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O uso ritual da ayahuasca em centros urbanos
 


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Antônio Rogério Toscano*

 

A antropóloga Beatriz Caiuby Labate, ou Bia Labate, como é mais conhecida, 34, dedica-se ao estudo do uso da ayahuasca, uma bebida sagrada de comunidades indígenas amazônicas, preparada com a mistura do cipó jagube, ou Banisteriopsis caapi, e da folha chacrona, ou Psychotria viridis, popularmente conhecida como chá do Santo Daime ou Hoasca, e sua progressiva transferência para centros urbanos, nas últimas décadas.

Responsável pela organização de um congresso internacional sobre a ayahuasca no Brasil, o I Congresso sobre o Uso Ritual da Ayahuasca (I CURA), realizado na Unicamp, em 1997, a estudiosa lançou em 2004 o livro “A reinvenção do uso da ayahuasca nos centros urbanos” (Ed. Mercado de Letras / FAPESP, 2004). 

As pesquisas dedicadas à beberagem vêm ganhando força nos meios acadêmicos brasileiros nos últimos anos. A discussão extrapola a complexa questão das drogas ilícitas. A ayahuasca é atualmente liberada para fins rituais, desde a primeira determinação do extinto CONFEN – Conselho Federal de Entorpecentes – de 1986, reafirmada pela CONAD em 2004, e se torna um abrangente campo de observação científica de contextos religiosos e terapêuticos.

Afiada nas respostas, pronta para o debate, a especialista reconhece a dificuldade de lidar com um assunto polêmico como a inserção da bebida nas cidades do Sudeste do Brasil e para fora do país. Formada pela Unicamp, participou da organização da volumosa coletânea intitulada “O uso ritual da ayahuasca” (2002/2004 2ª ed.), que conta com artigos dos maiores investigadores científicos sobre o “enteógeno” (propriedade atribuída à ayahuasca como sacramento religioso, por sua capacidade de elevar ao transe místico).

ART _ Como você chegou aos estudos sobre a ayahuasca?

BCL _ Conheci a ayahuasca no final de 1996 e me fascinei. Viajei para o Acre, onde surgiu, na década de 30, a primeira das religiões ayahuasqueiras brasileiras, o Santo Daime, criada por Raimundo Irineu Serra, o Mestre Irineu. Fiquei quarenta dias por lá. Então, tive a inspiração de organizar um congresso internacional que abordasse os aspectos legais, psiquiátricos, antropológicos, históricos e médicos sobre o uso desta planta. Propus a idéia ao Departamento de Antropologia da Unicamp e consegui apoio também da Faculdade de Medicina, através do Departamento de Saúde Mental, e organizei, no final de 1997, o I CURA. 

ART _ O que aconteceu no I CURA (I Congresso sobre o Uso Ritual da Ayahuasca)?

BCL _ Foram dois dias, com mesas redondas e conferências, além de uma programação paralela de vídeos. O produto do encontro foi o livro que organizei, “O uso ritual da ayahuasca”, uma antologia de 26 artigos escritos por pessoas de sete países diferentes. Esse livro é meu grande xodó, porque representou um esforço de articulação e de sistematização muito grande. A editora condicionou a publicação ao apoio da FAPESP, e isso demorou um ano e meio para acontecer. O livro foi para cinco pareceristas diferentes, e todos entregaram o material de volta, em branco. Foi um processo difícil e longo, no total cinco anos. Mas esta aí, é um livro produto do seu tempo, uma reunião dos principais escritos sobre o tema no Brasil. Espero que contribua para dar uma legitimidade acadêmica a este assunto e sirva como base para novas pesquisas – que, aliás, não param de se multiplicar em diversas áreas, como psicologia, jornalismo, na própria antropologia etc.

ART _ Durante o CURA, consta que foi realizado um trabalho espiritual com a ayahuasca. A Unicamp aprovava que ocorresse dentro de um congresso acadêmico patrocinado por ela uma sessão com um psicoativo?

