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Revista Eletrônica do Centro de Estudos do Imaginário
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_______________________________________________________ Marta Valéria de Lima(1)
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Resenhas Biblioteca Entrevistas Primeiras Notas CONSELHO EDITORIAL Arneide Cemin Ednaldo Bezerra Freitas Valdir Aparecido de Souza |
Resumo:
Este trabalho versa sobre a questão de gênero e sucessão sacerdotal em
um antigo terreiro de Tambor de Mina de Porto Velho-RO, onde não ocorre a
predominância de uma gerontocracia feminina, conforme acontece em outros
terreiros de Tambor de Mina do Brasil. Neste terreiro a sucessão é de
casais. O objetivo é tentar explicitar as razões da diferenciação do
sistema sucessório do Barracão de Santa Bárbara em relação às suas
matrizes religiosas africanas (jeje-yorubá). Palavras-chave:
Tambor de Mina, gênero, sucessão sacerdotal. I - Introdução: uma explicação necessária O
campo da religiosidade afro-brasileira é amplo e complexo, consistindo de
um conjunto bastante diversificado de modelos de culto que vêm sendo
estudados por especialistas das religiões de diversas áreas do
conhecimento. Os rituais de Umbanda, Candomblé e Batuque têm sido
fartamente investigados. É enorme a lista de publicações que contêm
informações a respeito deles. Há, porém, outros modelos que formam o
campo da religiosidade afro-brasileira que são pouco conhecidos. É o
caso do Tambor de Mina. Este
trabalho tem o objetivo de discutir a questão de gênero e o sistema
sucessório na chefia religiosa do Barracão de Santa Bárbara, o
mais antigo terreiro da cidade de Porto Velho-RO, no qual se pratica os
rituais do Tambor de Mina. Para tanto o texto está assim
estruturado: inicialmente farei uma exposição sobre o Tambor de Mina de
um modo geral, procurando defini-lo e explicá-lo; em um segundo momento
discorro sobre a presença do Tambor de Mina em Rondônia destacando a
história e a estrutura do Barracão de Santa Bárbara; em um terceiro
momento, falo a respeito da participação da mulher nas religiões
afro-brasileiras e na estrutura sacerdotal do Tambor de Mina; em seguida,
apresento o sistema de sucessão na chefia religiosa do Tambor de Mina,
apresentando a estrutura sacerdotal do Barracão de Santa Bárbara,
discutindo o seu modelo de sucessão sacerdotal e apresentando hipóteses
explicativas para jusficar as suas especificidades em relação à
estrutura sacerdotal dos terreiros de origem jeje-nagô . 1.
Tambor de Mina: definições, conceitos e explicações No
Dicionáio de Cultos afro-brasileiros (Cacciattore, 1988:234) consta que
Tambor de Mina é o nome que é dado aos cultos de ritual daomeano no
Maranhão. Roger Bastide (1989:256-266), ao discorrer sobre os rituais
afro-maranhenses, afirma que à tradição daomeana de cultuar os voduns
foram acrescentados elementos da tradição indígena e do kardecismo e
que aos voduns uniram-se os caboclos
e os encantados. Pierre
Verger (1999:35-40) explica que a utilização do termo vodun predominou
entre os escravos oriundos do Daomé e pertencentes ao tronco fon.
Portanto, voduns é a expressão que designa entidades espirituais de
origem daomeana presentes no Tambor de Mina. Os
rituais do Tambor de Mina distinguem-se dos rituais da Umbanda e do
Candomblé, principalmente, mas não exclusivamente, pela incorporação
de voduns no corpo dos devotos iniciados, por sua homenagem no
ciclo de festas e rituais e ainda por se constituírem no conjunto de
divindades que ocupam o lugar mais elevado na hierarquia espiritual dos
terreiros que o adotam como modelo religioso. Mundicarmo
Ferretti (2000:25) diz que o Tambor de Mina é um modelo religioso que se
estrutura da seguinte maneira: "O Tambor de Mina é estruturado a
partir de modelos identificados como "nações" ou diversas
tradições culturais africanas (jeje, nagô, cambinda, fanti-ashanti),
modelos estes que são seguidos com grande rigidez por alguns terreiros e
que são fundidos, reelaborados, ou mesmo quase abandonados por outros. No
Tambor de Mina são cultuadas e recebidas, em transe, entidades
espirituais africanas (voduns e orixás) e entidades espirituais que começaram
a ser conhecidas pelos negros no Brasil (gentis e caboclos)". Os
estudos realizados por Sérgio Ferretti (1985: 269-271) informam que
Tambor de Mina é uma religião afro-brasileira que se formou no Maranhão
e que a Casa Grande das Minas e a Casa
de Nagô foram fundadas por negras africanas em meados do século XIX.
Estas casas funcionam até hoje e são as matrizes culturais do Tambor de
Mina. É
ainda Sérgio Ferretti quem nos explica que numerosos terreiros de São Luís
adotaram o Tambor de Mina como modelo ritual, havendo grande diversidade
de origens e formas de organização. De acordo com este pesquisador,
muitos destes terreiros foram fundados por pessoas amigas da Casa das
Minas. É o caso do Terreiro de Turquia, fundado por Anastácia dos Santos da cidade de
Codó, e do Terreiro do Egito (Ilê-Nyame),
fundado por Basília Sofia (Massinoko Alapong). Esses terreiros deram
origem a muitos outros, abertos por pessoas preparadas por estas
fundadoras ou por suas sucessoras, contribuindo assim para a difusão da
tradição mina não somente na cidade de São Luís, mas também em áreas
geográficas localizadas dentro e fora do território maranhense. Foi por meio desse processo de difusão cultural que o Tambor de Mina alcançou o estado de Rondônia, sendo trazido por migrantes nordestinos oriundos do Pará, Amazonas e também do Maranhão. O primeiro terreiro de Tambor de Mina fundado nessa região surgiu na cidade de Porto Velho, denominava-se Recreio de Yemanjá e adotava o sistema ritual conhecido como mina-nagô. O
Recreio de Yemanjá se popularizou com o nome de Barracão de Santa Bárbara
e constitui a matriz cultural do Tambor de Mina em Rondônia(2).
É um terreiro que chama atenção por adotar um modelo religioso
afro-brasileiro ainda pouco conhecido e também por ter sido pouco
explorado como objeto de investigação pelos pesquisadores que se dedicam
ao estudo da cultura afro-brasileira na região amazônica. A
investigação indica que houve uma forte influência da cultura
jeje-yorubá na formação da identidade religiosa de Porto Velho. Vários
membros do Barracão de Santa Bárbara fundaram bancas, searas e
terreiros, onde atuaram e ainda atuam como agentes de cura, realizando
as mesmas práticas rituais que lhes foram ensinadas pelos dirigentes do
terreiro mencionado. Isso permitiu a irradiação desta influência da
tradição mina-nagô não somente em Porto Velho, como também para
outras localidades. Guajará Mirim (RO) e Humaitá (AM) podem ser citadas
como exemplo. A difusão desta herança cultural e a sua visibilidade
social foram maiores no período que vai dos anos 1930 até os anos 1970. 2. As fontes No
período que antecedeu a década de 1980 os estudos sobre o Tambor de Mina
eram esporádicos, poucos trabalhos foram divulgados e os que foram
publicados se tornaram referências obrigatórias para os pesquisadores
interessados neste tema, dentre eles podem ser citados os trabalhos de
Manoel Nunes Pereira (1948/1977), sobre a Casa das Minas; Otávio da Costa
Eduardo (1948), sobre o negro no Maranhão; o relatório da Missão Folclórica
Mário de Andrade que foi publicado por Oneyda Alvarenga (1948/1950), contém
registros musicais recolhidos em um terreiro de São Luís do Maranhão;
Pierre Verger (1952/1990), que levantou a hipótese de que a Casa das
Minas tenha sido fundada por uma rainha daomeana chamada Na Agotime, que
veio como escrava para o Brasil e foi resgatada de volta para a África
por seu filho, o rei Guezo (1818-1858); Roger Bastide (1971), que ao
escrever sobre as sobrevivências africanas no Maranhão descreve aspectos
da organização religiosa do Tambor de Mina e fala sobre a Casa das Minas
e sobre Dona Andresa, que foi sua dirigente; Jean Ziegler (1975), que
discorre sobre uma cerimônia fúnebre a que assistiu em um terreiro de
Tambor de Mina de São Luís, conhecido como Terreiro de Iemanjá, no ano
de 1972; Maria Amália Pereira Barreto (1977), que escreveu sua dissertação
de mestrado sobre a Casa das Minas, na qual faz referência às Casa de
Nagô e Casa Fanti-Ashanti. Só
recentemente este modelo religioso tem sido pesquisado de modo mais sistemático
no Estado do Maranhão, graças ao apoio que tem sido dado pelo Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPQ aos
pesquisadores, à ação de órgãos do governo estadual como a Secretária
