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Universidade Federal de Rondônia
Revista Eletrônica do
Centro de Estudos do Imaginário

Labirinto - Revista Eletrônica do Centro de Estudos do Imaginário

  

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A arqueologia e as origens imaginárias da nação brasileira

 (1839-1889)

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Johnni Langer *


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Resenhas

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Entrevistas

Primeiras Notas






CONSELHO EDITORIAL
Arneide Cemin
Ednaldo Bezerra Freitas
Valdir Aparecido de Souza

  
INTRODUÇÃO

"A Lua punha reflexos nos pilares, nos pátios, nas superfícies das paredes, ocultando-lhes as feridas e as imperfeições sob a brancura leitosa, revestindo-as da singular majestade da noite. O espetáculo era com efeito prodigioso, e prodigioso o pensamento destes milhares de anos em que o astro morto e a cidade morta se tinham contemplado, projetando de um para o outro, na solidão absoluta do espaço, a narração imutável da sua vida perdida, da sua glória extinta".  Rider Haggard, She, 1887.

Essa pequena citação de um célebre romance britânico nos lembra a importância das ruínas para o imaginário ocidental. Mas também nos adverte para a longa História da Arqueologia, uma tradição que remete aos valores da cultura material. Ao longo de todo o Oitocentos, essa tradição foi enraizada na recém formada nação brasileira, e se desenvolveu por todo o segundo império (1). Novas idéias se confrontando, adaptando, ou mesmo, metamorfoseando-se com antigas imagens românticas.

A Arqueologia é uma das ciências mais populares no imaginário ocidental. A imagem do cientista buscando ou escavando fragmentos do passado, ocupa até nossos dias, grande quantidade de romances literários, filmes, seriados e outras formas artísticas. Essa popularidade se deve, em parte, ao próprio percurso histórico desta disciplina, repleto de mirabolantes aventuras e extraordinárias descobertas. Ao mesmo tempo em que este imaginário era formado, desde meados do Setecentos, a Arqueologia iniciou a formação de um complexo sistema de idéias, relacionado com a interpretação da cultura material (2). Em diversos momentos ocorreu um amálgama entre teorias científicas e imaginário, ou então, um dando origem ao outro; e finalmente, chegando ao atual panorama, que separa claramente o mito do raciocínio arqueográfico. Entendemos a Arqueologia como um sistema de conhecimentos, muito além de uma simples disciplina de escavações de campo, abrangendo idéias, símbolos, imagens e mitos sobre cultura material e História, sempre vinculadas a diversos sistemas socioculturais: “Há muito tempo sabemos que todo sistema de objetos é também um sistema de sinais.” (Schnapp, 1993, p. 71). Desde a origem da Arqueologia, os traços do passado foram substituídos, de uma explicação funcional, para uma interpretação simbólica no processo de pesquisa: “Os objetos tem tanto de imaterial quanto de material (...) são também produtos da imaginação.” (Schnapp, 1993, p. 78). Apesar de ter como investigação objetos concretos, a Arqueologia desenvolveu imagens dependentes da sociedade em que está inserida, não importando a época em que foram elaboradas. 

A origem da arqueologia no Brasil

 As primeiras investigações envolvendo a ciência arqueológica em nosso país, foram efetuadas pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), vinculado diretamente com a elite imperial. O Instituto surgiu em um momento de grande instabilidade política, em circunstâncias que necessitavam da criação de subsídios culturais para a instauração de nossa nova nacionalidade. De norte a sul, ocorreram movimentos revolucionários que ameaçavam a integridade do território (1835-1845), conclamando por parte das elites a fundação de elementos unificadores, ao menos provisórios, para a total segurança política e econômica das províncias. Com o crescimento do movimento pela maioridade de Pedro de Alcântara (1838), reforçam-se os símbolos de elaboração de um sentido para nação. Mas para isso, o presente histórico imediato não apresentava alternativas viáveis. A solução, seria olhar para o passado, ou pelo menos, tentar encontrar no passado esses elementos unificadores do patriotismo. Como consequência direta dessa preocupação das elites imperiais, foram inaugurados no mesmo período o Colégio D. Pedro II, o Arquivo Público e o IHGB (3).