BCL _ Em uma das noites houve trabalho da linha do Santo Daime - CEFLURIS [Centro Esotérico da Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra], comandado por Alex Polari. Creio que a realização da cerimônia não implicava em maiores problemas pois era extra-oficial, fazia parte de uma agenda “paralela” ao evento. Tinha um caráter ecumênico e foram convidadas pessoas de diferentes linhas religiosas ayahuasqueiras, como a União do Vegetal (UDV). Também foram convidados os professores do departamento – mas, pelo que me lembro, acho que nenhum foi. Foi uma iniciativa dos alunos da Unicamp inspirada pela tradição de congressos nessa área. Era o “congresso real” para os participantes do evento, que consideram tomar o Daime um “estudo”: vou “estudar”, vou “meditar”, dizem.

ART _ Nesta época, você já estudava cientificamente a ayahuasca?

BCL _ Não. Quer dizer, talvez... Eu passei o ano inteiro montando o evento e juntando material, lendo, conhecendo pesquisadores, fazendo viagens, freqüentando rituais. Quando estava no congresso – ou logo depois, não me lembro bem –, foi sugerido a mim que estudasse ayahuasca. No início pensei que não devia, que ayahuasca não era para ser estudada e sim para ser vivenciada. Achava a idéia de uma pesquisa acadêmica sobre este assunto impossível e arrogante. Era uma coisa que tinha a ver com a dimensão misteriosa, do inefável... Mas eu já estava de fato estudando a literatura e analisando tudo na minha cabeça. Tinha conhecimentos acumulados e muita curiosidade. No final, este tema acabou tornando-se meu mestrado. 

ART _ No meio acadêmico, seus parceiros cientistas implicam com uma antropóloga que bebe a ayahuasca?

BCL _ A Antropologia está acostumada com todas as esquisitices. Muitos antropólogos tradicionalmente têm uma relação íntima com seus “objetos”, sendo muitas vezes eles mesmos praticantes, simpatizantes, porta-vozes e militantes, além de teóricos destes campos de estudo. A fauna de antropólogos é bem curiosa, muitos adotam uma estética indígena ou o estilo de vida do grupo que pesquisam, levantam entusiasmadamente bandeiras políticas (algumas até excêntricas), vivem intensamente realidades paralelas à nossa. Tanto é que às vezes os cientistas políticos e os sociólogos tiram um pouco de sarro dos antropólogos.

ART _ Mas os acadêmicos não consideram a ayahuasca uma droga?

BCL _ Bom, é verdade, você tem razão. Estou simplificando um pouco. Com certeza o tema da ayahuasca é um pouco marginalizado dentro da antropologia – não há uma tradição de estudos sobre a ayahuasca como existe sobre índios, classe social, cultura popular ou gênero. Podemos dizer que se trata de um campo de estudos emergente. Aliás, sabemos que o tema das “drogas” é um grande tabu na sociedade em geral, e na academia não é diferente. No campo teórico, parece não ter o status de objeto legítimo. Acho que o desafio é por um lado relacionar o “uso da ayahuasca” aos grandes debates e problemas conceituais das ciências sociais, e por outro, cavar um nicho específico para os estudos sobre psicoativos que leve em conta diferentes contribuições e perspectivas nas ciências humanas. Estes fenômenos não costumam ser “problemas menores”, mas centrais para entender vários aspectos da conduta humana, tanto em sociedades tradicionais quanto nas modernas.

ART – Em que sentido você afirma que as drogas são um tabu?

