estamos sem
nossos pais” (Cida Yary). Mas os conflitos se somaram também ao processo de
proximidade com os índios Gavião. Aqueles tradicionais inimigos estavam agora
na proximidade de suas aldeias e terminaram efetivando um massacre. Pelas
narrativas compreende-se o profundo mal estar que representa até o presente a
proximidade de tais “parentes”: “teve o conflito...parentes vinheram por fora e
atacaram o parente daqui dos Arara...Ai eles falaram que que o território deles
hoje, mas não é verdade, o território é do povo daqui”(Firmino Hotxana),
“Depois outro parente matou nós, eles dizem também para eles morarem nessa
terra, para eles dizer que são os donos da terra. Nós somos os donos da terra
eles dizem . É mentira...depois eles mataram a gente Não é a terra deles
antigamente”, “Os índios Gavião mataram o resto de nós, mataro e acabando com o
resto dos nossos pais”(Firmino Xit Xabat), “os índios Gavião nos mataram
antigamente, cobiçando as nossas coisas”(Vitoria Arara), “os Gavião matou nosso
povo...brigaro mataro nosso povo...depois que Arara teve contato é que Gavião
foram chegando, passa por dentro das aldeia dos Arara...nós vivia aqui, aqui é
nossa terra, não é do Gavião”(Pedro Agamenon). Seguem-se nas narrativas o aparecimento das entidades e
órgãos indigenistas oficiais como o SPI e FUNAI, e a presença missionária
descrita apenas no início do contato como católica: “padre que também primeiro
entraro lá, o padre ai depois vemos que também trabalhador lá cortando seringa,
cortando gaucho, ele mandou nós trabaiá” (Procópio Na’Xot). E em seguida a
permanência até os dias atuais de missionários evangélicos da denominação “Nova
Tribos do Brasil” que a mais de quarenta anos se mantém em permanente trabalho
de proselitismo catequético entre os índios. Com relação à presença do Órgão tutor, vale o registro desse
período da abertura das estradas conhecidas como transamazônicas, cumprindo o
papel de política de ocupação e integração da região amazônica ao Brasil. Nessa
circunstância, alem do desdobramento que culminou com a demarcação do
território indígena denominado Igarapé Lurdes (onde foram alocados alem dos
Arara os Gavião) e a instalação do Posto Indígena nesse território, o uso de
alguns desse indígenas para servir de possíveis interpretes e auxiliares para
outras etnias então contatadas. Nesse caso o relato de Pedro Agamenon descreve
a sua participação do trabalho de atração com os Surui e os Cinta Larga: “a
história de meu trabalho quando a FUNAI surgiu tive no Surui, naquele tempo que
os Surui matava gente mesmo, eu passei quatro meses como funcionário da FUNAI,
trabalhando, ai depois do Surui eu fui pro Roosevelt, passei seis meses lá sem
sair para a cidade, a FUNAI me pagava pra eu trabalhar lá e eu fui conhecendo
os parentes assim. Aí foi que eu cheguei a recordar vendo as coisas que existia
índio ainda” (Pedro Agamenon). A narrativa desta liderança indígena é bastante contundente,
suficiente para compreendermos o processo a que esteve submetido a sua etnia.
Depois de órfão de pai, foi criado por uma família de seringueiros (inclusive
sendo ele um dos Arara que não domina o próprio idioma materno). Segundo ele o
momento em que esteve diante de outras etnias e testemunhou a face do contato
de maneira mais clara, foi decisivo para sua tomada de consciência étnica.
Então, procurou sua mãe e localizou outros parentes e pouco a pouco foi
possível reconstituir parte do grupo, em uma espécie de ressurgimento dos
Arara: “eu não sabia que estava fora , mas não estava enxergando... pra mim só
existia só eu, ai fui conhecendo os outros parentes... ninguém nunca esperava e
eu hoje to aqui no meio do meu povo” (Pedro Agamenon). O amansamento Mas para compreendermos as representações do imaginário
indígena sobre o próprio processo de envolvimento com a colonização, suas
contradições e perplexidades, será interessante observar a forma de como se
apresentam em suas narrativas o conceito bastante presente de “amansamento”. De um lado temos a
tradicional versão de que a chegada do colonizador corresponde ao “amansar” dos
índios. Ou seja, o contato sendo descrito como a saída de um estagio de “selva”
ou de “ser brabo, rústico” dos índios, para um estágio de ser manso como típico
dos brancos:“primeiro nós anda e o gado não tem, num tem nada, anda nu... meu
pai num tinha facão, tinha arco, num tinha espingarda, num tem nada, nós anda
tudo por aí na beira do rio pescando, matando bicho... E a parte do branco fica
chamando, mandando o branco na beira do rio pra amansar nós” (Benedito
Nhombeu). Ou seja, o amansamento como o aceso aos bens matérias do colonizador.