Criado através dos membros da Sociedade auxiliadora da Indústria Nacional,  a consolidação do Estado e a coesão territorial tornam-se as metas básicas do Instituto, inspirando-se no modelo europeu: “Uma vez implantado o Estado Nacional, impunha-se como tarefa o delineamento de um perfil para a nação brasileira, capaz de lhe garantir uma identidade própria no conjunto mais amplo das nações” (Guimarães, 1988, 6). Mas não era uma tarefa fácil, devido à grande diversidade étnica presente em nosso país e a presença inquietante da escravidão. Adaptou-se, deste modo, a influência iluminista a um modelo familiar ou, no caso, a um referencial próprio à realidade brasileira. Uma idéia de nação para poucos, pois a historiografia construída com essa finalidade excluiu todos aqueles que não fossem brancos, dignos portanto da marca civilizatória da Europa. Nas palavras de Manoel Guimarães, uma historiografia com duplo projeto: “dar conta de uma gênese da Nação brasileira, inserindo-a contudo numa tradição de civilização e progresso” (1988, 8).

A principal fonte de inspiração para a agremiação carioca foi o Instituto Histórico de Paris, fundado quatro anos antes que o equivalente brasileiro. Diversos intelectuais brasileiros frequentaram e publicaram estudos nesta instituição francesa, demonstrando profundos vínculos entre as propostas européias com as pretendidas no Brasil (4). A propósito, uma das metas do IHGB era promover um permanente contato entre as organizações culturais internacionais, tarefa que verificada por todo o império.

Em 25 de novembro de 1838, o primeiro-secretário do IHGB, Januário da Cunha Barbosa, proferiu os estatutos da recém-criada agremiação. A principal linha reguladora, aprovada em assembléia, centralizava-se nas buscas de vestígios do passado. Vestígios esses na forma de documentos antigos, crônicas e obras, mas também em relíquias esquecidas no solo pátrio: “O Brazil guarda nas entranhas de suas terras (...) thesouros preciosos, que devem ser aproveitados por meio de constantes e honrosas fadigas” (Barbosa, 1839, 21). Para aplicar na prática esses objetivos, o Instituto teve como importante apoio financeiro a imediata colaboração do Estado Imperial. Seis dias após o discurso de Januário Barbosa, o IHGB colocava-se sob a proteção de D. Pedro II (Guimarães, 1988, 9). O imperador não somente passou a auxiliar economicamente a instituição, como também participou ativamente de suas atividades e propostas de pesquisas: “D. Pedro e a elite política da corte se preocupavam, dessa maneira, com o registro e a perpetuação de uma certa memória, mas também com a consolidação de um projeto romântico, para a conformação de uma cultura genuinamente nacional” (Schwarcz, 1998, 127). É importante ressaltar que essa memória cultural construída pelos românticos nacionalistas, necessariamente atendia aos interesses da elite imperial, restringindo determinados aspectos históricos e, em alguns casos, omitindo outros.

Um outro aspecto igualmente importante dos objetivos da agremiação, foi sua regulação por critérios sociais e pessoais vinculados ao Estado Nacional. Ao contrário das instituições congêneres estrangeiras, onde a história foi produzida nos círculos universitários, no Brasil a elite erudita do império definiu os parâmetros desta disciplina de investigação. Mas em ambas prevaleceu uma concepção de história nacionalista, dominante na historiografia da primeira metade do Oitocentos.

A meta imediata do IHGB era criar o “delineamento de um perfil para a Nação brasileira, capaz de lhe garantir uma identidade própria no conjunto mais amplo das Nações” (Paz, 1996, 229). De um lado, as pesquisas históricas, geográficas e geológicas recolhiam informações nos interiores das diferentes províncias. Por outro, estimulava-se a produção de estudos monográficos sobre a história brasileira. Nesse contexto, surge a apropriação dos referenciais arqueológicos pelo IHGB, visando também o resgate documental para a elaboração dessa história nacionalista. 