BCL _ O tema das drogas em geral é visto a partir de uma certa hegemonia da medicina. Há também o idioma criminalizador e moralizante dos campos do direito e da religião. A Organização Mundial da Saúde define como “droga” qualquer substância que “modifica uma ou mais das funções do organismo, excluindo-se aquelas substâncias necessárias para a manutenção da saúde normal”. Essa definição pode abarcar um número vasto e indefinido de substâncias, conforme as contingências e os pontos de vista. É justamente este jogo de classificações que move tantas paixões e dinheiro. Há substâncias com baixo grau de toxicidade (como os alucinógenos) que são ilícitas e outras com alta capacidade de causar dependência que são lícitas (como o álcool e o tabaco). Historicamente, o que uma época considerou “droga”, outra considerou “remédio”, o que uma via como necessidade, outra definiu como luxo. Mesmo sem uma eventual precisão farmacológica (que por si só ainda seria insuficiente), a medicina trata as drogas como um “problema”, partindo do pressuposto de que o uso representa uma “patologia”. Profissionais da medicina dificilmente reconhecem um uso “positivo” das “drogas”, tendendo a ver o prazer como “anti-natural”, “artificial”, “ilusório”, produto de um “engano químico”. Enfim, a medicina, a religião e o direito articulam o "biopoder" em relação aos fármacos. Mas, como sabemos, as “drogas” movem as sociedades, não só do ponto de vista econômico, como também político, estético, existencial etc.

ART _ Na reedição do livro O uso ritual da ayahuasca houve uma ampliação, a inclusão de um novo artigo, “As Matrizes Maranhenses do Santo Daime”. O que você foi buscar no Maranhão?

Redigi o artigo com o pesquisador Gustavo Pacheco, um amigo que é um especialista em música e em religiosidade afro-maranhense. Fomos juntos para a terra natal do Mestre Irineu, São Vicente Férrer. A idéia era somar os meus conhecimentos sobre o Daime com os conhecimentos dele sobre as diversas manifestações religiosas e lúdicas da região onde o fundador da religião nasceu. Existe uma tendência a se encarar o Daime a partir do referencial da cultura acreana, do encontro do seringueiro com o migrante nordestino que vem para a Amazônia nos seus vários ciclos da borracha, da herança das tradições xamânicas, do curandeirismo amazônico e do catolicismo popular, mas quase nada foi dito sobre as influências da religiosidade afro ou das vertentes especificamente maranhenses do catolicismo popular sob a formação do imaginário do Santo Daime. Esses elementos até apareciam aqui e ali, mas, em geral, bem dispersos, diluídos e pouco explorados. 

ART _ E quais foram as influências identificadas?

BCL _ Neste artigo, contemplamos as influências do Tambor de Mina e da pajelança na formação do Santo Daime. Também sugerimos que há proximidade com elementos da Festa do Divino Espírito Santo e com o baile de São Gonçalo na estrutura de algumas cantigas, na melodia e no próprio conteúdo das letras. Algumas categorias daimistas têm provavelmente aí parte de seu nascedouro.  Uma descoberta interessante e nova é a semelhança, quase igual, da farda do Santo Daime com a farda do baile do São Gonçalo maranhense. No livro há fotos, que estão também no nosso site, do NEIP (Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos, www.neip.info). Verificamos que, historicamente, o Mestre Irineu acrescentou o uniforme branco em 1957, após a sua viagem ao Maranhão – estava em curso, ainda, o processo de consolidação do conjunto simbólico e ritual do Santo Daime, que se iniciara cinqüenta anos antes.

ART _ Qual é o objeto do seu livro A Reinvenção do Uso da Ayahuasca nos Centros Urbanos?

BCL _ O que denominei de “neo-ayahuasqueiros urbanos”, novos grupos que usam a ayahuasca nas grandes cidades do Brasil. A grande maioria é dissidente do Santo Daime e da UDV [religião ayahuasqueira surgida em Rondônia, a partir de José Gabriel da Costa, o Mestre Gabriel, nos anos 60]. A UDV chegou em São Paulo no final da década de 1970 e, no início da década de 80, surgiu uma igreja daimista no Rio de Janeiro. Uma vez que estas religiões saíram da região amazônica e se instalaram nos grandes centros urbanos, sofreram ajustes diversos. Surgiram depois os grupos dissidentes, bastante influenciados por seus referenciais de origem, mas também pelas trajetórias de seus líderes, pelos seus contextos urbanos. Esses novos pequenos agrupamentos passaram a se organizar e a incorporar nos rituais elementos como as terapias holísticas e as práticas de curas alternativas, as artes, orientalismos diversos, símbolos e práticas do universo new age, assim como o ativisimo político e outras fontes, reapropriando-as sempre de acordo com suas próprias leituras. 