de Cultura do Estado do
Maranhão - SECMA e também à exigência de produção de trabalhos
monográficos nos cursos de graduação nas suas universidades federal (UFMA)
e estadual (UEMA). Os
estudos sobre as religiões afro-brasileiras do Maranhão baseados em
trabalho de campo realizados pelos antropólogos Sérgio Ferretti (1985;
1989; 1995; 1996; 2002) e Mundicarmo Ferretti (1991; 1992; 1994; 1997;
2000; 2001) são referências obrigatórias para quem deseja se aprofundar
no tema, pois estes pesquisadores se tornaram conhecidos e reconhecidos
como as maiores autoridades no conhecimento científico sobre o Tambor de
Mina entre os pesquisadores brasileiros na atualidade. Além
dos trabalhos acadêmicos, a literatura sobre o Tambor de Mina tem sido
enriquecida com a contribuição de obras e de textos produzidos por
sacerdotes das religiões afro-brasileiras, como é o caso de Euclides
Menezes Ferreira (1990; 1996; 1997; 2003) no Maranhão, e também
Francelino de Shapanan (2001) em São Paulo. Jorge
Itaci Oliveira (s/d), fundador e dirigente do Terreiro de Iemanjá
produziu documentários em VHS e DVD [3],
nos quais informa sobre a constituição dos cultos afro-brasileiros no
Maranhão, a fundação do seu terreiro, iniciações, rituais e outros
temas. Ele, e também Euclides Menezes Ferreira (s/d; 2002), fundador e
dirigente da Casa Fanti-Ashanti, editaram CDs [4]
com amplo repertório musical sobre os diversos ritmos (mata, mina, baião
e outros) que são tocados durante os rituais dos seus respectivos
terreiros. Em São Luís do Maranhão estes produtos são amplamente
divulgados, conforme pude observar em uma viagem que fiz a esta cidade
(set. /2004). A
divulgação dos trabalhos realizados por investigadores sociais e por
dirigentes de terreiros em eventos científicos, revistas especializadas e
outros veículos de comunicação, têm despertado novos interesses no
campo de estudo da religiosidade popular, fazendo despontar investigações
que retratam novos modelos e aspectos diversificados da organização
ritual dos antigos. Estas
pesquisas têm apontado para a presença de alguns modelos religiosos
afro-brasileiros estabelecidos há várias décadas em regiões geográficas
que não são consideradas como áreas representativas da presença de
negros no Brasil. Elas também dão notícia da ocorrência de algumas
religiões afro-brasileiras que até recentemente foram vistas como
manifestações específicas de algumas regiões do país, como aconteceu
com o Tambor de Mina, que até bem pouco tempo teve no Maranhão a região
considerada como o seu reduto e a Casa das Minas de São Luís o local
mais antigo no Brasil no qual se pratica os seus rituais, sendo
considerada depositária da herança cultural religiosa daomeana em sua
forma mais preservada. A
minha dissertação de mestrado (Lima, 2001) sobre o Barracão de Santa Bárbara
da cidade de Porto Velho, em Rondônia, e os estudos de Reginaldo Prandi e
Patrícia Ricardo de Souza (2001:286-280) sobre a Casa de Tóia Jarina da
cidade de Diadema, em São Paulo, podem ser evocados como exemplos de
estudos recentes que versam sobre a presença do Tambor de Mina fora do
Maranhão. É
importante ressaltar que historicamente a região amazônica foi
referenciada como lugar de índios e, portanto, não teria recebido influências
significativas dos traços culturais dos povos africanos que foram
trazidos para o Brasil no período colonial e nem mesmo dos descendentes,
que em sua grande maioria teriam permanecido nas áreas onde a presença
negra escrava foi predominante, como as regiões nordeste e sudeste do país.
Deste modo, as tradições culturais africanas teriam sido pouco
relevantes na formação da identidade cultural das populações que
residem na região amazônica. O interesse em explorar a presença e
importância política, econômica e cultural dos negros na região deverá
conduzir a novas percepções sobre a importância deles na formação das
identidades das populações que compõem as sociedades locais. 3. A escolha do objeto de investigação e os percursos No
intuito de contribuir para a ampliação do conhecimento sobre a cultura
regional venho realizando estudos sobre as religiões populares em Porto
Velho, tendo me interessado particularmente pelo Tambor de Mina pelas
seguintes razões: haver constatado que o primeiro terreiro fundado nesta
localidade, Recreio de Yemanjá (+ 1917), que foi posteriormente
denominado Barracão de Santa Bárbara, é apontado pela documentação e
por moradores antigos da cidade e das comunidades de terreiro como o
primeiro espaço formalmente constituído de práticas religiosas
afro-brasileiras do Estado de Rondônia; por este terreiro ter sido
originalmente influenciado pela tradição jeje maranhense; por ele estar
em funcionamento até os dias atuais e haver preservado elementos
religiosos das tradições africanas dos povos jeje-yorubá, popularizadas
mina-nagô. Além
das razões indicadas acima, outro fator que me motivou a realizar
investigações sobre a história e as atividades rituais do Barracão de
Santa Bárbara foi ter constatado que na literatura regional há poucas
referências ao terreiro e às suas práticas religiosas. Até o momento
estas referências resumem-se às publicações e pesquisas dos seguintes
autores: Antônio Cantanhede (1949; 1950), que deixou o primeiro registro
escrito de que temos notícia sobre as práticas rituais afro-brasileiras
em Porto Velho, tendo escrito uma matéria para o periódico Alto
Madeira sobre as práticas rituais do Recreio
de Yemanjá, a qual foi
publicada no ano de 1949 e republicada em um livro de coletânea de
artigos da sua autoria no ano de 1950; Ary Tupinambá Penna
Pinheiro (1986), que escreveu sobre o Terreiro de São Benedito; Marco Antônio
Domingues Teixeira (1997), que faz breves referências à origem do Barracão
de Santa Bárbara e a alguns elementos da sua estrutura religiosa, tais
como: calendário ritual e entidades cultuadas em um ensaio científico
que foi publicado pela FUNCER - Fundação Cultural do Estado de Rondônia;
Nilza Menezes (1999), que na sua monografia de bacharelado do Curso de
História da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) fala sobre o Barracão
de Santa Bárbara, destacando o papel da mãe-de-terreiro
Esperança Rita da Silva na história local dos negros, e o aspecto lúdico
que o terreiro representava para a sociedade de Porto Velho nos anos
1930-40; Marta Valéria de Lima (2001), que na sua dissertação de
mestrado a propósito do Barracão de Santa Bárbara escreveu sobre a
história do terreiro e narrou os movimentos de resistência e transformações
que ocorreram na estrutura ritual do mesmo desde a sua fundação, em
1917, até o ano de 2000. Conforme
já foi mencionado, em um trabalho anterior discorri a respeito da história
e estrutura ritual do Barracão de Santa Bárbara (Lima, 2001), neste
pretendo ampliar o estudo sobre a estrutura sacerdotal do mesmo terreiro.
O objetivo é tentar responder à seguinte questão: Por quê no sistema
sacerdotal do Barracão de Santa Bárbara a sucessão é de casais e não
matriarcal ou patriarcal, conforme acontece em outros terreiros que
receberam as influências culturais jeje-yorubá ou que praticavam o
modelo do Tambor de Mina dentro e fora do estado de Rondônia? Para
resolver esta questão foi feito um estudo comparativo entre os dados de
campo que foram coletados nos anos de 1999 a 2004 durante as minhas
investigações sobre o Barracão de Santa Bárbara com os dados contidos
na literatura religiosa referente aos cultos afro-brasileiros que falam
sobre as tradições dos povos jeje-yorubá e sobre o Tambor de Mina. As
informações que reuni sobre o Barracão de Santa Bárbara e que serviram
de subsídio para este trabalho foram obtidas através dos seguintes
procedimentos: 1.Consulta
bibliográfica sobre a história e cultura do município de Porto Velho e
do estado de Rondônia, bem como sobre as religiões afro-brasileiras em
geral e mais especificamente sobre o Tambor de Mina. 2.Levantamento
de documentos escritos e iconográficos sobre o Barracão e a Irmandade de
Santa Bárbara e os seus dirigentes em jornais e outros periódicos de
circulação local. A pesquisa foi feita no Centro de Documentação e
Pesquisa Histórica do Estado de Rondônia – CDPH/RO e também foi
realizada busca de documentos com os dirigentes dos seguintes terreiros:
Barracão de Santa Bárbara (Bairro Vila Tupi), Recreio de Santa Bárbara
e Santo Antônio de Lisboa (Bairro Nova Porto Velho), Terreiro Pai Joaquim
(Bairro Embratel). 3.Entre
os anos de 1999 e 2000 fiz 37 entrevistas que foram gravadas em fitas K7.
