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Revista Eletrônica do Centro de Estudos do Imaginário
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_______________________________________________________ O
Imaginário do medo: a escravidão em
Manuel Macedo |
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Resenhas Biblioteca Entrevistas Primeiras Notas CONSELHO EDITORIAL Arneide Cemin Ednaldo Bezerra Freitas Valdir Aparecido de Souza |
Cléria Botelho da Costa [1] Nada
antigo perde a poesia. A
venda: espaço dos vícios Numa
planície estreita entre a Serra
do Mar e as praias, no alvorecer da manhã os
pássaros acordavam os moradores na
Casa Grande ou nas casas de taipa de pilão. Era o alvorecer
nos canaviais. Eles
despertavam e ainda escuro tomavam o rumo do engenho. Seus nomes
não importam.
Era Maria, João, Simeão, Pai – Raiol,
Lucinda, dentre muitos outros escravos. Deles
pouco se conhece. Todos tinham em comum, o trabalho árduo de
sol a sol, os
castigos, o desrespeito humano dentre outros. Eram figuras fugazes.
Muitos
viviam nas Casas Grandes em serviços domésticos.
Outros faziam do seu trabalho
as plantações em torno do Engenho. De uma forma
ou de outra desenvolviam seus
fazeres sob a égide da escravidão. O engenho, uma propriedade rural com cultura de cana e uma sede constituída de vários edifícios, sobreviveu até o final do século XIX. Havia a casa do proprietário conhecida como casa de vivenda ou Casa Grande; a casa do administrador e as casas de escravos ou senzalas que variavam quanto à proximidade da Casa Grande. Com raras exceções, todos os engenhos dispunham de uma capela para culto da religião católica, religião professada pelos trabalhadores livres, proprietários e escravos. No final do século XVIII e durante o XIX fora intenso o crescimento da produção do açúcar na capitania de São Sebastião do Rio de Janeiro. Concomitante a essa prosperidade, crescera o fausto e o luxo dos senhores da cana, propiciado pela exportação do açúcar. Em contraposição, aponta o cartógrafo Couto Reis [2]crescera a fome que corroia o corpo das populações e o campo tomara nova configuração - os canaviais substituíram os espaços, outrora destinados às lavouras de subsistência. Complementando
essa moldura cultural e
espacial da capitania de São Sebastião aponta
Macedo que no interior, longe da
vila e dos povoados, havia quase sempre, uma venda perto da fazenda.
Essa se
apresentava distinta das tabernas que em toda parte se encontrava e das
casas
de comercio, onde os lavradores ricos ou pobres compravam suas
provisões. “Era
uma pequena casa de taipa, coberta de telhas com paredes nem sempre
caiadas e
chão batido. No seu interior, um balcão contendo
garrafas, botijas, latas de
tabaco em pó e voltas de fumo em rolo “(p.9). Era
ali, o espaço onde os escravos se
encontravam à noite, nos dias de trabalho ou à
luz do sol nos domingos e dias
santificados. Às horas mortas da noite chegavam os
quilombolas trazendo o
tributo de suas depredações nas roças
vizinhas e levavam consigo, além de
alimentos, a pólvora e o chumbo para a resistência
nos casos de ataques aos
quilombos. A venda também era o ponto de encontro dos
escravos que cansados dos
fatigantes fazeres cotidianos, dos açoites dos feitores, das
injurias dos
senhores lá, eles jogavam cartas, conversavam com seus
comparsas talvez, quem
sabe, buscando manter frestas de esperança que os movesse
à vida - única franja
de uma possível quimera; embebedavam-se, espancavam-se;
socializavam seus
conhecimentos sobre os prodígios do feitiço,
sobre as raízes e plantas
