|
Revista Eletrônica do Centro de Estudos do Imaginário
|
|
|
_______________________________________________________ Imaginário e alteridade: canibalismo e “willkomen” na obra de Hans Staden[1] Daiana Nascimento dos Santos, [2]
|
|||
Resenhas Biblioteca Entrevistas Primeiras Notas CONSELHO EDITORIAL Arneide Cemin Ednaldo Bezerra Freitas Valdir Aparecido de Souza |
O
presente trabalho tentará, a partir da bibliografía sugerida e também dos
libros de Hans Staden, abordar a perspectiva de um Hans Staden narrador de um
relato de aventuras do século XVI que narra sua vivência com os índios
tupinambás no Brasil. Ao mesmo tempo, percebe-se o protagonista Hans Staden com
sua própria aventura, apresentando seu relato de cativeiro e as imagens do
caníbal, que o manteve cativo por nove
meses e não o devorou, a este fato se tratará os motivos que ajudaram a sua
sobrevivência. Desta maneira, Staden constrói uma imagen de si mesmo como
cativo e cria um perfil da alteridade dos tupinambás analisadas enquanto ele esteve
cativo. Palavras-Chave:
Hans Staden, tupinambás, canibal, cativeiro Resumen El
pretendido trabajo intentará, a partir de la bibliografía sugerida y también de los libros de Hans Staden, abordar
la perspectiva de un Hans Staden
narrador de un relato de aventuras del siglo XVI que narra su vivencia al medio
de los indios tupinambás en Brasil. Al mismo tiempo, se percibe el protagonista Hans Staden con su propia aventura, presentando su relato de cautiverio y las imágenes del
caníbal, que lo mantuvo cautivo por nueve meses y no lo devoró, a este hecho se
planteará los elementos que lo ayudaron a sobrevivir. De esta manera, Staden
construye una imagen de sí mismo como cautivo y traza un perfil de la alteridad
de los tupinambás analisadas por él mientras estuvo cautivo Palabras-Clave: Hans Staden, tupinambás, caníbal, cautiverio Introdução O
presente trabalho tratará das razões que fizeram com que a prisão de Hans Staden se transformasse num
“willkomen”, o que fez com que ele não fosse devorado pelos tupinambás e
conseguisse viver com eles por nove meses, no ano de 1549, período em que
estivera aprisionado por esses índios. Por que falar de um “willkomen”? Porque
faz uma referência irônica ao comportamento que os tupinambás apresentaram ante
seu prisioneiro. O conceito do “willkomen”, parafrasea irónicamente a expressão
de boa-vinda, que no caso de Hans Staden
tem um caráter contrário ao que de fato significa e que será tratado no
decorrer do texto. Partindo
dessa base, apontarei os fatores que ajudaram Staden a manter-se vivo e
apresentarei seu comportamento enquanto
esteve cativo. Clicie Nunes (2001, p.05) no seu artigo “ Isla de Vera Cruz,
Tierra de Santa Cruz, Brasil”, afirma que não apenas Hans Staden esteve e
escreveu sobre os indígenas, Andrés Thevet, Jean de Lery e Claude d’Abanville
também relataram suas experiências. No entanto, a situação de Staden foi
encarada de maneira diferente, devido a sua condição de prisioneiro,
distanciando dos outros anteriormente citados que tiveram uma experiência de
observadores do sujeito tupinambá, más desde outra experiência. Nas seguintes
páginas, desenvolverei as particularidades que marcaram a experiência de
Staden. Sobretudo porque sua situação é considerada quase inédita, pois o
objetivo do cativeiro estava quase sempre destinado a prática de antropogafia.