As pessoas entrevistadas foram os dirigentes do Barracão de Santa Bárbara,
dirigentes de outros terreiros que tiveram ligação direta com o Barracão
e a Irmandade de Santa Bárbara e também membros e ex-membros que não
ocupavam cargos na hierarquia desse terreiro. Parte das informações
contidas nos depoimentos coletados está sendo utilizada neste trabalho. 4.Registros
em diários de campo de conversas formais e informais com membros do
Barracão de Santa Bárbara, entre os quais os seus dirigentes, no período
de 1999 a 2004. 5.Observação
e participação em rituais realizados no Barracão de Santa Bárbara e no
Retiro de Santa Bárbara e Santo Antônio de Lisboa no período de 1999 a
2003. 6.Realização
de uma viagem a São Luís do Maranhão em setembro de 2004. Um dos
objetivos da viagem era obter informações sobre as possíveis ligações
dos fundadores do Barracão de Santa Bárbara com terreiros ou pessoas de
São Luís e de Codó. Em São Luís estabeleci contato com os dirigentes
da Casa das Minas (dona Denil Prata Jardim), Casa Fanti-Ashanti (Euclides
Menezes Ferreira) e com a zeladora da Casa de Nagô (Virgínia, que atende
pelo apelido de Morena). Feito
este breve relato sobre o meu interesse pela religião afro-brasileira
conhecida como Tambor de Mina, no próximo item passarei a tratar da
presença desse modelo religioso no Estado de Rondônia. II - TAMBOR DE MINA EM RONDÔNIA Conforme
afirmei na introdução deste trabalho, o Barracão de Santa Bárbara,
constitui a matriz cultural do Tambor de Mina em Rondônia,
chamando atenção por adotar um modelo religioso afro-brasileiro ainda
pouco conhecido e pouco explorado pelos pesquisadores da cultura
afro-brasileira na região. A
história da fundação do Barracão de Santa Bárbara remonta à segunda
década do século XX, quando se fixaram na cidade de Porto Velho os
maranhenses Irineu dos Santos, sua prima Esperança Rita da Silva e o
esposo Raimundo Silva. A memória oral de antigos moradores de Porto Velho
e também de antigos afiliados e simpatizantes do terreiro diz que estes
maranhenses eram pretos mina ou seus descendentes; que eles eram naturais
da cidade de Codó, e que eles presidiam sessões de cura com invocação
de espíritos e realizavam rituais com uso de tambores, estes rituais eram
genericamente denominados pela população local como tambor, macumba
e também como batuque. O
Recreio de Yemanjá surgiu no Bairro Mocambo, possivelmente no ano
de 1917, tendo sido transferido para o Bairro Santa Bárbara (+
1944 / +1972), Nova Porto Velho (1975 e 1976/1978) e Vila Tupi
(1978 / ...), onde se encontra até os dias de hoje. Os fundadores deste
terreiro foram Irineu dos Santos e Esperança Rita da Silva. Os seus
sucessores foram Albertino Barbosa da Silva e Maria Pereira Pinto,
conhecida como Maria Estrela, que por sua vez foram sucedidos por
Manoel Roberto Neto da Silva e Maria do Carmo Sampaio Pinto, conhecidos
respectivamente como Beto e Carmita. É importante ressaltar
que não há grau de parentesco consangüíneo entre estes sucessores,
apenas o parentesco sagrado(5).
Como se pode observar, a sucessão no Barracão de Santa Bárbara é de
casais e nisto ele se diferencia do Tambor de Mina de São Luís
(trataremos desta especificidade no próximo item). Até
onde temos conhecimento, o jornalista Antônio Cantanhede (1950:200) foi o
primeiro escritor a fazer menção ao Barracão de Santa Bárbara (Recreio
de Yemanjá) e aos seus fundadores. No artigo Irmandade e Capela de
Santa Bárbara, ele afirma que Esperança Rita da Silva e Irineu dos
Santos fundaram a Irmandade Beneficente de Santa Bárbara, em 1914
e que esta, por sua vez, fundou a Capela de Santa Bárbara em 1916.
Informação que é corroborada nos depoimentos de moradores antigos da
cidade de Porto Velho e por membros e ex-membros da Irmandade e do Barracão
de Santa Bárbara. Antônio
Cantanhede (1950:200) nos informa que “Por iniciativa de D. Esperança
Rita, maranhense, natural da cidade do Codó, foi organizada, a 24 de
junho de 1914, a Irmandade Beneficente de Santa Barbara, com a seguinte
Diretoria: Presidente – Hermogenes Santos. Vice-Presidente – Ibernou Braga de Magalhães. Secretario – Manoel Severino. Orador – Torquato Brandão. Ao mesmo tempo foi aclamada a composição
seguinte: Avó do Terreiro – senhora Simplicia Maria
da Conceição. Mãe do Terreiro – senhora Esperança Rita. Pai do Terreiro – Sr. Irineu dos Santos. Madrinha do Terreiro – senhora Nila Gomes
dos Santos. Estabeleceram-se, então, no Bairro do
Mocambo, onde em 1916, construíram a primeira Capela da sua Padroeira –
Santa Bárbara. Ficava o arraial nas proximidades do flanco
direito do Cemitério dos Inocentes. (...) O TERREIRO segue a linha de Xangô,
sendo Iamanjá o espirito guia; seu Padroeiro, Senhor Ogum ou S. João”. A
consulta que realizei nas publicações do Jornal Alto Madeira relativa ao
período de 1917 a 1980 indica que a Irmandade de Santa Bárbara foi muito
atuante durante as décadas de 1930 a 1950. O fato de promover os
festejos de Santa Bárbara, que nesse período havia se tornado o
evento religioso mais popular de Porto Velho, deu-lhe enorme visibilidade.
Esse fato contribuiu para aumentar o prestígio social das lideranças
religiosas. Ressalte-se que Irineu dos Santos e Esperança Rita da Silva
foram os seus únicos dirigentes durante mais de duas décadas, conforme
atestam as notas e comentários contidos naquele periódico [6]. Outro aspecto que deve ser destacado é que os membros afiliados do terreiro Recreio de Yemanjá eram também membros associados da Irmandade de Santa Bárbara; e que a Irmandade tinha entre as suas integrantes pessoas da comunidade que não eram associadas à comunidade do terreiro. As
práticas religiosas do Barracão de Santa Bárbara guardam fortes
correspondências com os rituais de Tambor de Mina, Tambor de Crioula,
Tambor da Mata e Terêco, típicos do Maranhão, como também com os dos
Batuques do Pará, os da Umbanda e os do Kardecismo, além de ser
fortemente influenciado pelo catolicismo popular, no qual se destaca a
realização de novenas e procissões durante os rituais do seu calendário
festivo. As
entidades espirituais mais prestigiadas deste terreiro são: da linha
de mina, os voduns Nanã, Verequete, Badé, Naê, Tocé, Xapanã,
Oyá, e outros; da linha de nagô, Iansã, Iemanjá, Ogum, Oxossi,
Xangô, Ibeji, Oxum, Odé; da linha dos encantados, Seu Mansidão,
Barão de Goré, Légua Bogi-Buá e sua extensa família, Toya Jarina,
Dona Mariana, Príncipe Zezinho, Princesa Dina, Seu Cabuçú, Príncipe
Ricardino, Barão do Lago Verde, Seu Bahia, Príncipe Regino, João da
Mata, Cabocla da Jurema, Dom Luís, Dom Sebastião, Bárbara Soeira, João
Soeira, José Pena de Arara Amarela, Guerreirinho, Tapindaré, Cabocla de
Arubá, Caboclo Velho e muitos outros. A
maior parte destas entidades atualmente não é possuida pelos membros do
terreiro, é o caso dos voduns, que não são incorporados por ninguém.
Entre os orixás, só Ogum é incorporado, mesmo assim ele comparece
durante os rituais como Ogum Beira-Mar, entidade típica da Umbanda. Entre
os caboclos e encantados que são recebidos regularmente pelos membros
participantes das atividades religiosas que acontecem no terreiro
encontram-se: Caboclo Flexeiro, Dona Mariana, Joana Agunça, Caboclo
Velho, Manoel Légua Bogi-Buá, Antônio Légua, Tereza Légua, João da
Mata, Cabocla Juremeira, Japiaçú, Tungarunga, Rompe Mato, Cobra Coral,
Dona Sereia, Caboclo Flecheiro e Seu Cachoeira. Os
santos cultuados são: Santa Bárbara, São Benedito, Santa Luzia, Nossa
Senhora Santana, São Sebastião, Santo Antônio, São João, São Jerônimo,
São Jorge, Nossa Senhora da Conceição, Cosme e Damião. Nossa Senhora
Santana, Santa Bárbara, São Jorge e São Sebastião são, de longe, os
mais populares. De
acordo com os relatos dos informantes e conforme o que se pode depreender
das notas contidas no jornal Alto Madeira, o Barracão de Santa Bárbara
funcionou como espaço de cura, de diversão e de alianças políticas.
Para
atestar a importância social do terreiro e dos seus dirigentes os
informantes costumam citar nomes de autoridades do governo, de grandes
proprietários e comerciantes que o freqüentavam, colaboravam para a
realização dos festejos e faziam consultas espirituais com os seus
dirigentes. Dentre os nomes das autoridades civis e militares mais citadas
encontram-se estes: Aluízio Pinheiro Ferreira, que foi Superintendente da
Estrada de Ferro Madeira Mamoré e primeiro governador do antigo Território
Federal do Guaporé (atual estado de Rondônia); Ari Tupinambá Penna
Pinheiro, que foi médico da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, além de
ter exercido diversas outras atividades; Renato Clímaco Borralhos de
Medeiros, que foi médico e prefeito da cidade de Porto Velho; Jorge
Teixeira, ex-governador do Estado de Rondônia, entre outros. A
participação destas e de outras autoridades nas atividades promovidas
pelos dirigentes do terreiro serviu para legitimar as suas práticas
religiosas, aumentando-lhes o prestígio social. Analisando a trajetória histórica do Barracão de Santa Bárbara é possível dividi-la em quatro fases: 1.