mortíferas, era um espaço de comunhão
entre os pares que a dureza do trabalho
cotidiano – envolto em trabalho forçado e castigo
não permitia. Contudo,
sob o teto da venda a tensão entre
escravos e senhores eram expressos nas calunias que, muitas vezes
contadas sob
o som de gargalhadas, chegavam até a honra das filhas e das
esposas dos
senhores; no planejamento das insurreições; na
premeditação e planejamento de
crimes hediondos, dentre outros. Foi na venda que Simeão
encontrou e tornou-se
amigo de Barbudo, homem livre, branco, sem
ocupação e assíduo
freqüentador do
lugar. De grande influencia sobre Simeão foi mentor e
cúmplice do assalto à
fazenda e do assassinato de Domingos e Angélica, senhores de
Simeão, o escravo. No
plano da construção narrativa
percebo a representação da venda para o literato,
certamente compartilhada por
muitos outros brasileiros, como um espaço onde reinava a
desordem e, enquanto
tal como um espaço de transgressão. Assim, a
venda era um lócus que expressava
constante ameaça aos poderes instituídos dos
senhores, pois ali, os escravos
traçavam o desenho das ações que
transgrediam as normas naturalizadas pela
sociedade imperial. Para Macedo a venda era
“uma espelunca ignóbil,
fonte de vícios e de crimes, manancial de profunda
corrupção (...) é o espelho
que retrata ao vivo o rosto e o espírito da
escravidão” (p.11). Nessa compreensão,
a venda era o locus de sustentação da
escravidão. Talvez, por isso, alerta o
literato ela sempre foi tolerada pela polícia, pelo governo,
pelos fazendeiros
e não havia força capaz de
aniquilá-la. A
venda era o espaço onde os corações
dos escravos regados pelo ódio e pela vingança,
faziam germinar o crime, a
traição, a desforra. Ali eram traçadas
muitas das práticas transgressoras que
construíram
e reforçaram a imagem do escravo/ negro na sociedade
carioca, como traidor, assassino
e algoz. Todavia, ensina Castoriadis que as imagens são
representações das práticas,
recriadas pelos desejos e fantasias[3],
ou seja, as imagens dos escravos como algozes etc. foram forjadas nas
práticas
dos cativos e recriadas pelos desejos e fantasias dos escravocratas. E
uma
constelação destas imagens criativas vai compor o
imaginário[4].
Fora então a partir daquelas imagens que a elite criara o
imaginário do medo,
do “perigo negro” o qual fora espargido com
intensidade no XIX e que, ressignificado
perdura até o tempo presente (2005). Assim,
o imaginário do medo dos escravos não deve ser
interpretado como mero delírio
dos senhores escravocratas, ele fora tecido nas tramas, nos conflitos
entre
senhores e escravos e á partir dos fazeres destes. Fazeres
que no final do
século XIX ganhara novas
significações. Nos tempos coloniais os atos de
confrontação contra o senhor ou o feitor eram
resolvidos dentro do contexto
domestico enquanto no final do século as mortes, as
transgressões culturais propiciavam
visibilidade pública às vozes dos escravos e eram
reconhecidas, pela sociedade,
como um ato contra a escravidão. Eles tomaram uma
dimensão pública, o que
fizera crescer a importância que a sociedade conferia aqueles
atos de
transgressão social. Macedo
movido pelo medo das crescentes
transgressões dos escravos, da visibilidade que os cativos
começavam a ganhar
na sociedade apresenta a sua tese emancipacionista que perpassa toda a
obra: a
escravidão devia ser gradualmente extinta pelos
próprios senhores
proprietários, antes que as ameaçadoras senzalas
pudessem macular as fazendas e
sobrados brancos. Este ato testemunharia, na lente do autor, a
generosidade, a
bondade daqueles em relação aos seus algozes.