O conceito de Arqueologia no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro

Na terceira reunião do Instituto Histórico, o marechal Cunha Mattos apresentou uma proposta para convidar um sócio residente em Minas Gerais, com o objetivo de investigar uma caverna chamada Lapa da Pintura. Pela primeira vez, na estreiante revista da instituição imperial, menciona-se a terminologia em questão, referente aos vestígios que poderiam ser encontrados nesse local: “objectos archeologicos” (3ªsessão, 1839, 59). No caso, as pinturas rupestres foram tomadas objetivamente como elementos constituintes da ciência material, monumentos a serem investigados empiricamente. Na investigação da Pedra da Gávea, os redatores da comissão utilizaram a mesma expressão, “dados archeologicos” (Porto Alegre, 1839, 100) para mencionar a altura de supostas inscrições fenícias, demonstrando o contexto na utilização dessa terminologia. Ainda na terceira sessão do Instituto, o marechal Cunha Matos leu uma memória, intitulada “Dissertação acerca da maneira de escrever a história antiga e moderna do Império do Brazil”, onde a expressão “archeologia” apareceu diversas vezes. Percebemos que sua noção de Arqueologia estava relacionada com a investigação de monumentos megalíticos, ausentes em solo brasílico mas muito comuns em Portugal, de onde veio com a idade de 41 anos.

Na grande operação de vasculhar os indícios da memória nacional pelo IHGB, o caráter eminentemente material da história foi percebido como parte da ciência arqueológica. A saber: vestígios de inscrições, objetos cerâmicos, ossos e fósseis – todo objeto relacionado às culturas indígenas – e fragmentos de ruínas coloniais ou de antigas civilizações. O conceito de Arqueologia, entretanto, ficou restrito mais às potencialidades que podem advir das buscas efetuadas no interior brasileiro, do que um método de investigação. Isso foi evidente com um relatório escrito pelo historiador Francisco Varnhagen. Ao enumerar as ações e possibilidades para se conhecer a história indígena em nosso país, Varnhagen enunciou diversos itens, sempre procurando criar subsídios empíricos para os associados do Instituto. No artigo primeiro, solicitou a criação de uma seção de etnografia indígena: “ao qual se ocupará dos nomes das nações (...) suas linguas e dialectos, localidades, emigrações, crenças, archeologia, usos e costumes, os meios de as civilisar” (Varnhagen, 1841, 62). A Arqueologia, desta maneira, foi percebida mais como uma série de vestígios associados aos indígenas, do que uma disciplina com método constituído. Mais adiante, no quinto artigo, novamente citou o vocábulo, desta vez associado com o estudo das “conjecturas geologicas” (1841, 63). A aproximação da Arqueologia com os estudos geológicos e paleontológicos foi muito comum no período. Manoel Lagos denominou a paleontologia de “archeologia da organisação(1848, 94). Afinal, ambos estudam ossos e fósseis (no imaginário popular, essa associação perdura até nosso dias). Mas com uma diferença – a apropriação dos vestígios humano, inexistente nas ciências da estrutura física da terra.

A atividade básica da Arqueologia no IHGB, era buscar os indícios que atestassem a pré-história do homem no Brasil:

 “A archeologia tem, n’esta parte, trilhado uma vereda tão segura, que, em despeito a tradições errroneas, póde pelos vestigios de um templo, pelos restos de seus muros, pela sua ordenação, pelos fragmentos de sua architectura, pela execução de suas partes, pela expressão symbolica de suas esculpturas, por uma medalha, por um sarcophago, por uma encaustica e por um fresco de muro, ou de soffito, fazer uma combinação engenhosa, uma comparação com os factos precedentes, que apresenta em resultado a verificação de uma épocha, e uma correcção na historia” (Porto Alegre, 1841, 548-549).