Fase de Fundação e Estruturação ( +1911/ +1930). 2.
Fase de Expansão ( +1930/ + 1960). 3.
Fase de Recrudescimento ( + 1960/+1990). 4.
Fase de Declínio ( +1990/ aos dias atuais). Do
ponto de vista da política interna e externa do terreiro, o período áureo
do Barracão de Santa Bárbara ocorreu nas fases de estruturação e
expansão (+ 1930/+1960), durante as quais ele foi dirigido
por Esperança Rita da Silva e Irineu dos Santos (+1917/1947) e
pela mesma Esperança Rita da Silva com Albertino Barbosa da Silva (1947 a
1972). É
importante salientar que o Estado de Rondônia (antigo Território Federal
do Guaporé), foi administrado por Aluízio Pinheiro Ferreira (apontado
pelos informantes como protetor do terreiro) durante a fase de expansão
do Barracão. Até os dias
de hoje, a aliança estabelecida entre este chefe político e militar e os
dirigentes do terreiro são citadas por antigos moradores de Porto Velho e
por seus descendentes como atestado da força espiritual do Barracão e do
poder mágico-religioso dos seus dirigentes. Dentre os dirigentes do
terreiro que são lembrados se destaca Esperança Rita da Silva, que é
apontada como responsável por esta e por outras importantes alianças políticas
que contribuíram para garantir a realização das práticas religiosas
dos adeptos dos cultos afro-brasileiros durante um período histórico
(Estado Novo) em que eles foram perseguidos e alvos de fortes
preconceitos. Os
registros orais que foram realizados com membros e ex-membros do Barracão
de Santa Bárbara informam (quando eles se referem ao funcionamento do
terreiro durante as décadas de 1940 a 1970) que tanto em Porto Velho como
em outros municípios houve um grande número de adeptos dos rituais
afro-brasileiros que eram filiados ao Barracão, os números indicados
chegam próximo à casa de duzentas pessoas. Hoje,
o terreiro conta com um número reduzido de membros atuantes (estes não
chegam a vinte pessoas), porém os seus dirigentes mantêm uma extensa
rede de ligações com pessoas que foram iniciadas na tradição mina-nagô
pelos antigos dirigentes do Barracão de Santa Bárbara ou por dirigentes
de outros terreiros que ali fizeram a iniciação religiosa ou que tiveram
naquele local a primeira experiência de incorporação com as entidades
dos cultos afro-brasileiros. Embora
o Barracão de Santa Bárbara não tenha hoje o mesmo brilho que teve no
passado, preserva muitas atividades religiosas que há anos atrás eram
consideradas importantes, sendo realizados festejos em homenagem aos
voduns, orixás, santos, caboclos e encantados. As festas apresentadas
como as mais importantes dentre aquelas que continuam sendo anualmente
realizadas são as de Santa Bárbara (Iansã) e São Sebastião (Oxóssi e
Rei da Mata), que envolvem os seguintes rituais: Levantamento do Mastro,
que é realizado no dia 26 de novembro; Procissão de Santa Bárbara, que
também acontece no dia 26 de novembro; Almoço de Santa Bárbara,
realizado no dia 4 de dezembro; Derrubamento do Mastro de Santa Bárbara,
que ocorre no dia 20 de janeiro; e a Procissão de São Sebastião, que
também é realizada no dia 20 de janeiro. Conforme os depoimentos orais
dos dirigentes do terreiro e de membros e ex-membros antigos, estes
festejos acontecem ininterruptamente desde 1914. Analisando
o campo religioso afro-brasileiro do município de Porto Velho percebe-se
que houve uma grande disseminação de elementos rituais típicos do
Tambor de Mina nos terreiros mais velhos ou que estão associados aos
moradores mais antigos da região ou aos seus descendentes, porém o
Barracão de Santa Bárbara se constitui, hoje em dia, no último depositário
da herança cultural africana de origem mina-nagô em sua forma mais
preservada e também mais aproximada com os rituais de Tambor de Mina do
Maranhão. Neste
item tratei da presença do Tambor de Mina em Rondônia apresentando um
pequeno relato sobre a história do Barracão de Santa Bárbara. No próximo,
falarei sobre a participação das mulheres nos rituais e na direção dos
terreiros de Tambor de Mina. III - A CHEFIA RELIGIOSA NO TAMBOR DE MINA Basta
estudar ou visitar os locais onde acontecem os rituais para se constatar
que nas religiões afro-brasileiras as mulheres têm papel destacado. Elas
são maioria na chefia dos terreiros e na participação como adeptas,
sendo freqüentemente apresentadas como as depositárias das tradições
religiosas africanas no Brasil e também como as mães fundadoras dos
terreiros. No
artigo A contribuição especial das mulheres no Candomblé do Brasil,
Pierre Verger (1985) salienta que é necessário conhecer o lugar que as
mulheres ocupavam nas sociedades africanas para que se compreenda a posição
destacada delas no Candomblé. Deste modo, ele diz que, na sociedade yorubá
da África, a organização é polígama e que as mulheres gozam de maior
liberdade do que nas relações monogâmicas. Elas são aceitas na casa do
esposo, sobretudo na condição de progenitoras de filhos destinados a
perpetuar a linhagem familiar do marido. Nesta condição, elas não são
totalmente integradas à família do esposo, o que lhes assegura uma certa
independência e lhes permite a realização dos cultos das suas famílias
de origem. Nas
suas análises Pierre Verger (1985) afirma que, no Brasil, o sentimento de
independência feminina das mulheres negras se consolidou devido à ausência
da presença paterna nas famílias (resultado do sistema escravocrata) e
da gravitação dos filhos em torno das mulheres, que lhes garantia o
sustento por meio de pequenos comércios realizados nas ruas. Partindo
destes pressupostos, ele afirma que as mulheres descendentes dos nagôs:
“(...) preservaram o mesmo espírito de iniciativa que em África e as
mesmas tendências dominadoras, tanto em família como nas suas relações
com os outros. Isto explica já em parte a tradição das mães autoritárias
visível em alguns candomblés nagô da Bahia” (Verger,
1985:276-277). Além
dos aspectos que são destacados por Pierre Verger, é importante lembrar
que o poder da mulher nas religiões afro-brasileiras está relacionado à
condição feminina de gerar filhos. Assim, a mulher congrega o duplo
papel de dar à luz a filhos biológicos e também o de abrir caminhos
para que, por meios dos homens (os filhos-de-santo), os deuses venham ao
mundo. A mulher é considerada a dona do axé (força vital) nas
religiões de origem nagô porque o seu papel é o de criar, de fecundar,
de dar vida, o que lhes confere grande poder, dignidade e
respeitabilidade. Não
é apenas na tradição nagô que as mulheres ocupam essa posição de
destaque, nas religiões de origem jeje também é assim. É sobre isto
que irei discorrer a seguir. 1. Organização sacerdotal do Tambor de Mina Os
relatos e as descrições sobre a fundação dos terreiros de São Luís
do Maranhão permitem observar que no Tambor de Mina, tanto quanto no
Candomblé, as mulheres também ocupam papel destacado. Elas são
apontadas como as fundadoras e as dirigentes de todos os terreiros que
surgiram no século XIX. Essa predominância da mulher no Tambor de Mina
é ainda um traço marcante desta tradição. Ao descrever a organização da Casa das Minas Ségio Ferretti (1989:183) comenta: “A Casa das Minas é organizada como uma gerontrocracia matriarcal. Mulheres idosas detêm o conhecimento e dirigem o grupo. Apenas mulheres entram em transe, recebendo voduns e participando das danças. Os homens exercem função de tocadores de tambor e de auxiliar em alguns rituais. No passado, há mais de setenta anos, fala-se que houve alguns homens africanos que recebiam voduns, mas não dançavam”. Num
outro trabalho Sérgio Ferretti (1985:164) afirma que embora tendo papel
secundário dentro da hierarquia do Tambor de Mina, a presença masculina
é indispensável, pois são os homens que exercem a função de tocadores
dos tambores, sem os quais não há festas. A participação masculina nos
rituais ultrapassa tal função, pois eles também têm participação em
alguns rituais privados nos quais exercem o papel de sacrificadores. Mundicarmo
Ferretti (1994), no artigo intitulado A mulher no Tambor de Mina,
afirma que no Tambor de Mina a mulher é maioria tanto na chefia de
terreiros quanto como médium de incorporação. Ela indica as razões
desta predominância feminina ao explicar: “Em São Luís, nos terreiros
mais antigos, homem não costuma entrar em transe e, quando recebe uma
entidade espiritual, não dança tambor. Por essa razão, nunca assume a
chefia no terreiro, o que justifica a afirmação da existência de um
matriarcado no Tambor de Mina” (Ferretti, 1994:118). No
mesmo artigo Mundicarmo Ferretti relativiza esta afirmação, ao informar
que na década de 1950 houve uma modificação deste quadro na cidade de São
Luís, quando se deu a proliferação de terreiros abertos por homens. Ela
destaca que os homens que se tornaram fundadores e dirigentes de terreiros
já se encontravam integrados no campo religioso afro-maranhense no qual
eles atuavam como curadores/pajés. Entretanto, ela afirma também que
mesmo nos terreiros fundados e dirigidos por homens as mulheres têm papel
destacado e ocupam os demais postos da hierarquia.