Todavia, sob o meu olhar, ela
revela a comunhão entre o narrador e a elite imperial, pois
na medida em que prioriza
os senhores, adere a convencionalidade formuladora de
estereótipos do
escravo/negro e tritura as fantasias destes,
condição de sobrevivência do homem
ainda que vivendo sobre opressão. A escravidão engendra o medo Para
o literato a escravidão tinha o
sabor acre das frutas venenosas plantadas, no país, pelos
colonizadores. Essa
herança colonial propiciara a imagem da fratura
materializada nas grandes
divisões econômicas, sociais, políticas
e culturais ainda expostas no período
em questão, final dos anos 60. Elas sinalizam para uma
complexidade cuja
dimensão não pode ser ignorada quando se assume o
desejo de apreender as
relações entre a literatura e seu contexto
histórico. E, tais fraturas se
aguçaram quando as elites, para por fim ao colonialismo
dão início ao processo
de construção da identidade nacional. Diante
disso, o projeto dos nossos
literatos procurou definir-se como um ato de suplência,
chamando para si a
missão de conferir unidade a um país com fendas
de todas as ordens. E a
escravidão propiciava inúmeras cisões
na sociedade brasileira que deveriam ser
encobertas com o manto do nacionalismo. Assim, a política
nacionalista ganha
contornos concretos na luta empreendida por Macedo, Castro Alves,
Aluisio de
Azevedo, dentre outros, contra a escravidão. Macedo em As
vítimas algozes não
foi nota dissonante, buscou cerzir as frestas entre senhores,
fazendeiros,
escravos e sociedade como se verá posteriormente. Para
além, da herança maldita dos
tempos coloniais Manuel Macedo, certamente, expressando o
imaginário de muitos
outros brasileiros, explicita, na obra, os sentidos da
escravidão. A escravidão
é “um cancro, sífilis moral que
infecciona as casas e fazendas senhoriais”; “
é
serpente : sua língua derrama sempre veneno;”; “ a
escravidão , mãe das vítimas
–algozes, é
prolífica”; “
monstro desumanizador das
criaturas humanas”; “
é um crime da
sociedade escravagista”. E finaliza o livro conclamando a
sociedade para bani-la.
Nas representações citadas
antes, o
literato desenha a
escravidão como
doenças malignas e veneno que corroem e definham o corpo
social conduzindo-o a
deformações que simbolizavam a morte. A morte
enquanto representação
simbólica , no pensamento
cristão ocidental significa não
um fim, mas
o recomeçar de uma nova vida. Assim. o
fim da escravidão poderia significar um novo tempo, o recomeçar da
história brasileira no qual a
cultura escrava, negra poderia ser hegemônica desbaratando,
então o sonho da
elite Imperial quanto à
modernidade e à civilização,
única franja de possível utopia. Ela
seria a quebra de uma história linear, pautada na
idéia do progresso
e a instauração de uma outra
história construída pela voz dos escravos e das
demais vozes dissonantes
da elite no Segundo
Reinado. Essa
possibilidade, gestada na escravidão, era real e sobre isso
comenta Fanon[5]
estudioso da colonização africana que, a fantasia
do colonizado , do oprimido é
sempre ocupar o lugar do colonizador, do opressor. Dessa possibilidade
de
inversão da ordem emerge, no imaginário da elite
imperial, branca e culta [6],
o
medo dos escravos. Assim, pouco importava que o nome
fosse Simeão, Lucinda, ser escravo era a
marca mais forte da sua identidade. Todavia, o autor também
reconhecia que para
além do seu lado nefasto, a escravidão era
manancial de trabalho nos campos,
riqueza agrícola e amplo capital
que materializava a
fortuna de proprietários, portanto, ao
ser abolida teceria cruéis despedidas. Nas
representações do escritor a
escravidão
era a
mãe que gerava, fecundava e nutria
homens escravizados. Ela tornava
perverso o coração dos escravos, desumanizava-os e
os
transformava em monstro que atemorizava toda a sociedade. Ela
engendrava o ódio
, a vingança, qualidades humanas avessas aos
princípios cristãos do mundo
ocidental onde “o
sofrer resignadamente”
tornou-se, quase um refrão popular, um estatuto do ser
humano. Por produzir
algozes, a escravidão também carregava o
sentido de criminosa. Mas, ao descortinar os véus que
encobrem aquelas representações
observo que o
literato se pauta numa
concepção de História
cuja preocupação
primeira é à busca da
“origem” - onde
estava a causa da
maldade do escravo? e ele
facilmente a encontra na escravidão,
fonte geradora da animalização, perversidade,
traição , dentre outros numa
relação mecanicista de causa e efeito.