Neste termo, segundo Valéria Rodrigues da Costa (2004, 123-137), no seu artigo
“Entre lo diferente y lo semejante”, a antropofagia se caracteriza pelo fato de
seres humanos comerem carne humana. Nesse
caso, Staden não foi devorado devido a alguns elementos, tais como: seus
embustes, seu comportamento um pouco covarde e também a percepção dos
tupinambás sobre a origem de Staden. No
presente trabalho apresentarei o perfil de Hans Staden, sua experiência entre
os selvagens e por fim abordare sobre sua situação de cativo e relatarei sua
sobrevivência e o que significou o “willkomen” . 1.A aventura de Hans Staden no
Brasil Hans
Staden, o artilheiro alemão, foi contratado pelos portugueses em sua primeira
viagem ao Brasil entre os anos de 1547 e 1550, depois pelos espanhóis com
destino ao Rio de Pode-se
dizer, que este livro é de grande importância para o entendimento da cultura
tupinambá e também da cultura brasileira referente ao século XVI, sendo
considerado o primeiro livro sobre o Brasil e um dos primeiros sobre o Novo
Mundo. 2. Hans Staden entre os
selvagens Os
tupinambás foram tribos que ocuparam grande parte do litoral brasileiro,
possuídores de experiências com outros povos étnicos, portugueses e franceses,
além de outros grupos tribais que estavam em constante guerra. Entretanto, eles
se destacavam por seu costume de comer carne humana. A prática da antropofagia
é citada ao longo de Viagem ao Brasil
(2007) de Hans Staden, segundo as observações e percepções que ele fez do
“outro” representado pelo índio tupinambá nos seus escritos. No entanto, esta
referência ao sujeito antropófago é tratado por Pigafetta de uma maneira que
facilita o reconhecimento do sujeito que come a carne humana de seus inimigos e
isso é facilmente observado por Staden, quando afirma que eles faziam isso para
vingar-se e não para matar a fome. A
prática da antropofagia no século XVI era muito recorrente no Novo Mundo, afirma Valéria Rodrigues da Costa ao citar
que tal prática já era percebida por Vespúcio, antes de Hans Staden (2004,
p.127) Ao mesmo tempo, Fonseca (1995) fala das impressões que o sujeito
colonial possuía do ameríndio, sobretudo dos seus costumes e de sua prática
antropofágica tão observada pelos viajantes e cronistas do século XVI. A
narrativa de Staden apresenta um narrador
preocupado em louvar e agradecer a Deus por não haver sido devorado, no
entanto, o relato faz uma representação importantíssima, ao relatar aspectos
significantes sobre a temática da antropofagia praticada pelos tupinambás: Entonces
vino aquél a quien él había sido dado para ser muerto y le pegó en la cabeza de
modo que saltaron los sesos. Después lo dejaron tirado ante la choza y querían
comerlo. Yo dije (que) no lo hicieron ( pues como él) había sido un/hombre
enfermo enfermarían ellos también. Entonces ellos no sabían qué hacer pero
salió uno de la choza en la cual yo estaba y gritó a las mujeres que hicieren
un fuego al lado del muerto y le cortó la cabeza. Pues él (el esclavo) tenía un
solo ojo y tenía mal aspecto por la enfermedad que había tenido ( por eso el
salvaje) tiró la cabeza y chamuscó la piel de cuerpo sobre el fuego. Después lo
despedazó y se repartió con los otros como es su costumbre y lo comieron
excepto la cabeza e intestinos; a éstos les tenían asco porque él había estado
enfermo (STADEN, 1944, 80) Clicie
Nunes (2001, p. 05) parafrasea o texto Viagem
à terra do Brasil de Jean de Lery, em que o autor francês narra suas
experiências no Brasil com os índios e faz referência ao cativeiro de Hans
Staden e as coincidências observadas por eles sobre o sujeito ameríndio,
posteriormente, narrados em ambos textos. 3. Hans Staden ,o cativo Quase
sempre o objeto de cativeiro é destinado à prática da antropofagia, mas o caso
de Staden revela-se como uma exceção. Clicie Nunes (2001, p.05) novamente aponta o caso
de Staden como uma relação distinta de cativeiro, pois ele consegue