 Ao descrever a história de uma antiga escola de pintura carioca, o erudito Porto Alegre apontou o caminho para recuperar as formas do belo na arte antiga. Comparando os vestígios da arte clássica com os percebidos no Brasil colonial, o autor recorreu aos estudos clássicos para recuperar essa memória artística, mas também para apontar erros ou falsas interpretações no presente. Não se pode esquecer também que a Arqueologia era concebida na primeira metade do Oitocentos como um “tratado sobre as antiguidades, estudo dos monumentos e costumes antigos” (Silva, 1858, 200). Aqui surge mais um conceito da Arqueologia – como auxiliar no estudo da história. As próprias fontes históricas tornam-se também objetos arqueológicos: “O sr. Varnhagen, esmerilhando os archivos e cartorios mais ricos de antiguidades (...) lavrando as minas archeologicas da cidade” (Barbosa, 1844, 15). 

Mas e quem foram os primeiros arqueólogos do IHGB? Os mesmos que desempenharam a função de historiadores da memória nacional (5). Particularmente, os alcunhados pela denominação nas primeiras décadas foram Francisco de Varnhagen (“infatigavel archeologo e distinto litterato”, Silva, 1849, 210), e Benigno de Carvalho (“genio archeologico”, Barbosa, 1841, 527). Havia também aqueles a quem eram designadas algumas investigações empíricas, como Manoel Porto Alegre e a expedição para examinar a inscrição da pedra da Gávea (6). Posteriormente, esse intelectual foi designado para ser diretor da seção de Arqueologia do IHGB (criada em 1847) e do Museu Nacional. 

A principal metodologia de campo utilizada pela Arqueologia no império até 1860, foi a identificação empírica dos vestígios de antiguidade indígenas e a busca de ruínas. Escavações foram realizadas fortuitamente, sem registros estatigráficos. Intencionava-se recuperar relíquias para serem enviadas ao IHGB, como prova do passado da nação. Somente a partir dos anos 1870 iniciaram-se pesquisas mais meticulosas, culminando com a utilização de métodos advindos da geologia moderna e da Arqueologia pré-histórica. 

As origens imaginárias da nação brasileira e a Arqueologia

 É exatamente dentro destas perspectiva examinadas, após a instalação do Estado Nacional no Brasil, que viabilizou-se uma maneira de pensar o passado. Com a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1838, se materializaram de forma sistemática diversas propostas empíricas e teóricas para encontrar a gênese da nação. Paralelamente aos levantamentos documentais, historiográficos e etnológicos, a primeira década do segundo império foi caracterizada por uma grande preocupação com temas arqueológicos. De um lado, vestígios epigráficos encontrados por todo o Brasil, atestavam os testemunhos de uma memória pré-histórica; e de outro, formidáveis ruínas que, em caso de serem descobertas, comprovariam antigas glórias monumentais em solo pátrio. A nação tropical se estabeleceu como uma realidade presente e o projeto para a realização futura da sociedade. 

Talvez uma das melhores definições de nação tenha sido concedida por Benedict Anderson: 

 “Ela é uma comunidade política imaginada – e imaginada como implicitamente limitada e soberana. Ela é imaginada porque nem mesmo os membros das menores nações jamais conhecerão a maioria de seus compatriotas, nem os encontrarão, nem sequer ouvirão falar deles, embora na mente de cada um esteja viva a imagem de sua comunhão” (Anderson, 1989, p. 14). 

 Mas não somente a comunidade é imaginada, mas todo o território físico, e por consequência, os próprios elos com um passado histórico. A sua extensão também é imaginada como limitada, porque sempre possui fronteiras com outras nações, povos e raças. Ao comparar a imaginação nacionalista com a religiosa, Anderson estabelece um importante princípio: a existência de uma relação de continuidade entre os seus membros. O nacionalismo transforma o acaso em destino, explicando e, ao mesmo tempo, concedendo significado à existência do indivíduo (Anderson, 1989, p. 14-20). A origem da nação, por sua vez, se explica a partir do momento em que as tradições genealógicas são transferidas para um corpo político, com os devidos estatutos de soberania: “poder inaugurar a História, ao designar o acto que a inaugura e o objecto que a preencherá: a nação abre à sociedade a História da sua própria construção.” (Guyomar, 1984, p. 284).