Não
levava em conta que a realidade brasileira estava plenamente cindida
pelas marcas do
período colonial e apresentava
uma fisionomia multifacetada. Entendo que
esta forma de construir
a História centrada na relação de
causalidade dos fatos, a encaminha rumo
uma linearidade que
teria como topo o
progresso, naquele momento vislumbrado na modernidade
e na civilização. Esta História
linear, na minha compreensão, delineia um momento de perigo,
para usar uma
expressão benjaminiana, porque possibilita a
construção de uma
História oficial que vai sempre excluir e
pisotear os vencidos como aponta Benjamin [7],
no caso
em pauta , os escravos e celebrar o triunfalismo dos senhores. O autor expressa na sua obra o imaginário ufanista, do Segundo Reinado o qual , sob a batuta do Instituto Histórico Brasileiro (IHGB), edifica a História oficial do país como mostra Schwartz[8]
Na
construção literária do autor
observo que ele busca
naturalizar as
imagens físicas, biológicas do escravo negro
africano como um ser não humano,
um animal que, com dentes afiados poderia atacar o seu senhor a
qualquer
momento, ser inferior na escala
darwiniana. Neste sentido,
reafirma o medo referenciado nos traços
biológicos do escravo. Delumeau [15]
coloca
que o medo está sempre associado à noite , isto
talvez esteja associado aos perigos
que a humanidade conheceu durante a
noite fazendo nascer um medo quase natural da escuridão, a
privação da luz é sempre
uma sedução à busca da
imaginação. Por isso, acrescenta o autor, as
letras
clássicas e a Bíblia durante muito tempo
conjugaram suas ações para induzir nos
homens o medo da noite. Shakespeare revela inúmeras
ações noturnas em suas
tragédias, Macbeth evoca
“ a mão
sangrenta e invisível da noite”. Era a
escuridão evocando o medo. Refletindo
sobre este terror da noite, do escuro apontado por Delumeau em diversos momentos
históricos , posso
inferir que esta apropriação do medo a partir da
escuridão, talvez esteja associada
à construção do
medo dos escravos que, nos
tempos iniciais da escravidão eram negros africanos. Assim, a imagem do escravo
negro tal qual à
noite fora associada
ao medo, ao perigo,
imagem que até hoje , 2005, continua muito presente. A cor
da pele, a etnia
passa a ser decisiva na representação do perigo.
Ser escravo/negro era sinônimo
de bandido, de
traidor e a vingança e o
ódio eram sentimentos peculiares a seus
corações, móveis que impulsionavam
suas
práticas de barbárie. O imaginário do
medo sedimentava as diferenças culturais,
históricas, raciais dos discursos dos senhores na sociedade
brasileira no XIX. Assim,
a escravidão parecia se apoiar na crença da
supremacia racial de que sob cada
pele escura havia um algoz, convicção que
cresceu, espalhou-se e fortaleceu o
mito racista. Talvez
aqui se encontre um
dos pilares sobre o qual florescera o racismo no Brasil. Todavia
penso que as representações de
Macedo ganham sentido mais amplo se analisadas dentro de um quadro da
escravidão
enquanto uma instituição social e se relacionadas
ao momento histórico em que
foram produzidas. A escravidão fora instituída
na sociedade brasileira enquanto um
sistema de poder expresso na relação social entre
senhor e escravo; branco e
negro e assim, naturalizada
pela
sociedade. Na esteira de
Castoriadis [16]toda
relação social institucionalizada é
uma
instituição, caminho diverso da
concepção
marxista que a via como integrante da superestrutura e pela
infra-estrutura determinada.
A
instituição escravidão
era constituída por atos reais –
provisão da força de trabalho, mas
também por uma gama de representações
expressas nos mitos, ritos e na simbologia. O título de
propriedade da terra, o
chicote que açoitava o escravo; o colar de ferro, dentre
muitos outros, são
símbolos dos direitos dos senhores sobre os seus escravos, reconhecidos socialmente.
Assim, a escravidão
contava com uma rede simbólica, cravada na sociedade.
È através desta rede
simbólica
que o
imaginário do medo se exprimia
como vemos no quadro de Debret
comentado antes e na literatura de Macedo,
criações que transgridem as
fronteiras do real , pois a imagem seja pictórica,
literária, videográfica não
expressa apenas o óbvio, ela
dá asas à
imaginação. Nesse sentido, o
simbólico pressupõe o imaginário.