Ou ainda a discrição do primeiro contato, onde o sentido do amansar se iguala a
conhecer e a se utilizar do trabalho dos índios: ”o velho Barro que amansou e
conheceu nós primeiro... depois de manso tudo que levaro daqui é pra eles
trabalhar, pra eles sem troco de nada” (Firmino Hotxana). Mas a utilização do amansamento se presta também para
descrever a atitude indígena para com o colonizador: “nós andávamos procurando
o branco, amansando o branco” (Firmino Xit Xabat) e, portanto um processo de
via dupla onde de certa maneira duas culturas passam a se conhecer e a se
influenciar “Faz tempo os pais souberam conhecer o branco, amansar o branco”
(Maria Ora Yô). Ou a mesma utilização do termo para descrever o contato com o
Barros, primeiro seringalista conhecido: “meu pai viu os branco faz tempo, ele
andava amansando eles, amansando o Barro” (Cida Yary). E ainda nessa dimensão:
“a gente morando com a nossa mãe amansando o branco antigamente” (Vitória
Arara). Portanto a compreensão dinâmica de um “encontro” complexo entre duas
culturas, que ao não se conhecer, teriam diante de si o desafio da alteridade,
ou quem sabe o sonho de uma civilização que procura pela outra para tão somente
apenas “se saber”. Outro
aspecto que aparece como revelador do olhar do indígena
pra si próprio é a forma de como fazem uso do conceito de
“mata”, enquanto
relação com seu espaço de habitação,
isso é, enquanto “meio” e “natureza” e
nesse contexto, mediante as presenças ora da própria
comunidade indígena ora em
relação aos colonizadores. Também aí, as
ambigüidades se sobrepõem. De um lado,
a mata é o lugar distante, desconhecido, onde moravam os
índios: “foi o padre
que mostrou os índios para o SPI, antigamente, começou
andando, conhecendo os
índios, lá longe no mato, onde nós
morávamos. O padre depois nos viu aqui nos
matos, viram os nossos matos também e os branco do seringal... o
Barro...
também terminou de nos conhecer aqui ”(Procópio
Na’Xot). Por outro lado, a mata
é identificada como um antagonismo a própria aldeia
indígena: “nós morávamos
aqui mesmo, nossas mães moravam, nos criando. Nós
não vivíamos no mato... nós
não andávamos pelo mato” (Vitória Arara).
Nesse caso, no mínimo caracterizando
a famosa dicotomia natureza e cultura, e reforçando em paralelo,
também a
ambigüidade do conceito de “amansamento”. Os tempos atuais “Agora nós moramos aqui, seguros aqui, seguros nós estamos,
nós estamos falando no nosso lugar mesmo” (Maria OraYô). A fala da indígena
realça sobretudo a convicção de luta, conquista e pertencimento ao espaço
territorial. Mas certamente não isenta de problemas e ameaças os desafios do
presente e do futuro para esta etnia. Por um lado a própria demarcação
territorial da terra indígena esteve sobre ameaças, uma vez que junto com a
demarcação o governo federal através do INCRA distribuíra lotes de terras para
os colonos, dentro do território indígena. Somente após uma campanha de ampla
mobilização onde estiravam a frente em maior peso os Gavião, foi possível a
retirada de colonos, o que inclusive restou ainda em problemas, haja vista que
uma estrada que atravessa o território continua sendo utilizada pelos donos da
fazenda Palmeiral, grande latifúndio vizinho e ao que se sabe, antigo local de
habitação dos Gavião. Por outro lado o próprio desafio de convívio entre as
duas etnias se traduz em um profundo clima de mal estar pela parte dos Arara,
inclusive pelo fato de que a maior parte do território demarcado ficar
distribuída entre as aldeias dessa outra etnia, e sua população ser bem majoritária em termos de densidade (a
população atual dos Gavião é de aproximadamente quinhentos indivíduos) . Da parte dos mais velhos, resta ainda um apontar para a
insatisfação de ver fora do território demarcado as antigas malocas, onde