sobreviver, ainda que tenha sofrido no seu período de prisioneiro com a
incerteza de ser ou não ser devorado. Tal fato relaciona-se com o
posicionamento que os selvagens mantinham frente ao prisioneiro Hans Staden,
pois em todo momento eles o ameaçavam em devorá-lo, gerando assim em Staden uma
insegurança em relação ao seu futuro. Apesar
dessa sensação de insegurança, é importante apontar que, graças a este medo e
incerteza, Staden teve condições para que ele pudesse observar melhor o sujeito
tupinambá. Nesta perspectiva, Kim Beauchesne (2004, p. 107) afirma que o medo
despertou em Staden o sentido para uma observação atenta dos atos desenvolvidos
pelos tupinambás, especialmente de caráter canibal. Dessa
maneira, pode-se construir hipoteticamente a imagen do sujeito canibal,
parafraseando Pigafetta no seu texto “Primer viaje en torno del globo” quando
narra suas impressões sobre os selvagens comedores de homens encontrados por
ele em sua breve estadia no Brasil, entre os anos de 1519-1522. Pigafetta
(2004, p. 72) constrói a imagen do canibal que come carne humana, que é valente
e que age desse maneira por vinganca. Ao
mesmo tempo, a construção da imagen do canibal feita por Hans Staden
apresenta-se numa perspectiva do branco-europeu, como pagão, revestido de
bestialidades e muito distante da cultura européia. Todas essas impressões
percebidas por Pigafetta são comprovadas por Staden na sua experiência de
cativeiro. Bolaños afirma que os traços típicos do canibal estão comumente
relacionados com a falta de ordem civil, ao passo que constrói uma imagem que
trata da condição destes comedores de carne humana, que para ele são uma
mistura de humanos, mas não civilizados, e de bestas porque comem carne humana.
Este aspecto é observado por Staden: Y
este Conian Bebe tenía delante de sí un gran cesto lleno de carne humana, comió
de una pierna, me la tuvo delante de la boca (y) me preguntó si yo quería comer
también. Yo dije: – Un animal razonable difícilmente come al
otro ¿comería entonces un ser humano al otro? Él mordió en ella (y) dijo: - Yo soy un tigreanimal. (STADEN,
1944, p. 92) Nesse
sentido, Todorov traça a imagen do canibal parafraseando as palavras de
Montaigne: Recordemos
el famoso retrato de los “caníbales” que nos ha dejado Montaigne. Es una
nación, le diría yo a Platón, en la cual no hay ninguna especie de tráfico;
ningún conocimiento de las letras…Así, pues, nos enteramos de lo que estos
“caníbales” no son, de aquellos de lo carecen; pero, ¿cómo son, en forma
positiva? Lo que Montaigne nos dice de ellos es bien pobre para alguien que se
jacta de haber trazado un retrato de los “caníbales” a partir de las
narraciones de testigos oculares. Considerando
tal comentário, percebe-se que Hans Staden é uma testemunha ocular e ninguém
melhor que ele, um sobrevivente, para falar dos canibais, apresentando suas
impressões e imagens estabelecidas por ele sobre o sujeito antropófago. Assim,
a figura do cativo Hans Staden ocupa um grande espaço na narrativa com
expressões de sofrimento e angústia,
apresentadas pelo infortúnio vivido pelo protagonista segundo a construção de
sua imagen de prisioneiro: Ellos
estaban parados en mí alrededor y me amenazaban de cómo iban a comerme. Ahora
cuando yo estaba así en gran angustia y desconsuelo, pensé sobre lo que antes
jamás consideré, es decir (sobre) el triste valle de penas en el cual vivimos
aquí. (STADEN, 1944,p. 49-50) Clicie
Nunes acrescenta ainda que a visão de Staden é produzida sob o ponto de vista
da vítima, a do possível sacrificado. Por esta razão, o ritual é narrado nesta
perspectiva, privilegiando a posição do cativo que poderia ser sacrificado a
qualquer momento. Esta atitude gera em Staden uma incerteza de ser ou não ser
devorado e o coloca em constante conflito com seus pensamentos e acontecimentos
que passam ao seu redor. 4-A ironia do “willkomen” Desta
maneira, Staden consegue manter-se vivo devido a vários embustes que favorecem