Assim, o
imaginário do medo por meio da
rede
simbólica justificava o sentido da existência da
escravidão – transformar os homens
em objetos, coisificá- los. Desse modo, ao mesmo tempo em
que a
escravidão ao
suprir as necessidades
materiais da sociedade, ela se reinventava e redefinia novas maneiras de responder e assegurar às necessidades sociais e culturais da sociedade. Neste sentido,
a sua
função econômica e a sua
função
simbólica misturavam-se
no labirinto da
vida social garantindo a sobrevivência da sociedade e
apontando para a
necessidade de um apego à ordem institucional com o
propósito de assegurar
às elites a vida a que aspiravam
continuar. Contudo,
no final do século nem
o imaginário do medo dissipado na
literatura
, na pintura , no teatro e nem mesmo o vento nacionalista conseguira cerzir as profundas fendas
econômicas, políticas,
sociais e culturais existentes na sociedade brasileira. Por estas frestas
brotara um
fio de luz, o
movimento abolicionista que
iluminara as
cidades mostrando que a diversidade se
impunha sobre a homogeneidade. Sobre o perigo desta
homogeneização recomenda
Bhabha [17]
que
é necessário não se fazer do passado
uma celebração e nem do presente uma
homogeneização,uma coisa una, é
preciso deixar ouvir as vozes que se escondem
por traz do que está visível. Pois o oculto pode
ser rico e múltiplo. E esta
riqueza e pluralidade emergiam na voz dos abolicionistas. Cresceram as pressões
internacionais uma vez que o Brasil
fora o ultimo país do mundo a efetivar a
emancipação; a cisão entre os senhores
escravocratas se tornara chaga social aberta – os senhores da
região cafeeira
do Sul desejavam a continuidade da escravidão; os senhores
do Norte que já
sofriam com a falta de força de trabalho, eram
anti-escravagista; na sociedade
fervilhavam “ idéias fora do lugar”,
crescem o numero de furtos, fugas e crimes
de cativos contra senhores e feitores, o escravo misto de tigre e
serpente atacava
inesperadamente, outras possibilidade de
aquisição de força de trabalho
despontava sob a égide da imigração
estrangeira, a modernização da agricultura
se tornava uma possibilidade. Diante deste quadro a
abolição parecia se tornar “
ponto de honra nacional” [18].
O
fim da escravidão, para a camada
senhorial escravocrata, representava uma ameaça ao
imaginário civilizador, ao sonho
de um país moderno que desde há muito
tempo os acariciava. Diante disso,
ela
se agarra, como
tábua de salvação, à
função simbólica da
escravidão na
disputa pela hegemonia do poder. Modela e recria a rede
simbólica, fortalece a disseminação
do imaginário do medo que seduzia
à sociedade a acreditar no escravo como traidor, vingativo e, na emancipação
como quimera perigosa para a ordem social devido à sua
incontestável força de
sedução. Ele exaltava através das
representações engrandecedoras o poder dos
senhores escravagistas cuja causa defendiam e para o qual pretendia
obter o
maior número de adesões. A camada senhorial
escravocrata parecia
entender que a força do imaginário
sustenta, naturaliza o poder o que levou Backzo [19] a afirmar que “
governar é fazer crer”. È
importante observar que o imaginário
do medo fora
utilizado tanto pela camada
senhorial escravocrata quanto pelos emancipacionistas como um
instrumento de
disputa de poderes na sociedade, contudo matizado por diferentes
significações. Os proprietários
de cativos apropriavam-se daquele com o propósito de
naturalizar
na sociedade a imagem do escravo como selvagem, bárbaro,
portanto que
representava um obstáculo ao progresso e modernidade do
país. Enquanto
tais, deveriam
continuar sob a tutela dos feitores
sentindo o açoite dos chicotes
e a
privação de não serem homens por
inteiro. A liberdade para os escravos soava
como um sacrilégio para aqueles homens. E, na trama de
Macedo percebi que ele,
expressão das vozes
de muitos outros
emancipacionistas, ao desvendar o presente do país pleno de
tensões, destina
sua narrativa, fundamentalmente aos senhores. Argumenta com ardor a tese - a escravidão
é um mal que, transforma os
escravos, em
algozes e os senhores em
vítimas e deve ser gradualmente extinta , com
indenização para os proprietários
de cativos, reafirmando a compreensão de que os fios da
literatura são tecidos
na teia do tempo, ela se engendra no histórico social. Desse
modo, Macedo , como
os
demais abolicionistas da época, direcionam o
imaginário do medo para os
proprietários de escravos na tentativa de seduzi-los rumo
à emancipação. Nabuco
justifica este olhar dos abolicionistas: “
A propaganda abolicionista, com efeito,
não se dirige aos escravos.Seria uma
covardia, inepta e criminosa (...) suicídio
político porque a nação inteira, vendo
uma classe , e é essa mais
influente e poderosa do Estado, exposta à
vingança bárbara e selvagem de uma
população mantida até hoje ao
nível dos animais (...)