ficaram sepultados os pais e avos : “que ninguém parava de andar em todo canto,
agora não, hoje em dia ta tudo aqui parado, tem um bocado de maloca por aí tudo
jogada lá pra cima” (Benedito Nhombeu). O eco de saudade e dificuldade em
compreender a mudança de costumes pelo sedentarismo parece gritar ainda mais
alto, quando se vê nos locais apontados pelos Arara como antigas malocas, o
desmatamento, o pasto, o gado, as
fazendas, e as cercas de arame eletrocutadas ameaçando e denunciando o perigo
de conflito na vizinhança. E da eloqüente fala do Pedro Agamenon, a reflexão sobre
esses novos tempos, onde se configuram imagens de revolta e apreensão e que dão
dimensão de um olhar crítico sobre sua própria história: Hoje a gente ta preocupado, hoje agente ta ai no meio do
branco, naquele tempo num se falava em doença ninguém pensava de acontecer o
que aconteceu hoje com a gente, ta aí hoje ta sem terra, onde não tinha
preocupação, o índio tinha por onde ele pudesse ir pro mato caçar, ninguém
perturbava ele. Hoje você sabe que a ambição ta grande, todo mundo pro índio
quer terra, você sabe que hoje quem tem maior valor é o fazendeiro, ele tem
muito valor porque ele tem dinheiro e nós num tem e você sabe que o pobre hoje
não tem valor e tinha muito essas terra
aqui Arara, era muito índio era o único povo que tinha muito aqui (Pedro
Agamenon ) Dessa maneira, um imaginário que traduz sentimentos de
perda, de angustia, de sofrimento, de revolta, mas também ecoando vontade de
resistir, de viver dignamente. Um imaginário, como o de uma cultura que se
depara com a “queda”, mas também com a “ascensão”. Bibliografia CUNHA,
Manuel Carneiro da.(org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo,
Companhia das Letras/ FAPESP, 1992. DAVIS, Shelton. Vítimas do Milagre. Rio de Janeiro,
Zahar, 1978. DURAND, Gilbert. O Imaginário.
Rio de Janeiro, DIFEL, 1998. FREIRE, José Ribamar “Tradição Oral e memória Indígena: A
Canoa do tempo” in, América: Descoberta ou Invenção. Rio de Janeiro,
Imago, 1992. FREITAS, Edinaldo Bezerra. ”Fala de Índio, História do
Brasil: o desafio da Etno-História Indígena” in: História Oral. Revista da Associação Brasileira de História Oral,
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povo Arara: uma história de luta e resistência. Dissertação de
Mestrado, UFG, 2006. MACIEL, Laura Antunes. A Nação por um Fio. São Paulo,
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José de Souza. Fronteira: a degradação
do Outro nos confins do humano. São Paulo, HUCITEC, 1997. MEIRELES, Denise Maldi. Populações Indígenas e a Ocupação
Histórica de Rondônia. Cuiabá, UFMT, 1983. OLIVEIRA FILHO, João Pacheco de. O Nosso Governo, São
Paulo, Marco Zero/UFRJ, 1988. ______ Ensaios em
Antropologia Histórica. Rio de Janeiro, UFRJ, 1999. SILVA, Aracy Lopes da. e GRUPIONI, Luís Donisete B.(org.). A Temática Indígena na Escola. Brasília, MEC MARI UNESCO, 1995. Notas [1]Texto apresentado no XXI Simpósio Nacional de História em Fortaleza (CE) julho de 2009. O texto tem a contribuição importante de alunos bolsistas do PIBIC /UNIR 2008/9 e 209/10: André Marques da Silva e Carloline Ribeiro de Souza. [2]Professor Adjunto Departamento de História e do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade Federal de Rondônia/ Membro Pesquisador do Centro de Estudos do Imaginário Social-UNIR [3]O Projeto Karo-Ikoló foi desenvolvido a partir do ano de 2000 a 2002, com contribuição da Secretaria de Educação do Estado de Rondônia e teve como acompanhantes este autor e a antropóloga Betty Mindlin. As narrativas produzidas em língua indígena foram transcritas e traduzidas com auxilio do lingüista Nilson Gabas Jr do Museu Paraense Emílio Goeldi. |
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