2. Participação da
mulher no Tambor de Mina de Rondônia Assim
como aconteceu na estrutura organizacional dos terreiros mais antigos de São
Luís do Maranhão, como as tradicionais e centenárias Casa das Minas e
Casa de Nagô, no antigo Recreio de Yemanjá (Barracão de Santa Bárbara)
a presença da mulher era destacada. Elas ocupavam a maior parte dos
postos da hierarquia do terreiro e eram em maior número do que os homens,
como é ainda nos dias de hoje. Além
disso, a estrutura organizacional deste terreiro não parece diferir muito
dos terreiros de Tambor de Mina do Maranhão anteriormente referidos, pois
sabemos que os principais encargos masculinos, até pelo menos a década
de 1980, estavam associados às obrigações religiosas que eram
realizadas nas matas ou à entrega das oferendas aos home (entidades
tricksters semelhante aos exus
da cultura nagô) durante a realização dos rituais de cura e festivos;
além de ser atributo exclusivo deles tocar os tambores sagrados durante
as celebrações religiosas. Atualmente,
têm ocorrido mudanças, constatando-se a participação de mulheres em
ritos e atividades que antes eram exercidas exclusivamente pelos homens,
como transportar o mastro dos festejos de Santa Bárbara ou participar dos
rituais denominados “das matas”, os quais são realizados para as entidades chamadas
de “os
home” e também para as que são conhecidas como “das matas”. As
transformações aqui destacadas decorrem da redução no número de
participantes iniciados dentro das tradições religiosas do terreiro e da
releitura do papel da mulher e das suas atribuições nos rituais, efeito
das mudanças que têm ocorrido na sociedade ampliada. Sabe-se
que, pelo menos nas décadas que vão de 1920 a 1950, era rara a presença
de homens incorporando voduns no Recreio de Yemanjá e, que quando
isso ocorria, eles não dançavam, sendo comum serem recolhidos para uma
área reservada do terreiro (Recreio dos Caboclos; Quarto das Águas e dos
Segredos) quando estavam em transe. Porém, as mulheres, quando se
encontravam incorporadas com as entidades denominadas caboclos,
poderiam tocar os tambores sagrados os quais, em outras circunstâncias
– chamadas normais – não poderiam, de maneira alguma, ser
percutidos por mulheres. Apenas nesta circunstância, quando ficavam alteradas
(ou seja, quando tinham seus corpos possuídos pelas entidades
espirituais), sendo identificadas não mais por suas identidades pessoais,
mas pelas identidades dos espíritos que momentaneamente ocupavam-lhes os
corpos é que elas poderiam tocar o tambor. Permanece, portanto, o direito
masculino do toque deste instrumento musical. Julgo
importante mencionar que na estrutura religiosa do Tambor de Mina de Rondônia
as entidades estão divididas em duas grandes linhas: as entidades
de cura e as entidades de baia.
As entidades de cura não dançam no salão quando são incorporadas pelos
adeptos do culto, só as da linha de baia, mas os voduns considerados
velhos também não dançam ou brincam (para usar a expressão
da comunidade do terreiro), nem mesmo quando são incorporados pelas
mulheres. A
organização sacerdotal do Barracão de Santa Bárbara se diferencia de
terreiros antigos da tradição mina do Maranhão, fortemente marcada por
uma gerontocracia feminina, conforme ressaltaram Sérgio Ferretti (1985) e
Mundicarmo Ferretti (1994), mas igualmente em relação à tradição nagô,
conforme foi explicado por Pierre Verger (1985), por ele ter sido fundado
e dirigido por um casal e por ter sido mantida esta característica da
organização sacerdotal do passado no seu processo sucessório até os
dias de hoje. Considerando
ser este um traço marcante que diferencia a estrutura ritual entre o
Tambor de Mina maranhense e o modelo de Tambor de Mina que foi implantado
em Porto Velho, julgo relevante identificar as razões desta distinção.
As minhas investigações sobre este assunto indicaram algumas pistas que
me parecem bastante interessantes. Estas pistas conduzem a algumas
respostas hipotéticas sobre as possíveis causas deste diferencial.
Exporei os resultados das investigações e as hipóteses correspondentes
às mesmas no próximo item.
IV - SISTEMA DE SUCESSÃO SACERDOTAL NO TAMBOR DE MINA DE RONDÔNIA Conforme
mencionei no item anterior, o sistema de sucessão da chefia religiosa do
Barracão de Santa Bárbara é de casais e nisto ele se diferencia do
Tambor de Mina de São Luís. Explicar esta especificidade não é tarefa
simples, pois ela remete à busca das linhagens no santo dos pais
fundadores do terreiro e sobre isto não há informações. Dito de outra
forma: não se sabe onde, quando e por quem os fundadores do terreiro
foram iniciados. O conhecimento destes fatos forneceria subsídios
fundamentais para o entendimento da estrutura ritual e organizacional do
terreiro, porém eles se perderam nas dobras do tempo e da memória. Devido às lacunas indicadas acima, fui levada a rever a história de vida destes fundadores e isto conduziu à formulação das seguintes indagações: a origem geográfica e étnica dos dirigentes do terreiro pode informar sobre a estrutura organizacional do Barracão de Santa Bárbara? Que pistas essas origens fornecem no sentido de explicar o processo sucessório deste terreiro que é considerado a matriz religiosa do Tambor de Mina em Rondônia? Vejamos o que informam os registros orais sobre as origens étnicas e geográficas dos fundadores do Barracão de Santa Bárbara: 1.
O primeiro casal de dirigentes do Barracão de Santa Bárbara, Irineu dos
Santos e Esperança Rita da Silva eram naturais da cidade de Codó, no
Maranhão; 2.
Este primeiro casal de dirigentes é apontado como descendentes de negros
mina (negros oriundos da Costa da Mina como escravos no período
colonial); Irineu dos Santos é mencionado como ex-escravo mina e Esperança
Rita da Silva como filha de escravos desta mesma etnia e às vezes também
como de escravos angolanos. 3. Quando se referem às práticas religiosas dos fundadores
do Barracão de Santa Bárbara alguns informantes afirmam que Esperança
Rita da Silva pertencia à nação angola, alguns outros (a maior parte
dos informantes) não fazem nenhuma referência sobre este assunto, dizem
simplesmente que ela era mina-nagô. De
posse destas informações, e tendo em mente as questões anteriormente
mencionadas, busquei na literatura especializada sobre os cultos
afro-brasileiros do Maranhão subsídios a propósito da questão sucessória
e também registros sobre as expressões culturais e históricas do município
de Codó. Os resultados apontaram para alguns elementos que considero
bastante interessante como indicadores dos movimentos de criação e de
recriação das práticas religiosas e também de outras manifestações
culturais maranhenses em Rondônia, que não são objeto de investigação
deste estudo. Por isto, irei restringir a minha escrita aos elementos
localizados que importam para a análise que estou fazendo neste trabalho
e que serão apresentados a seguir.
1.
Participação de casais na direção do Tambor de Mina: origens
etno-culturais Ao
revisar a literatura sobre o Tambor de Mina do Maranhão, seguindo as
pistas, que foram enumeradas acima, relativas à procedência e à etnia
dos primeiros dirigentes do Barracão de Santa Bárbara, foram encontradas
algumas indicações sobre a composição étnica e a religiosidade em Codó
que ajudam a propor respostas para explicar o motivo pelo qual este
terreiro é dirigido por casais e não por um pai ou uma mãe-de-santo os
quais, via de regra, ocupam com exclusividade o topo da hierarquia
sacerdotal nos terreiros de Tambor de Mina e também nos de Umbanda e de
Candomblé. Os subitens abaixo referem-se a estas pistas. 1.1.
Escravidão negra e etnicidade De
acordo com as pesquisas que foram realizadas por Otávio da Costa Eduardo
(1947:5), Codó e Santo Antônio (distrito deste mesmo município) são os
dois locais em que houve a maior concentração da escravidão negra do
Maranhão, após São Luís. Codó é também apresentada como o lugar
para o qual houve a maior migração de negros depois da Abolição da
Escravatura. Este
pesquisador realizou um levantamento de dados sobre a etnia de escravos
adquiridos por senhores de São Luís e de Codó nos períodos de 1800 a
1860 e de 1838 a 1847, respectivamente, a partir de cem inventários de
compra e venda que foram consultados nestes dois municípios. Em Codó ele
localizou 18 escravos, assim distribuídos segundo procedência e etnia: 1.