pensaria que a necessidade
urgente era salvar a sociedade, a todo
custo por um
exemplo tremendo e este
seria o sinal de morte do abolicionismo “. Percebo
no discurso de Nabuco,
compartilhado por outros
abolicionistas,
que o enfoque do movimento emancipacionista fora
à escravidão e não
o escravo , ser humano
capaz de direcionar os caminhos de sua História. Nos
imaginários destes homens,
os fazeres transgressores dos escravos eram apreendidos pela sociedade
como
brutais , animalescos, e enquanto tal jamais teria o perdão
daquela. E, sem o
perdão social , o
caminho a ser palmilhado seria a manutenção
da escravidão, trilha que representava o castigo merecido
aos escravos pela traição
e a
vingança aos seus senhores.
Compartilhando com esse imaginário, Manuel Macedo no seu
trilhar literário não
mostra disfarces humanistas ao dissipar o imaginário
abolicionista. Nada de
conclamar os escravos à sublevação,
nada de evocá-los como seres humanos que
tinham direito ao amor, à liberdade e a vida como o fez
Castro Alves[20],
nada de perceber a
fuga, os
envenemamentos, os furtos como formas de resistência, como
forma de fazer
eclodir as vozes dissonantes na sociedade.
Continuando
na busca de decifrar o não
visível nas imagens literárias de Macedo, noto
que o autor compartilhava o
imaginário da elite que se
mostrava insatisfeita com os princípios e
práticas da administração portuguesa
e voltava o seu desejo para a modernidade francesa : “
Ainda bem que a força da necessidade
e da lição da experiência têm
já
introduzido em muitas
fábricas as
máquinas e os processos que economizam tempo, gente e
dinheiro, e na preparação
e na limpa das plantações e sementeiras os
instrumentos que produzem igual
resultado “ ( p. 168). No
trecho apresentado, o literato
realça os benefícios do progresso expressos na
mecanização agrícola. Assim,
interpreto que fora, com
o olhar voltado
para as promessas da modernização e da
civilização que ele também rejeitara a
escravidão. Vale lembrar que
o futuro
moderno e civilizado do país movia o projeto
literário dos nossos escritores, a
intelectualidade e
o poder monárquico no
Segundo Reinado, aliaram-se no projeto
que conduziria
o
país à civilização
e ao progresso [21]
e
o esteio desse progresso seria a
agricultura e a escravidão.
Assim, a
emancipação para Macedo não
simbolizava mais que, um passo a frente na
linearidade apontada pelo progresso rumo a modernidade e a
civilização.do país.
Todavia, reconhecia Macedo que a elite brasileira embalou o
país com a
tolerância do tráfico de africanos, fez o
país acreditar que sem ele a
agricultura feneceria e, o imaginário nacionalista que
pretendia cerzir as
fendas do período colonial fazia a sociedade acreditar na
soberania nacional
como forma de resistir à prepotência estrangeira.
No entanto, subitamente aos
sons de canhões ingleses , ocorrera a
sentença de morte do tráfico
negreiro, sob o clima de injurias e
afrontas ( p. 14). E a pátria envergonhada somente escondeu
o seu rosto. A
resistência, narra o autor, foi mais uma vez adiada ( p. 16).