ART _ Qual é a relação desses novos grupos com as matrizes?

BCL _ Argumento no livro que os novos grupos têm uma relação ambígua com as matrizes das quais derivam, porque se apropriam de vários símbolos e rituais ao mesmo tempo em que rejeitam as instituições das quais são originários. Os neo- ayahuasqueiros reivindicam uma continuidade com o Santo Daime e a UDV, que são identificados com a “tradição” e possuem certa legitimidade social, mas também afirmam a sua diferença, a sua especificidade e, em certa medida, sua “evolução” em relação às matrizes. Houve conflitos e rupturas entre alguns grupos, mas, também há trocas... são todos, digamos, parentes.

ART _ Há uma expansão no uso da ayahuasca no Brasil?

BCL _ Falar em expansão do uso da ayahuasca é muito complicado, porque não existe um censo oficial. No meu livro, mapeei o consumo da ayahuasca em São Paulo e identifiquei mais de trinta grupos; Sandra Goulart, em sua tese de doutorado, fez um censo sobre as principais religiões ayahuasqueiras – mas estes dados tendem a se desatualizar rapidamente [ver: Goulart, Sandra. Contrastes e Continuidades em uma tradição amazônica: as religiões da ayahuasca. Tese de Doutorado em Ciências Sociais, Unicamp, 2004]. O campo é dinâmico, há uma circulação muito grande de pessoas, além da criação constante de novos agrupamentos. Por um lado há uma expansão, mas por outro talvez seja mais correto pensar numa diversificação. A UDV é o grupo que mais cresce, já são mais de dez mil adeptos.  Eles costumam dizer que a expansão está ocorrendo de maneira “lenta, progressiva e segura”, e parece que é isto mesmo. A instituição tem uma política rígida de replantio (do cipó e da folha, matérias-primas com as quais se faz o chá). Para se tornar um núcleo oficial da UDV, você tem que ter uma certa quantidade de cipó e de folha plantados. Ou seja, a UDV expande na medida em que pode repor o material orgânico gasto. Isto vem ao encontro a uma reivindicação do Ibama, que baixou recentemente uma portaria tentando regulamentar o extrativismo do cipó e da chacrona no Brasil. 

ART _ Como você vê a expansão do Santo Daime e da União do Vegetal para o exterior?

BCL _ Com muita curiosidade e simpatia. É interessante observar como o Santo Daime e a UDV estão promovendo uma colonização ao contrário, o novo mundo chegando no velho, o caboclo sendo cultuado como “mestre”. Este fenômeno ainda foi muito pouco estudado. Uma faceta mais evidente seria pesquisar como estas práticas estão sendo – para usar o mesmo termo que apliquei aos neo- ayahuasqueiros – ‘reinventadas’ no exterior. Alguns dos hinários (conjunto de cantos) do Daime já foram traduzidos para o inglês e há hinos sendo “recebidos” em espanhol, japonês, holandês etc; há misturas com práticas dos índios norte-americanos, dos sannyasins (seguidores do guru Osho) e com outras tradições de uso de substâncias pscioativas – tudo isto constitui rico material de pesquisa. Existem estrangeiros que freqüentam o Céu do Mapiá, a sede central do Santo Daime na floresta amazônica, há mais de uma década, e alguns possuem até casa própria lá. Talvez possamos dizer que o Juruá (região isolada onde estão sendo abertas novas comunidades daimistas) seja mais freqüentado por estrangeiros do que pelos daimistas da região sudeste do Brasil. Alguns dirigentes estrangeiros são respeitados como lideranças inclusive no próprio Mapiá. Durante o festival (período do ano em que há uma concentração de vários rituais, nos meses de junho e dezembro), há tradução simultânea das preleções (palestras com conteúdo espiritual realizadas durante as cerimônias) para o inglês. Enfim, estrangeiros perfeitamente “daiminizados” e o Santo Daime bastante “estrangeirizado”. Esta última dimensão é interessante e menos evidente, quer dizer, pensar em que medida a adesão dos povos do primeiro mundo está transformando o próprio Santo Daime. Os daimistas costumam integrar “comitivas” que vão ao exterior para conduzir os “trabalhos”, “firmar” as igrejas filiais e “ensinar” os estrangeiros. Como pensamento inicial, podemos sugerir que estaria sendo criada uma classe de especialistas religiosos dentro da irmandade. Aquilo que antes fazia parte de um determinado senso comum, do dia-a-dia dos daimistas – conhecer os hinos, saber cantar e tocar – está sendo apropriado como um “conhecimento” e, em certa medida, valorizado como mercadoria. Isto afeta os processos de aprendizagem e de socialização, assim como as relações sociais locais. Mas um dos problemas para o campo de estudos da expansão destas religiões para o exterior é que em alguns países a ayahuasca não possui status legal definido. Por outro lado, o próprio processo de legalização é outro grande tema de interesse – e especialmente relevante na medida em que inserido na discussão mais ampla sobre o consumo de drogas, tráfico internacional etc. No geral, o Santo Daime e a UDV têm tido sucesso em provar que se trata de bona fide religions, mas a questão do uso do “alucinógeno” permanece, em muitos casos, um problema.