A nação como guia e modelo para uma sociedade em formação. Um elo simbólico entre o que virá e o que foi: “Extraordinário quadro mítico que oferece uma direcção à História futura, instaurando também um presente que é uma origem.” (Guyomar, 1984, p. 284). Neste momento, ocorreu um encontro de imagens míticas, todas apontando inevitavelmente para a estruturação simbólica de uma sociedade política definida, o Estado imperial brasileiro. Identificar o lugar da nação, com que critérios e a partir de que momento teve início, foram as questões principais levantadas pelos membros do IHGB. Em outros termos, o discurso da elite nacionalista identificou a nação brasileira a um mito de origem. J. Guyomar estabelece que essa imagem de identificação deve recorrer a um duplo – o reconhecimento de si mesmo em outro contexto, possibilitando uma identificação social aos membros da comunidade (p. 298). Segundo Manoel Guimarães, a nova nação brasileira se reconhecia enquanto continuadora de um projeto civilizador português (1988, p. 6). Porém é possível conceber uma visão paralela: os anos 1840 foram o auge da tentativa da monarquia brasileira de recuperar restos monumentais, relacionando as mais antigas páginas da História nacional com civilizações formidáveis, a exemplo da Atlântida de Platão ou os intrépidos fenícios e vikings. Seria apenas uma coincidência que no mesmo ano da coroação de D. Pedro II, efetuaram-se as principais expedições de busca da cidade perdida pelo interior da Bahia? Na realidade, aqui verificamos a sobreposição de duas imagens míticas: um mito de procedência mais antiga – as cidades imaginárias – sendo utilizado para definir a antiguidade do Brasil, o mito de origem (7). Claro que foi uma ligação aleatória: mesmo que tais vestígios arqueológicos tivessem realmente sido descobertos, a sua vinculação com o império seria também imaginária.

Neste contexto, todo o período anterior à vinda de Cabral constituiu um tempo mítico, complementado com os anos após os descobrimentos, o tempo histórico. A nação brasileira, aos moldes do pretendido pela elite imperial, teria sempre existido, ou, pelo menos, suas raízes seriam encontradas neste tempo mítico: “O conhecimento científico acaba por contribuir para a demarcação imaginária de um espaço que, diríamos, não é atemporal, mas sempre existiu no tempo.” (Bittencourt, 1997, p. 207). O mito das cidades abandonadas passou a ter um valor paradigmático, constituindo um modelo de referência do passado nacional: a geração perdida, uma civilização muito avançada, que deixou marcas por todo o território, rastreadas neste momento pela Arqueologia. O que evidencia a participação do mito na História: “Sempre que um povo procura reunir-se politicamente numa nação, assiste-se ao esforço de construção de uma História nacional mítica.” (Guyomar, 1984, p. 298). É por meio da História mítica que ocorre o suporte para a identificação coletivizante na consciência das pessoas, na maioria das nações (Castoriadis, 1982, p. 179). 

A História mítica foi parte inseparável de toda a produção arqueológica do império, e a partir dos anos 1850, quando a legitimidade do encontro de urbes pré-históricas foi questionada pelo imaginário erudito, ela deslocou-se para outros temas de interesse na intelectualidade. As marcas da geração perdida foram buscadas nos próprios indícios das tribos indígenas então existentes, ou nos restos soterrados de desaparecidas culturas: ossos, cerâmicas, armas, utensílios de pedra, sambaquis. Novas teorias científicas surgiram, comprovando a superioridade do europeu perante os ameríndios. A Arqueologia desta ocasião perpetuou imagens tradicionais sobre o indígena brasileiro, ao mesmo tempo em que atualizou recentes concepções acadêmicas vindas do Velho Mundo. 

Neste momento, a imagem das raízes da nacionalidade foi somada aos elementos que poderiam fornecer nossa futura condição racial. Já nos anos 1870, o conceito de raça surgiu como um forte elemento de segregação ao corpo simbólico da nação, reiterando as antigas exclusões sociais da noção de civilização: os índios e principalmente os negros foram descartados. Se pensarmos ainda, na linguagem como ponto primordial de integração e exclusão na nação, podemos refletir sobre uma importante prática difusionista (8), presente em todo o império e com grande importância nas duas últimas décadas.