Percebo aqui,
que o desejo de modernização que
povoava o imaginário do literato cedia espaço para as críticas ao
nacionalismo do Segundo
Reinado, para a percepção da diferença
nos mosaicos multiformes que
construíam a realidade brasileira No
discurso
narrativo d e Macedo observo
ainda que,
na defesa da emancipação ele centra
sua
atenção na instituição
escravidão enquanto um mal social e não, no
escravo
enquanto ser humano. Este caminho o diferencia de Castro Alves [22],
poeta que canta o direito à liberdade dos escravos expressa
na capacidade de
sonhar, de criar/recriar,
de novas
feições ao mundo , qualidades peculiares ao ser
humano, que a escravidão os
coibia de vivenciá-las. Defende nitidamente a camada
proprietária, demonstrando
a necessidade dela mesma fazer a emancipação
antes que aquela acontecesse por
meios cruéis, antes que a nefasta influencia de tais
“ vítimas algozes” , das
senzalas rebeldes pudessem macular os sobrados brancos. E ainda,
semeava indulto
para os proprietários de escravos propondo-lhes
uma indenização. No
de entanto, alertava que
a emancipação imediata e absoluta dos
escravos poderia vir a ser louco
arrojo
que poria em convulsão o país,
e em
soçobro a riqueza particular e pública, em
miséria o povo e em bancarrota o
Estado. ( p. 3). Por
isso, acreditava
que a sua realização deveria ser sem pressa, tal
qual se passam as horas nos
dias de angustia. Assim, aceitava a lei do ventre livre, a lei dos
octogenários, dentre outras que para ele
e demais emancipacionistas, significavam uma forma
efetiva de
emancipação gradual. Todavia , ainda assim, narra
o autor , a dor não deixaria
de grassar a sociedade brasileira e conclama , antes que a trovoada
comece a
rugir, a união entre governo
e
proprietários de escravo no sentido de auxiliar o Estado na
hercúlea tarefa de
emancipação, para que ela fosse realizada com
menos sacrifício possível.
(p.4). Aqui,
interpelo o narrador, menos
sacrifícios para os escravos, para os senhores ou para
ambos? A leitura do
livro no entanto, não me deixara sombra
de dúvidas que o literato cantara a escravidão,
dissipara o imaginário do medo
com propósitos que mais se aproximavam dos senhores
proprietários do
que dos escravos. Numa
oposição bem marcada na
“visão do
mal” e “visão do bem”, o
primeiro representado pela escravidão e senhores
proprietários de cativos como o fazendeiro Paulo Borges,
Cândida, dentre outros
e a “visão do bem” expressa pela
– emancipação de escravos
como Simeão, Pai-Raiol etc.Percebo, o
autor revela uma visão
dicotômica do
mundo, a qual tem lugar comum em
outros
trabalhos de Manuel
Macedo. Em A luneta
mágica, por exemplo, livro também
de 1869, uma
conversa entre Simplicio, o
“escravo moral”, o míope , e o
mágico que lhe oferece as lunetas da
“visão do
bem”, da “ visão do mal” e do
“bom –senso”, caiam literalmente as
máscaras e
ambos se viam redefinidos não como personagens singulares ,
mas como , de um
lado o “Exemplo” e, do outro, “A
lição”.