Angola-Congo:
Angola, 2; Cambinda, 2; Angico, 2; Congo, 5. Total: 11. 2.
Senegal:
Cacheo, 1; Bijago, 1; Balanta, 1. Total: 3. 3.
Costa da
Guiné: Mina,
3. Total: 3. 4.
Moçambique:
1. Total: 1. (Eduardo,
1947:7) Levando
em conta os números acima indicados é fácil notar que no período em
questão a procedência angola-congo é a mais representativa das quatro
que foram apresentadas, donde se conclui que ela pode ter sido
preponderante entre os negros de Codó e áreas circunvizinhas. 1.2. Religiosidade afro-brasileira Ao
investigar as crenças religiosas de Codó Otávio da Costa Eduardo
(1947:47) diz que elas estavam “muito diluídas” e que os
negros dali apresentavam elevado índice de aculturação com os índios e
com os brancos. Ele participou de rituais em salões de pessoas que
habitavam o município, porém, não cita nomes de terreiros que talvez
existissem ali por ocasião da sua pesquisa. Este
autor diz ter assistido a rituais em Santo Antônio e menciona que no
local em que esteve não havia um chefe religioso assim reconhecido. Ele
também afirma que não existia cerimônia especial de iniciação entre
os participantes e fala que no lugar de sacerdotes responsáveis pela direção
dos cultos existiam “serventes dos encantados” e que estes,
entre outras atividades, cuidavam de acender as lamparinas e de dirigir os
toques (Eduardo, 1947:61). Como
se pode notar, a noção que Otávio da Costa Eduardo tinha sobre quais
seriam as funções sacerdotais de um chefe religioso dentro do campo
afro-brasileiro não correspondia ao que foi por ele observado entre os
indivíduos que dirigiam os rituais do salão visitado. Talvez por isto
ele tenha dito que não havia ali um chefe religioso reconhecido como tal
pela comunidade. Não
é meu propósito discutir estas informações sobre sacerdócio. O que
interessa nestes comentários é o que ele diz sobre os dirigentes dos
rituais. Neste aspecto as suas informações são importantes porque
constituem um registro de que no salão visitado por Otávio da Costa
Eduardo os dirigentes eram homens e não mulheres e eles não tinham o título
de chefe-de-terreiro ou de pais-de-santo, mas de serventes
dos encantados, termo que é similar a zeladores de culto ou de
terreiro, expressões usadas pelos membros do Tambor de Mina do Maranhão
e de Rondônia para designar os indivíduos que exercem o papel de
sacerdotes. Mundicarmo
Ferretti (1994; 2000; 2001) tem destacado a importância de Codó na formação
do campo religioso afro-brasileiro do Maranhão e tem mostrado que essa
influência se fez presente em terreiros antigos de São Luís e também
na elaboração de rituais afro-brasileiros fora do Maranhão, como o Babaçuê,
no Pará. Esta pesquisadora explica que os rituais afro-brasileiros de Codó são denominados de Terecô e de Tambor da Mata e que eles são também conhecidos como Macumba. Ela fala que esses rituais se caracterizam por uma acentuada sincretização das culturas religiosas africanas (banto, mina, nagô) com a indígena, não sendo conhecidas as suas origens e nem os grupos étnicos que as constituíram. Ela também diz que houve cruzamento do Tambor de Mina com o Terecô [7] em terreiros de Codó e de São Luís. Mundicarmo Ferretti (2001:71) apresenta um resumo do livro de Otávio da Costa Eduardo, The negro in Northern Brasil: a study in acculturation, no seu livro Encantaria de Barba Soeira: Codó, capital da magia negra?. Ao expor sobre o que diz este autor acerca da religiosidade do povoado de Santo Antônio, ela faz o seguinte comentário em nota de rodapé: “Como nas Casas de Mina mais antigas só as mulheres entram em transe e exercem funções de chefia, é possível que o aumento de homens nos terreiros de São Luís tenha a ver com a influência de Codó no Tambor de Mina. Além dos que foram encontrados em Santo Antônio por Costa Eduardo (1943-1944), Antoninha teve pai e mãe-de-santo (Machado, 1999)”. Antoninha, a pessoa citada na nota acima, é Antônia Olinda de Almeida a qual, de acordo com a pesquisadora Mundicarmo Ferretti (2001:117) “era conhecida como a mãe-de-santo mais antiga e apegada à tradição do terecô de Codó”. Vejamos o que ela diz sobre a iniciação desta importante mãe-de-santo: “Não conhecemos a origem dos seus ancestrais africanos. Sabemos apenas que sua avó foi escrava (crioula), que seu avô era curador no Mearim, que sua mãe nasceu no ventre livre (em 1871?), em Cururupu, e que sua mãe já dançava terecô quando ela nasceu (em 1915). Supomos que seus ancestrais africanos tenham vindo de Angola, pois se referia freqüentemente aos antigos, de quem se considerava continuadora, como “os pretos-velhos angolanos”. (...). “Na comunidade negra onde viveu Antoninha, os ‘vodunsos’[8] eram assentados em pedras (‘calungas’) guardadas em ‘urnas’ e parece que eram passados de mãe para filha, no fim da vida, embora os homens também os cultuassem – na comunidade de Santo Antônio existia pai e mãe-de-santo” (Ferretti, 2001:118). Infelizmente Mundicarmo Ferretti não discute a questão da dupla filiação de Antoninha e nem cita outros pais ou mães-de-santo em Codó ou em São Luís que nos ofereça idêntico exemplo de dupla filiação. Ficamos sem saber, portanto, se Antoninha fez a sua iniciação com a mãe e o pai-de-santo em uma mesma cerimônia ou não. Também não sabemos, quando ela afirma que em Santo Antônio existiam pai e mãe-de-santo, se eles atuavam juntos em um mesmo terreiro ou se existiam terreiros que eram dirigidos por pai-de-santo e terreiros que eram dirigidos por mãe-de-santo, separadamente. No
entanto, no livro Encantaria de “Barba Soeira” e em outros
trabalhos, Mundicarmo Ferretti tem ressaltado que a chefia do terreiro no
Tambor de Mina era atribuição exclusivamente feminina. Segundo esta
pesquisadora, só a partir dos anos 1950 é que se verifica a participação
masculina na direção dos terreiros em São Luís [9],
fato que ela atribui aos intercâmbios que havia entre as casas de Tambor
de Mina de São Luís com as de Codó e que decorria de uma estreita e sólida
rede de relações que envolveram dirigentes e membros de terreiros das
duas cidades, as quais mantinham laços afetivos e religiosos entre si. Esta
rede de relações foi também citada por Sérgio Ferretti (1985:69) na
sua dissertação de mestrado, onde ele menciona: “Mãe Andresa não
viajava para fora do Estado, mas muitas pessoas vinham visitá-la. Do
interior vinha muita gente. Muitas filhas da casa eram naturais de Codó,
de Caxias, de Cururupu, de Guimarães, de Rosário, etc.”. Além
do que foi citado acima por Sérgio Ferretti,
Mundicarmo Ferretti (1989:87 e 207-208) afirma que Anastácia,
fundadora em São Luís de uma terreiro para cultuar entidades espirituais
não africanas, denominado Casa da Turquia, assentou o terreiro de Pedro e
Raimundo Satiro em Belém. Esta autora informa também que Anastácia era
oriunda de Codó e que as suas viagens contribuíram para a expansão da Linha
de Turco no Tambor de Mina e que os encantados
turcos em muito se assemelham a Légua Bogi-Buá, chefe de linha da mata de Codó. As informações que acabei de expor indicam que o sistema de chefia dos
terreiros influenciados pelos rituais afro-brasileiros de Codó
denominados de Terecô poderia ser matrilinear, patrilinear e
matri-patrilinear e que houve intercâmbios de pessoas e de elementos
religiosos entre os terreiros de Terecô de Codó e os terreiros de Tambor
de Mina de São Luís. 1.3. Cruzando os dados e interpretando os fatos A
partir da análise dos resultados das pesquisas realizados por Otávio da
Costa Eduardo e por Mundicarmo Ferretti sobre as manifestações
religiosas do município de Codó, três informações ficaram
evidenciadas como fundamentais para a investigação sobre a questão
sucessória no Barracão de Santa Bárbara: a primeira é a de que Codó
contou com uma representativa presença de negros de origem banto; a
segunda é que os comentários de Mundicarmo Ferretti sobre a mãe-de-santo
Antoninha remetem para uma possível ancestralidade banto; e a terceira,
é que ela menciona que Antoninha fez a sua iniciação em Santo Antônio
(povoado situado nas imediações de Codó) e que teve pai e mãe-de-santo. Observa-se,
portanto, que nos trabalhos dos dois pesquisadores há o registro da influência
dos africanos da etnia banto na composição social de Codó, havendo
destaque daquelas provenientes de Angola, fato que provavelmente
influenciou na organização ritual dos cultos afro-brasileiros ali
desenvolvidos. A
biografia de Antoninha permite perceber que há alguns pontos em comum com
os relatos da biografia de Esperança Rita da Silva fornecidos pelos
membros e ex-membros do Barracão de Santa Bárbara: Primeiro, as duas estão
associadas a Codó, seja pelo local de nascimento ou de iniciação;
Segundo, elas podem ter sido descendentes de escravos angolanos; Terceiro,
elas parecem ter recebido influências religiosas dos povos angolanos nas
suas formação sacerdotal; Quarto, a sacerdotisa Antonhinha teve pai e mãe-de-santo,
já Esperança Rita da Silva foi dirigente sacerdotal de um terreiro no
qual atuou como zeladora de santo (mãe-de-santo) dividindo o poder com um
homem que exercia a função de zelador de santo (pai-de-santo). Estes
elementos em comum presentes nos relatos biográficos das duas mães-de-santo
fazem reportar à tradição cultural dos povos angolanos, o que me levou
a procurar conhecer as características das religiões praticadas pelos
negros de origem banto. Para isto me voltei aos estudos dos especialistas
das religiões afro-brasileiras e aos comentários que eles fazem sobre a
estrutura ritual nos terreiros que herdaram as tradições dos povos desta
etnia. Edson
Carneiro (1991) escreveu vários textos sobre as religiões africanas no
Brasil e as contribuições dos negros bantos. Na obra Negros bantos,
o autor destaca que a estrutura sacerdotal na Bahia difere do sacerdócio
negro na África. Ele explica que na Bahia tanto homens quanto mulheres
poderiam ser filhos-de-santo e que acima deles havia o pai e a mãe-de-santo.