sua sobrevivência e ao mesmo tempo contribui para que ele tenha uma vivência
com os índios por nove meses. Existem
vários elementos que ajudaram Staden a não ser devorado, tais elementos são
mentiras artificiosas utilizados por ele para enganar os tupinambás, seu
comportamento covarde e também sua origen alemã. Os
embustes utilizados por Staden consistem em elementos da natureza usados para
confundir os tupinambás, que mantinham uma relação muito forte com a mãe-
natureza. Os índios acreditavam nos sinais da natureza e sabiamente Staden os
aproveitava a seu favor. Yo
estaba triste y miré la luna y pensé entre mi mismo: oh, mi Señor y Díos,
ayúdame en esta desventura a un fin bien aventurado. Entonces me preguntaron
porque yo miraba tan continuamente la luna. Les dije entonces: yo reconozco en
ella que está enojada. (STADEN, 1944, p.65) Ao
mesmo tempo, o comportamento apresentado por Staden em alguns momentos frente
aos tupinambás contribuiu para que ele pudesse se salvar. Tal comportamento é
apresentado por um Staden que, apesar de seus embustes, mostra-se também como
um medroso e covarde para o valente guerreiro tupinambá: Comencé
a cantar con ojos lagrimeantes desde el fondo de mi corazón el salmo: desde
profunda mi angustia clamo a Ti, etc. Entonces dijeron los salvajes: vean como
él grita, ahora está descontrolado. (STADEN, 1944, p.49-50) Desta
maneira, Staden consegue sobreviver devido aos elementos utilizados por ele
para esse fim, mas simultâneamente
faz-se evidente que sua prisão estabelece uma relação distinta do que na
verdade seria um cativeiro. Na sua obra, Staden apresenta outros cativos que
tiveram uma sorte diferente da sua, pois os outros foram devorados: Entonces
llevaron a los cautivos –cada uno el suyo– a su choza pero a los gravemente
heridos los arrastraron a tierra y los mataron en seguida y a su costumbre los
cortaron en pedazos y asaron su carne. Entre los que fueron asados en la noche
hubo dos mamelucos que eran cristianos. Uno era un hijo de un capitán portugués
llamado Jorge Ferrero. A ése lo había engendrado con una mujer salvaje. El otro
se llamaba Jerónimo; a ese lo había cautivado un salvaje que era de la choza en
la cual yo estaba y su nombre era Paraguá. (STADEN, 1944, p. 88-89) O
cativeiro de Hans Staden transforma-se em um tipo especial de prisão, pois ele
não é devorado pelos selvagens e sua situação de prisioneiro vai mudando
ironicamente, pois os tupinambás mantinham outro tipo de relação com Staden. Assim,
com o tempo, a relação dos selvagens com Staden ganha outro tom, parodiando a
“boa-vinda” dos tupinambás em relação ao seu prisioneiro que passa a ter um
comportamento contrário de um verdadeiro cativo. Ele começa a circular
livremente entre os nativos, desenvolvendo um comportamento com elementos
distintos daquele que tinha quando foi
aprisionado. Desta
maneira, o “willkomen”, ou seja, a boa-vinda, pode ser observado em várias
situações apresentadas por Staden ao longo de sua obra. Pode-se caracterizar
inicialmente este “willkomen” quando os tupinambás perceberam que Staden não
era português, como pensavam anteriormente. Tais elementos estão relacionados
com o vínculo de amizade que Staden mantinha com seu Deus, assim como a cor da
barba, diferente dos portugueses, que as tinham quase sempre de cor negra,
Staden por sua vez, a tinha de cor ruiva, e também, pode-se acrescentar a
amizade com os franceses, por isso a situação de Staden estava mudando e os
nativos já não pensavam nele como um português: Así
también ya hemos tenido y comido algunos portugueses pero su Dios no se enojó
tanto como el tuyo. En este conocemos ahora que tú no debes ser un portugués. (STADEN,
1944, p. 70-71) Dessa
forma, ao dar-se conta que Staden não era português, pensaram então que, na
verdade, ele poderia ser francês. É importante dizer que, para os tupinambás,
apenas existiam portugueses e franceses. Os portugueses viviam em constante