Desde Carl von Martius, Varnhagen, Barboza Rodrigues e Ladislau Neto, chegando até a autores estrangeiros como Onfroy de Thoron, os estudos de similitude linguística foram uma prática muito comum na Arqueologia oitocentista. Para diversos pesquisadores, existiriam formas fonéticas do Velho Mundo inseridas no vocabulário dos ameríndios. Mesmo palavras inteiras, com idêntica grafia e sentido, eram encontradas nas mais diversas tribos brasileiras – uma “prova” de um antigo contato, migração ou colonização dos europeus no Brasil muito tempo antes dos portugueses. Uma imagem que apontava para uma incrível experiência de simultaneidade através do tempo. Ora, a linguagem é a base de uma comunidade, logo, comprovou-se mais uma vez, as origens míticas da nação! Desta forma os indígenas já possuíam em seus dialetos alguma das futuras expressões da linguagem da Pátria: “se a nacionalidade tem a seu redor uma aura de felicidade, esta é, não obstante, uma fatalidade encravada na História.” (Anderson, 1989, p. 159, grifo do autor). 

Este modelo pode ser aplicado ainda para outras práticas difusionistas de tipologia (9), presentes em grande número de arqueólogos desta época. Ladislau Neto, por exemplo, ao estudar a cerâmica marajoara, identificou formas simbólicas (hieróglifos) que comparou às civilizações do Velho Mundo. Suas conclusões apontaram para uma civilização imperial na Marajó pré-histórica, isolada em meio à barbárie indígena no resto do território (10). Em termos simbólicos, não poderia também refletir a própria situação política do país, única monarquia em meio às repúblicas sul-americanas? Afinal, somente o Brasil poderia almejar a posição de civilização branca e européia nos trópicos: 

“O que os olhos são para o amante – aqueles olhos comuns especiais com que ele, ou ela, nasce - a língua é para o patriota – qualquer que seja a língua que a História tenha feito sua língua materna. Por meio dessa língua, que se encontra no colo da mãe e se abandona apenas no túmulo, reconstituem-se os passados, imaginam-se solidariedades, sonham-se futuros.” (Anderson, 1989, p. 168).

 Ainda em relação à concepção de simultaneidade da nação, podemos perceber outro aspecto envolvendo a Arqueologia. Durante todo o segundo império, com maior intensidade nas últimas décadas, foram publicadas reportagens jornalísticas enfocando temas pré-históricos. Com uma abrangência de leitores muito maior que os artigos da Revista do IHGB e o Archivos do Museu Nacional, e envolvendo praticamente todas as províncias, elas demonstram a grande repercussão em torno de um passado alternativo. Apesar de não termos tido acesso direto à maioria destas fontes – uma grande vertente de possibilidades para pesquisas futuras – conseguimos determinar o impacto promovido por elas no imaginário do império. Nos anos 1840, ocorreram muitas reportagens em jornais e revistas populares da Bahia, difundindo o tema da cidade perdida. Na década de 1850, jornais cariocas e paulistas enfocaram vestígios fenícios pelo sul do Brasil e Argentina. A miragem fenícia ainda retornou inúmeras vezes aos jornais, principalmente após o escândalo da pedra da Paraíba após 1872 (11). Aqui lembramos outros vestígios, como estátuas e ídolos encontrados no Amazonas, inscrições misteriosas em Santa Catarina, sambaquis no Rio Grande do Sul, além das incontáveis reportagens escritas por Ladislau Neto, Barboza Rodrigues, Karl Koseritz, entre outros. Estas imagens sobre assuntos arqueológicos veiculados pela imprensa de todo o império, criaram vínculos imaginários e ligações entre os leitores para uma comunidade de sentido – a nação brasileira e seu passado: “archaeology and history also were used to glorify the national past in an effort to encourage a spirit of unity and cooperation within industrialised states.” (Trigger, 1984, p. 358).