A este respeito ele comenta: “As funções femininas são mais
limitadas, podendo um terreiro ser dirigido, ao mesmo tempo, pelo pai e
pela mãe-de-santo” (Carneiro, 1991:55-56). Nos
textos de Pierre Verger (1985:277) consta que na Bahia os principais
terreiros de candomblé nagô são dirigidos por mulheres e que os
de origem banto são dirigidos por homens. De acordo com a sua
explicação isto pode ter ocorrido como resultado do fato de que os
africanos que viveram no Brasil estabeleceram confrarias nas quais
compartilhavam os seus saberes e experiências e que estas eram constituídas
por agrupamentos de homens e de mulheres organizados conforme as suas nações
de origem. Roger
Bastide (1989:259), que investigou as tradições religiosas africanas no
Maranhão, faz o seguinte comentário sobre a organização sacerdotal dos
terreiros de São Luís: “[Não há] Nenhum sacerdote especializado que
presida as sessões do culto. Trata-se de uma tradição que se mantém
por suas próprias forças, na memória do povo, mais ou menos como o
folclore, sem que uma determinada organização sirva-lhe de base e
garantia. É toda a comunidade que forma a ‘sociedade’ que tem o hábito
de se reunir todos os meses ou a cada dois meses para dançar ou para
chamar os espíritos. Tudo o que se vê são dois ‘servidores de
encantados’ que marcam as datas, limpam o soalho da sala, chamam os
tocadores de instrumentos, buscam combustível para as lamparinas. Não têm
autoridade religiosa, se bem que sejam respeitados pelo povo, são mais
uma espécie de administradores, de sacristães das casas de culto” (10). Note-se
que ao escrever sobre a organização sacerdotal de terreiros de São Luís
o autor se refere à existência de dois
servidores de encantados, embora não identifique o gênero deles. É
ainda Roger Bastide (1989) quem nos informa que o Tambor de Mina
maranhense partindo da periferia da cidade de São Luís chegou ao Pará,
onde recebeu o nome de Babaçuê. Conforme
este autor, o Babaçuê é um prolongamento das seitas cambindas e
que estas são prolongamentos das seitas deturpadas dos subúrbios de São
Luís. Sobre este assunto ele faz o seguinte comentário: “E a deturpação,
ou se preferirmos, o sincretismo, triunfa na primeira, tanto assim que o
“pai” do terreiro pertence à tradição daomeana, enquanto a mulher,
que é a “mãe”, pertence à tradição ioruba. Casamento de cultos ao
mesmo tempo que união de corpos” (Bastide, 1989:303). Os
elementos religiosos de origem banto que encontramos nos estudos de Otávio
da Costa Eduardo, Edson Carneiro, Pierre Verger, Roger Bastide e
Mundicarmo Ferretti fornecem indicadores para levantar a hipótese de que
o processo sucessório do Barracão de Santa Bárbara é uma herança
cultural do sistema religioso banto transplantado de Codó para Porto
Velho pelos fundadores do Barracão de Santa Bárbara, sendo importante
mencionar que não temos notícia de que em Rondônia haja outros
terreiros que retenha este elemento religioso em sua estrutura
organizacional. Diferentemente
do que parece ter ocorrido nas seitas de origem cambinda que se realizavam
em São Luís na década de 1950 (Bastide, 1989), os casais que dirigiram
o Barracão de Santa Bárbara nestes seus 90 anos de existência não
mantiveram ou mantém relações carnais entre si. O parentesco que
existe entre estes casais é sagrado e não consangüíneo, à exceção
dos fundadores que parecem ter sido primos e não mantiveram entre si relações
típicas de marido e mulher. V - CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste
trabalho vimos que o Tambor de Mina é um modelo religioso afro-brasileiro
que recebeu influências das culturas jeje-nagô e que ele se expandiu do
Maranhão para outras regiões do Brasil, tendo chegado a Rondônia nas
primeiras décadas do século XX com os migrantes nordestinos e nortistas.
O primeiro terreiro do Estado surgiu em Porto Velho e recebeu o nome de
Recreio de Yemanjá, mas se tornou conhecido como Barracão de Santa Bárbara
e foi fundado por negros maranhense que praticavam os rituais do Tambor de
Mina. Os
rituais afro-brasileiros que se praticou em Porto Velho na primeira metade
do século XX apresentavam elementos característicos do Terecô, o modelo
religioso afro-brasileiro típico de Codó (local de origem dos fundadores
do primeiro terreiro). Os cruzamentos do Tambor de Mina com o Terecô
talvez expliquem porque não há a preponderância do elemento feminino
sobre o masculino no sistema de sucessão da chefia do terreiro, como
acontece com o Tambor de Mina denominado puro (sem cruzamentos),
mas sim a partilha do poder entre um dirigente religioso masculino e
feminino, denominados simplesmente de zeladores do terreiro e também
de zeladores de santo. Esta característica é um elemento cultural
dos ritos afro-brasileiros de origem banto que se encontravam presentes
nas regiões maranhenses de Codó e das suas adjacências (como Santo Antônio)
no início do século XX. Foi
ainda ressaltado que o Terecô é um modelo religioso que além de ter
incorporado elementos culturais dos povos mina e nagô recebeu influências
da religiosidade dos negros de origem banto e dos indígenas brasileiros
que praticavam rituais de pajelança. Afirmou-se
que os casais que dirigiram e os que dirigem o Barracão de Santa Bárbara
não mantinham e não mantém relações carnais entre si e que não há
parentesco consangüíneo entre eles, só o parentesco sagrado, à exceção
dos dois primeiros dirigentes que parecem ter sido primos em primeiro
grau. A
minha análise sobre a questão sucessória foi construída a partir de
hipóteses desenvolvidas em torno das informações sobre a origem e etnia
dos fundadores do terreiro. É preciso dizer que a mesma questão poderia
ter sido discutida a partir dos processos de iniciação ritaul dos
dirigentes. Porém, não temos informações sobre esses processos. Independente
disso, essas hipóteses poderiam ter sido desenvolvidas em torno da análise
das informações sobre a estrutura física do terreiro e dos rituais
durante o período em que o mesmo foi dirigido por seus fundadores. Vista
deste ângulo, a questão sucessória no Barracão de Santa Bárbara
poderia ser pensada a partir da hipótese de que um dos indivíduos que
formavam o par de dirigentes poderia ter sido iniciado nas tradições nagô
e o outro nas tradições jeje ou dentro de uma tradição religiosa mais
sincrética, como o Terecô, por
exemplo, que reúne elementos rituais de diversas etnias. Esta
análise, porém, exige um estudo mais cuidadoso da história das origens
do terreiro, dos elementos religiosos e, finalmente, do modelo religioso
que foi implantado no período da sua fundação e as possíveis mudanças
rituais decorrentes de perda de elementos antigos e incorporação de
novos elementos. Este estudo demandaria uma pesquisa mais exaustiva e
minuciosa do sistema sucessório do Tambor de Mina em Rondônia e
dos temas e questões que ele suscita. Tal investigação está por ser
realizada. Julgo, entretanto, ter contribuído para fazer avançar as
pesquisas nesta direção, pois considero que o presente trabalho fornece
alguns indicadores para futuras investigações e que, em conformidade à
natureza e aos objetivos do mesmo, o propósito inicial foi cumprido.
BIBLIOGRAFIA 1.
Livros ALVARENGA, Oneyda. Tambor de Mina
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Sobre o Culto aos Orixás e Voduns na Bahia de Todos os Santos, no Brasil,
e na Antiga Costa dos Escravos, na África.