guerra com os tupinambás e os franceses por outro lado, mantinham uma boa
relação comercial e de aparente amizade com eles. Desta maneira, Staden
aproveita essa boa relação dos franceses com os tupinambás para fazer de seus
planos uma realidade: Y dije entonces (que) yo había ordenado a mi
hermano que él viere de escaparse de los portugueses y fuere a nuestra patria y
trajese un buque con muchas mercaderías y me buscara pues vosotros eráis rectos
y me tratabais bien lo que yo quería premiar cuando viniese el buque. Y en todo
el tiempo tuve que hacerles creer así lo mejor y esto les afectó mucho. Después
decían entre ellos: él debe ser de seguro un francés, de aquí en adelante
tratémoslo mejor. (STADEN, 1944, p. 79) Ao mesmo tempo, os tupinambás pensavam que
Staden mantinha uma relação íntima com seu Deus, pois quase sempre as orações
de Staden eram seguidas coincidentemente por alguma expressão da natureza,
interpretada pelos índios como uma intervenção de Staden diretamente com seu
Deus: Yo había hecho una cruz de un palo y (la
había) erigido delante de la choza en la cual yo estaba; ante ella hice muchas
veces mi oración al Señor y yo había ordenado a los salvajes que no la sacaran;
de ello podría sobrevenir alguna desgracia pero ellos despreciaron mi plática…
Poco después comenzó a llover mucho y duró varios días. Ellos vinieron a mi
choza y pidieron (que) yo hiciere con mi Dios que la lluvia cesara porque si no
cesaba, impediría realizar sus plantaciones pues era su tiempo de
plantación.(STADEN, 1944, p. 94-95) Além disso, Staden começa a participar de
algumas atividades desenvolvidas pelos tupinambás na sua vida cotidiana,
demonstrando que os nativos já começaram a vê-lo de outra forma: Estuve parado
con uno que también era uno de los principales, llamado Paragua que había asado
el Jeronimo. Este y otro más y yo estábamos parados y pescábamos. (STADEN,
1944, p. 95) É necessário dizer que durante seu
infortúnio, Staden pôde desenvolver suas observações, traçando ao mesmo tempo
um perfil do canibal, que Todorov apresenta sob a perspectiva de Vespucio e que
se repete em Staden: La sociedad de los salvajes, según Américo
Vespucio, se caracteriza por cincos rasgos: carencia de vestimentas; ausencia
de propiedad privada; ni jerarquía ni subordinación; inexistente de
prohibiciones sexuales: carencia de religión; y todo eso se encuentra resumido
en la fórmula: “Vivir conforme a la naturaleza. (TODOROV, 2003, p. 308) A medida que o perfil do canibal foi
construído, são apresentados os elementos que fazem referência a antropofagia e
ao sujeito cativo, neste caso, exemplificado por Hans Staden. Ainda que tenha sobrevivido, sua história
deixa um vazio, ao tratar do tema da antropofagia, pois no seu caso, houve
cativeiro, mas não a prática da antropofagia em si, já que sabemos que ele pôde
voltar para a sua terra e relatar seu infortúnio. De todas as maneiras, os elementos
relacionados ao “willkomen” de Staden lhe ajudaram a sobreviver e fazer de si
um sujeito heróico, um sobrevivente que apesar dos sofrimentos, pôde voltar às
suas origens e relatar suas impressões e experiências no Brasil do século XVI. Ao terminar este trabalho, faz-se claro que
efetivamente a prisão de Hans Staden o manteve como um “willkomen” ironicamente
considerado na perspectiva de que não houve a prática da antropofagia Ao mesmo tempo, tratou-se das inquietações
que se apresentaram na sua posicão de cativo e da diferença entre sua situação
e a de outros prisioneiros que tiveram um fim diferente do seu, por isso é que
o caso de Staden gera tantas discussões e o caracteriza como uma exceção ao
tratar de cativeiro. Assim, o caso do “willkomen” que sucedeu com Staden
contribuiu para que ele conseguisse sobreviver, visto que o “willkomen” estava
baseado na mudança de sua situação de prisioneiro, apresentando a idéia de que
alguns elementos que foram tratados ao longo do texto foram de grande ajuda a