Dentro do território nacional existiriam evidências que remeteriam ao tempo mítico, recordações de uma geração perdida, necessitando ser conhecidas pelos eruditos de então. Se levarmos em conta a concepção de Benedict Anderson, pela qual um jornal seria uma espécie de romance “cujo autor tivesse deixado de lado qualquer idéia de um enredo coerente” (1989, p. 42), temos então que considerar a difusão muito mais ampla de imagens com a mesma estrutura veiculada pelas revistas acadêmicas, apenas mudando a forma textual. E também não muito diferente de romances brasileiros com temas arqueológicos propriamente ditos, como o Dr. Benignus de Emílio Zaluar, 1875. Todos convergindo para uma só direção: o glorioso passado, fragmentado mas passível de ser conhecido. Desta maneira, o jornal funcionou como um elo de ligação entre a comunidade do império, vinculando os tempos pré-históricos ao cotidiano dos leitores. Novamente vemos aqui conceitos culturais básicos para a estrutura de uma nação: a língua escrita (o português), tratando de temas brasileiros (o território), resgatando o passado perdido (tempo mítico), com extremo valor e importância para o presente (tempo histórico). O leitor-indivíduo identificou-se socialmente com essa “História sagrada da nação,” explicando também o motivo de tanto sucesso destes temas jornalísticos: “práticas coletivas comuns que, sozinhas, conferem uma realidade palpável àquilo que de outro modo seria uma comunidade imaginária.” (Hobsbawm, 1990, p. 86).

Epílogo: o fim do Império e a permanência do imaginário

 Neste momento, determinamos uma conclusão, ao compreender porque as pesquisas arqueológicas declinaram com a primeira república, e também, porque cessaram diversos mitos arqueológicos mantidos pela academia brasileira. Justamente as duas grandes instituições mantenedoras de pesquisas e escavações durante a monarquia, o Instituto Histórico e o Museu Nacional, da proclamação até a virada de século, omitiram qualquer nova referência sobre o tema. 

Foi somente com o império que a Arqueologia desenvolveu imagens que poderiam unificar o tempo histórico e o tempo mítico: as revelações dos  vestígios do passado (o mito de origem), formariam as bases simbólicas da pretendida sociedade futura: 

 “A História real deve, pois, ser interpretada, perspectivada, segundo a lógica dos discurso nacionalista, para que a História sagrada da nação tome corpo e para que o tempo histórico se identifique com o tempo do mito. Então, a nação será salva, porque ela estará totalmente cumprida. No discurso político, o tempo escatológico está constantemente presente” (Guyomar, 1984, p. 299). 

 Fracassando o projeto político do império, a concepção de História e geografia que realizava sua legitimação e sua identidade também foram abandonadas. A busca por relíquias e restos de um passado específico – a geração perdida, não encontrou mais significado no novo regime. Lembramos ainda que a noção de História mítica, pela qual a maioria das pesquisas arqueológicas estiveram dependentes, criava um todo uniforme no imaginário erudito da época, subordinando qualquer recorte regional ao “desenho feito a partir da visão da burocracia imperial.” (Bittencourt, 1997, p. 407). Assim como o território, o tempo mítico não tinha divisões internas, particulares, mas simbolizava a unidade e a ordem da nação monárquica. Com isso, as concepções de Arqueologia foram orientadas a partir do Rio de Janeiro, sem particularidades regionais.

Compreendemos a Arqueologia do segundo reinado como um sistema de conhecimentos, estudando o passado mas também relacionada a um tempo escatológico. Vestígios reais foram resgatados, ao lado da criação de relíquias e monumentos imaginários, consolidando o projeto nacional. A partir de 1889, a trajetória da Corte foi interrompida, desfazendo-se essa lógica do mito. Ao Estado já não interessava qualquer tipo de centralização científica, e durante o novo século, diversos centros arqueológicos independentes foram criados pelo país, ou então, pesquisas conduzidas por escavadores isolados. E segundo a historiografia tradicional, somente a partir dos anos 1950 a Pré-História brasileira novamente reencontrou prestígio internacional.