Trad. Carlos Eugênio Moura. São Paulo, Ed. da Universidade de São
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Alto Madeira. Porto Velho, 26 de novembro de 1930, 1.401, s/p. Santa Bárbara. Alto Madeira. Porto Velho, 30 de novembro de 1930, 1.402, p.2. Festejos de Santa Bárbara. Alto Madeira. Porto Velho, 03 de dezembro de 1930, 1.403,
s/p. Notas
e Informações.
Alto Madeira. Porto Velho, 07 de dezembro de 1930, 1.404, s/p. Festa
de Santa Bárbara. Alto
Madeira. Porto Velho, 25 de novembro de 1931, 1.506, p.3. Convite.
Alto Madeira.
Porto Velho, 30 de novembro de 1932, 1.613, p.4. Festa de Santa Bárbara. Alto Madeira. Porto Velho, 04 de dezembro de 1932, 1.611,
p.3. O encerramento do Mez Mariano. Alto Madeira. Porto Velho, 04 de junho de 1933, 1.666, s/p. Novenario de Nossa Senhora de Nazareth. Alto
Madeira. Porto Velho, 08 de outubro de 1933, 1.705, s/p. Festa de Santa Bárbara. Alto Madeira. Porto Velho, 26 de novembro de 1933, 1.719,
p.2. Programa dos Actos Religiosos da Semana Santa de 1935 em Porto Velho.
Alto Madeira. Porto Velho, 10 de abril de 1935, 1.862, s/p. Mez de Maria.
Alto Madeira. Porto Velho, 19 de maio de 1935, 1.873, s/p. Mez Mariano.
Alto Madeira. Porto Velho, 22 de maio de 1935, 1.874, s/p. Mez Mariano.
Alto Madeira. Porto Velho, 26 de maio de 1935, 1.875, s/p. Mez de Maria.
Alto Madeira. Porto Velho, 26 de maio de 1935, 1.875, p.2. A visita pastoral do ilustre Prelado Mons. Pedro Massa.
Alto Madeira. Porto Velho21 de julho de 1935, 1.891, s/p. Capella de S. Bárbara.
Alto Madeira.
Porto Velho, 21 de julho de 1935, 1.891, p.2. Festividades de S. Bárbara. Alto Madeira. Porto Velho, 04 de dezembro de 1935, 1.930,
s/p. Capella de S. Bárbara .
Alto Madeira.
Porto Velho, 27 de novembro de 1935, 1.928, p.2. Programa dos solennes festejos de Nossa Senhora de Nazareth em 1935. de
11 a 25 de outubro.
Alto Madeira. Porto Velho, 07 de outubro de 1936, 2.018, s/p. Festividades de Santa Bárbara em porto Velho.
Alto Madeira. Porto Velho, 29 de outubro de 1936, 2.033, p.2. Festejos de Nossa Senhora de Nazareth. Alto Madeira. Porto Velho, 15 de outubro de 1936,
2.029, p.3. Festividades de Sta. Bárbara em porto Velho. Alto
Madeira. Porto Velho, 26 de novembro de 1938, 2.242, s/p. Columna Mariana “Ave Maria”. Alto Madeira. Porto Velho, 30 de junho de 1940, 2.408, s/p. Columna Mariana “Ave Maria”. Alto Madeira. Porto Velho, 30 de junho de 1940, 2.408, s/p. Columna Mariana “Ave Maria”. Alto Madeira. Porto Velho, 13 de outubro de 1940, 2.439, s/p. Lista dos Noitarios do Novenario de Santa Bárbara, a realizar-se no
periodo de 26 de Novembro a 4 de Dezembro de 1940. Alto
Madeira Porto Velho, 24 de novembro de 1940, 2.450, s/p. Festa de Santa Bárbara. Alto Madeira. Porto Velho, 04 de dezembro de 1940, 2.453,
s/p. Festejos de Santa Bárbara. Alto Madeira. Porto Velho, 26 de novembro de 1941, 2.555,
s/p. Festejos de Santa Bárbara. Alto Madeira. Porto Velho, 30 de novembro de 1941, 2.556,
p.3. Festejos de Santa Bárbara. Alto Madeira. Porto Velho, 03 de dezembro de 1941, 2.557,
p.3. Festa de Santa Bárbara. Alto Madeira. Porto Velho, 13 de janeiro de 1942, 2.570,
p.2. Santa Bárbara.
Alto Madeira. Porto Velho, 28 de maio de 1942, 2.607, s/p. Festejos de Santa Bárbara. Alto Madeira. Porto Velho, 26 de novembro de 1942, 2.659,
s/p. Festejos de S. Bárbara. Alto Madeira. Porto Velho, 29 de novembro de 1942, 2.660,
s/p. Festejos de Santa Bárbara tera’ inicio no dia 26 de novembro 1943.
Alto Madeira. Porto Velho, 05 de novembro de 1943, 2.742, s/p. COSTA,
(Dom) João B.. Secção Religiosa O
Homem. Alto Madeira, Porto Velho, 10 de agosto de 1947, 3.115, p. 2. CANTANHEDE,
Antonio. Achêgas para a Historia de
Pôrto Velho A irmandade e a Capela de Santa Bárbara. Alto Madeira
Porto Velho, 10 de agosto de 1947, 3.115, p. 2. Terrenos urbanos. Alto Madeira. Porto Velho, 18 de dezembro de 1947, 3.153, p.2. Volta á imprensa o caso do Tem. Fernando Oliveira.
Alto Madeira Porto Velho, 1.º de abril de 1948, 3.182, s/p. CANTANHEDE,
Antonio. Achêgas para História de
Porto Velho. Alto Madeira. Porto Velho, 17 julho de 1949, 3.324, p.2. 3. Teses não publicadas LIMA,
Marta Valéria de. Mudanças e transformações das práticas rituais
do Barracão de Santa Bárbara em Porto Velho –RO. 2001.478 p. (Tese
de mestrado. Universidade Federal de Pernambuco). 4. Material gravado em DVD Tambor-de-mina
do Maranhão. Jorge
Babalaô. no 5350-03. Sonopress Rimo da Amazônia Indústria e Comércio.
Manaus, s/d. 5. Material gravado em CD-Rom CD
Imbarabô: mina do Maranhão. Jorge da Fé em Deus. no 20057-02. Sonopress
Rimo da Amazônia Indústria e Comércio. Manaus, s/d. CD
Casa fanti-aschanti: tambor de mina na virada pra mata. Euclides
Menezes Ferreira. no 16758-00. Sonopress Rimo da Amazônia Indústria
e Comércio. Manaus, s/d. CD
Casa fanti-aschanti: a barca (baião de princesas). JV Estúdio e Distribuidora.
no AA500. Gravadora CPC/UMES. São Paulo, 2002. CD
Caixeiras da Casa fanti-aschanti tocam e cantam para o Divino.
Vol. 5, no 86. Col. Itaú Cultural. no 18245-02. Sonopress Rimo da
Amazônia Indústria e Comércio. Manaus,
s/d. NOTAS (1) Mestre em Antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE Prof.ª do Departamento de História da Universidade Federal de Rondônia – UNIR [2]
As pesquisas por mim realizadas no
período de 1999-2000, junto ao Centro de Documentação do Estado de
Rondônia, Centro de Documentação do Tribunal de Justiça de Rondônia,
moradores antigos da cidade de Porto Velho, membros e ex-membros do
Barracão de Santa Bárbara e levantamento bibliográfico, não
indicaram ou apontaram indícios de qualquer outra comunidade que
possa ser considerada mais antiga ou de terreiro fundado há mais
tempo, quer na cidade de Porto Velho, quer em alguma outra cidade do
Estadp de Rondônia. [3]
Vide referências na relação bibliográfica. [4]
Idem. [5]
Outras informações sobre os dirigentes do terreiro serão
encontradas em LIMA, Marta Valéria de. Barracão de Santa Bárbara
em Porto Velho-RO: mudanças e transformações das práticas rituais.2001.
vol. I – cap. IV, p. 120-194. Dissertação (Mestrado em
Antropologia) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas,
Universidade Federal de Pernambuco, Recife. [6]
Vide a relação de notas e de artigos publicadas pelo jornal Alto
Madeira na bibliografia. [7] Mundicarmo Ferretti, que
tem desenvolvido pesquisas sobre este modelo religioso publicou os
seguintes trabalhos com os resultados das suas investigações: Terecô,
a linha de Codó (2001) e Encantaria de [8]
Vodunso significa entidade espiritual zelada pelos filhos-de-terreiro. [9]
Para obter mais informações sobre a participação da mulher no
Tambor de Mina vide: FERRETTI, Mundicarmo. A mulher no Tambor de
Mina. Revista de Ciências Sociais da UFMA. São Luís, vol. 4, n.
½, p. 117-136, jan./dez., 1994. [10]
Observe-se que esta descrição sobre os dirigentes de culto em
terreiros de São Luís a que Roger Bastide se refere são semelhantes
às descrições de Otávio da Costa Eduardo sobre a atuação dos
dirigentes de culto de um terreiro de Santo Antônio.
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