ART _ Qual a sua visão sobre a última resolução da CONAD, de 2004, em que se confere um estatuto legal ao uso ritual da ayahuasca?

O uso ritual da ayahuasca já tinha sido reconhecido pelo extinto Confen (Conselho Federal de Entorpecentes) como prática legítima em 1986 e a decisão foi reafirmada em 1992. A resolução de 2004 consolida as conquistas históricas anteriores, reconhecendo a legalidade do uso da bebida, agora com força maior – espera-se que de maneira mais definitiva – na medida em que o documento foi assinado por um ministro. Além disto, a resolução trouxe um importante avanço: reconheceu o uso da ayahuasca por menores e por grávidas como sendo um direito de decisão dos pais, inserindo a questão no âmbito do “poder familiar”, ou seja, diz respeito à família e não cabe ao Estado opinar sobre isto. O texto também sugere a realização de pesquisas científicas sobre a ayahuasca, abrindo assim uma eventual brecha para futuros usos terapêuticos. A resolução estabeleceu, ainda, que haverá um grupo de estudos multidisciplinares para “levantar e acompanhar o uso religioso da ayahuasca”, e fazer um “cadastro nacional de todas as instituições”. Este grupo será formado por seis estudiosos (que já foram indicados pelo governo) e seis representantes dos grupos usuários da ayahuasca, que serão eleitos por eles mesmos no segundo semestre de 2005, num seminário a ser realizado em Rio Branco (AC). O grupo de trabalho proposto pelo governo parte do pressuposto correto de que a voz dos usuários deve ser respeitada, mas acho que devemos acompanhar as atividades desta comissão com cautela, entendendo em primeiro lugar qual é o objetivo de se “cadastrar” os grupos ayahuasqueiros, e tomando cuidado também para que nem a CONAD nem outro órgão tentem passar a ingerir nas questões próprias do campo, como a organização ritual e simbólica dos grupos ou a criação de burocratizações desnecessárias. A meu ver, o Estado deve aproveitar a oportunidade para regulamentar as instâncias que têm dificultado a vida dos grupos ayahuasqueiros, como é o caso da ausência de documentação relativa à exportação da ayahuasca ou da acusação nebulosa – não confirmada – de que alguns estrangeiros têm tido seus vistos de entrada no país negados quando afirmam que têm como propósito tomar Daime. Apenas assim avançaremos no reconhecimento da legitimidade destas práticas.

 (*) Antônio Rogério Toscano, 33, é dramaturgo e pesquisador. É doutorando em Artes Cênicas pela ECA/USP e estudante do curso de jornalismo da Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero.

 

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