sobrevivência de Staden, assim como o caso do “willkomen” em si. Desta maneira, pode-se caracterizar o uso
irônico do termo, num novo olhar que os tupinambás dão à sua vítima, pois é
assim que começa o fio de esperança de Hans Staden em sobreviver a seu
infortúnio entre os selvagens brasileiros e, por fim, voltar para a sua terra
natal e poder escrever sua aventura vivida entre estes nativos do Brasil do
século XVI. Além disso, pode-se dizer que este trabalho
contribui efetivamente para o estudo da prisão de Hans Staden, traçando os
supostos motivos que fizeram dele um sobrevivente e uma exceção no tema de
cativeiro no cenário geral do século XVI. Assim, pode-se acrescentar
informações sobre os primeiros habitantes do Brasil Colonial e sua trajetória
como um povo valente, forte, canibal, mas com uma postura capaz de proporcionar
um “willkomen”, gerando, nessa perspectiva, futuros estudos sobre sua
idiossincrasia como protagonistas de um “willkomen”, apesar de ser, na prática,
antropófagos no passado. STADEN,
Hans. Viagem ao Brasil. Sao Paulo: Martins Claret, 2007. STADEN, Hans. Vera historia y descripción de un país de las salvajes
desnudas feroces gentes devoradoras de hombres situados en el nuevo mundo de
América. Buenos Aires: Coni, 1944. Secundaria BEAUCHESNE,
Kim. La política del comer en Jean de
Lery. Revista de Crítica Literaria Latinoamericana. Año XXX, N.60,
Lima-Hanover, Semestre de 2004, 99-119. BOLAÑOS,
Álvaro Félix. Antropofagia y diferencia cultural: construcción retórica del
caníbal del nuevo Reino de Granada. Revista Iberoamericana (Pittsburgh).
Vol. LXI. Enero-Junio 1995. n. 170-171. Número especial dedicado a Literatura
Colonial: “Identidades y conquista en
América”. COSTA,
Váleria Rodrigues da. Entre el diferente y lo semejante: un viaje
antropológico. Revista de Crítica Literaria Latinoamericana. Año XXX, n.
60, Lima-Hanover, 2do Semestre de 2004, 123-137. FONSECA,
Pedro. Primeiros encontros com a antropofagia ameríndia: de Colombo a
Pigaffeta. Revista de Crítica Literaria Latinoamericana. Año XXX, n. 60,
Lima-Hanover, 2do Semestre de 2004, 123-137. NUNES, Clicie.
Isla de Vera Cruz, Tierra de Santa Cruz/Brasil. Revista Acta Literaria.
Año 2001, N. 26, Concepción, 131-143. PIGAFETTA,
Antonio. Primer viaje en torno del globo. Madrid:
Espasa, 2004. TODOROV,
Tzevetan. Sobre las buenas costumbres de los otros. Em: “Nosotros y los otros”.
Buenos Aires: Siglo XXI, 2003. 305-318. Biografia da autora: Nasci
em Ibirataia, Bahia, sou graduada em Letras pela Universidade Estadual de Santa
Cruz em Ilhéus, Bahia. Atualmente sou aluna do Mestrado em Literatura da
Universidad de Chile em Santiago, Chile. Tenho trabalhos apresentados em alguns
eventos nacionais e internacionais; ainda não tenho artigo publicado; más tenho
resumos publicados nos anais dos eventos que participei em Cascavel, PR
(Seminário Nacional de Literatura e História), Valparaiso, Chile (Conferencia
Internacional La literatura y las ciudades), Santiago, Chile (Jornada
internacional de estudiantes de postgrado en Humanidades). Sendo que os dois
primeiros eventos apresentei o seguinte trabalho: El caso del “willkomen” de
Hans Staden entre los indios tupinambás en Brasil. No último evento apresentei
um trabalho sobre minha proposta de dissertação: La loz y el martillo en la
escritura de Jorge Amado. Falo inglés, español e um pouco de alemão. Desenvolvi
um projeto voluntário de leitura em Ibirataia, Bahia, chamado “Garagem da
Leitura”. Santos.daiana@bol.com.br ; daianacold@gmail.com Notas
[1] Trabalho apresentado como proposta final do curso “La reinvención de América Latina en la literatura de viajes” do Programa de Mestrado de Literatura da Universidad de Chile [2] Graduada em Letras pela Universidade de Santa Cruz em Ilhéus, Bahia, Brasil e aluna do Programa de Mestrado em Literatura da Universidad de Chile
|
||
|
|||
CEI - UNIR Todos os Direitos Reservados. |
|||
|