Podemos dizer que com a morte de Ladislau Neto em 1894, também acabou um tipo de Arqueologia no Brasil, romântica e sonhadora, filha do Oitocentos. Novos personagens surgiram posteriormente, renovando o cenário acadêmico com um tipo de ciência mais condizente com sua época e realidade cultural. Porém, no novo milênio, é interessante constatarmos que as antigas imagens míticas tão perseguidas no império não desapareceram totalmente. Estão vivas na imaginação de muitos pesquisadores leigos, ainda empenhados na sua busca e localização. Enquanto a academia contemporânea ocupa-se com novas preocupações metodológicas e técnicas, alguns amadores mantêm vivo o ideário criado por uma antiga elite, que pretendia produzir uma nação com as mesmas características da Itália e sua Roma antiga, ou ainda, uma França e seu passado celta. A monarquia brasileira atualmente sobrevive apenas nos livros didáticos e nas salas de museus, mas algumas de suas imagens míticas estão mais atuantes do que nunca. Pois afinal, os mitos não são eternos?

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Notas

 (1) O mais extenso trabalho publicado sobre história da arqueologia brasileira, de Alfredo Mendonça de Souza (1991), além de descritivo, parte do pressuposto cientificista da superioridade moderna do método. Funari (1994), Prous (1992), Holten & Guimarães (1997), Barreto (1999-2000) forneceram alguns elementos analíticos para a arqueologia no império. Além de nossas publicações anteriores sobre o tema (Langer, 1996, 1997a, 1998, 2001a, 2001b, 2001c, 2001d, 2002a, 2002b, 2002c, 2003, 2004a, 2004b), outro trabalho que resgata criticamente o período imperial é o de Lúcio Menezes Ferreira (1999, 2003a, 2003b). 

(2) Para referências sobre história da arqueologia setecentista e oitocentista na Europa ver: BAHN, 1996.

(3) Sobre a origem do IHGB e o contexto cultural do período a bibliografia é numerosa. Ver: Wehling, 1983; Guimarães, 1988, 5-27; Ventura, 1991, 17-43; Schwarcz, 1993, 101-111; Guimarães, 1995, 507-546; Paz, 1996, 223-254; Schwarcz, 1998, 126-144.

(4) Sobre a relação entre as duas instituições ver: Faria, 1965.

(5) Em 1847, os historiadores foram conclamados a realizarem estudos dos vestígios materiais: “As pesquizas archeologicas devem tambem occupar o historiador brasileiro” (Allemão et alli, 1847, 281).

(6) A respeito da pedra das inscrições e das polêmicas sobre a pedra da Gávea, ver: LANGER, 2001a.

(7) Sobre a cidade perdida da Bahia ver: LANGER, 1998.

(8) Difusionismo – Teoria arqueológica muito comum em finais do século XVIII e por todo o XIX, que creditava a origem dos sítios e demais produtos da cultura material ameríndia, para civilizações do Velho Mundo, ou ainda, para culturas imaginárias da antiguidade, como a Atlântida. O difusionismo foi herdeiro de velhas imagens da americanística, presentes desde a descoberta do continente americano, mas agora incorporadas com a nova linguagem da ciência do antigo. Não confundir com a escola de antropologia surgida na Inglaterra no início do século XX, segundo o qual a cultura se difunde a partir de um pequeno número de regiões pelo mundo. A teoria do difusionismo arqueológico “rejects the idea of independent invention of cultural advances in favor of claiming diffusion from older existing cultures.” Frost, 1993, p. 46.

(9) Tipologia: conjunto de critérios considerados diagnósticos para a separação de uma população em categorias; agrupamentos numa série de classes, dependendo das finalidades da tipologia. Souza, 1997, p. 123.

(10) Sobre as pesquisas de Ladislau Neto consultar: LANGER, 2001a.

(11) Em 1872 teria sido encontrado no interior da Paraíba, inscrições consideradas fenícias. O assunto foi reportagem em diversos jornais pelo mundo, recebendo a atenção de acadêmicos internacionais. O então diretor do Museu nacional, Ladislau Neto, envolveu-se diretamente com essa polêmica. A partir de 1885 as inscrições foram consideradas falsificações.

*Johnni Langer é Doutor em História, professor da UNICS, PR. 
 
End. Eletrônico:
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