Na peça Luxo e Vaidade escrita
em 1860, o fazendeiro Anastácio, no meio de um baile de
máscaras, renomeia os
personagens. Assim, para Maurício,
funcionário público endividado, coloca
Anastácio: “ o nome que te cabe é a
Fraqueza”. Hortência, sua mulher fora
renomeada como “Vaidade” . E, assim, por diante,
Mauricio ia trocando os nomes
dentro da polaridade Luxo e Vaidade. Observo
que na sua tese
emancipacionista citada anteriormente, oferecia indulto aos senhores de
cativos
ao propor que estes fossem indenizados pela
abolição; ele lutara pela
abolição -
dissipara o imaginário do medo junto aos senhores; mas
desejava que ela fosse
realizada de forma lenta
e gradual
certamente , para não prejudicar abruptamente os
proprietários de cativos. Deslindava
as questões internas do país, todavia
não se desgarrava do sonho de um dia o
Brasil ser marcado pela modernidade européia. Assim, explicitava tanto em favor
dos escravos quanto
em beneficio dos
senhores. Para
compreender este traço híbrido, marcante em As
vítimas algozes, contudo traço
comum em outros literatos que compartilharam a mesma época
com Macedo , penso
ser necessário um olhar para o país à
época. Era final
dos anos 60, momento em
que o país ainda aturdido com o Grito do
Ipiranga que embora não tenha marcado nossa definitiva
redenção da situação de
colônia, a configuração e os desejos da
elite se redefinem. O sonho
dessa estava do
outro lado do Atlântico, era o
paraíso europeu, questão já muito bem
estudada por Sergio Buarque de Holanda em Visão do
Paraíso[23].
Movida por esse sonho, a
elite
brasileira começara a se preocupar em destrinçar a
configuração do
país, em contornar seus traços
identitários com o
propósito de transformá-lo
em nação.
Isto me faz lembrar Baczko [24]
ao mostrar que o princípio
que leva o homem a agir são as
suas paixões e desejos. Contudo,
os literatos
que constituíam fração da elite ,
embalados pelo desejo de identificar o país a partir de sua
configuração
interna, pelas mãos do romantismo, empenharam-se em compreender e cantar a
natureza do país, sua
gente, seus costumes realçando a diferença pelo
exótico em relação ao outro que
não mais era Portugal, mas Paris, símbolo da
modernidade européia. Buscaram também
reconstruir o outrora do país que, até
então não despertava nenhum interesse
para nós e do
qual a Europa tanto se
orgulhava. Assim, por meio desse projeto literário
romântico tentaram os
escritores, reunir os cacos deixados pela
colonização e conferir a estes um
selo uniformizador - a nação.[25]
Pareciam acreditar ser possível amalgamar a sociedade em
torno de seus mitos,
de suas crenças, do seu imaginário conferindo a
literatura uma função
sacralizadora do mundo como propõe Julia Kristeva[26].
Todavia não compartilho
com a idéia da
autora quanto a função sacralizadora da
literatura e me aproximo da compreensão
de Glissant, um literato caribenho que concebe a literatura como uma
oportunidade
de dar visibilidade ao outro, as vozes dissonantes
da sociedade.[27]
È
dentro da compreensão
da literatura como
uniformizadora e assentada
na origem que José de Alencar,
direciona sua preocupação em reconstruir o
outrora, para a valorização do índio
como o
genuíno brasileiro, primeiro
habitante do
país. Nesta senda ele
aponta o índio como o personagem principal de muitas de suas
criações
literárias, glorificando-os. Em sua
representação literária o
índio afigura- se
como o exótico, o nacional e ao mesmo tempo como promessa
para a modernidade.
Assim, o escravo /negro[28]
fora excluído da nação por ser
considerado estrangeiro, um ser “irracional”
quase um “monstro” que evocava um tempo de
barbaria. Desse modo, ora
a construção da identidade nacional se ancorava na modernidade
européia, ora em personagens e motivos
nacionais, negando os parâmetros europeus. Está
configurada a ambigüidade
na qual Macedo
também se
inscrevera, ora defende a
emancipação , mas só se dirige aos
senhores , que se diz abolicionista, mas reforça o
“perigo do negro”, que
proclama a emancipação para dar espaço
a modernidade, que afigura o negro como
ser inferior para exaltar os proprietários , homens brancos
letrados. Traiçoeiro
é o Outro Ao
tecer a intriga da obra analisada,
Macedo aponta um
leque diversificado de
personagens: senhores proprietários, escravos e homens
livres sem profissão e
estrangeiros que para cá vieram “fazer“
o Brasil. Todos, no entanto mantinham
diferentes relações com o mundo dos escravos.
Todavia , noto que embalado
pela visão
binária do mundo, o autor apresenta
os senhores e seus descendentes envoltos
nos mantos da bondade, da honestidade e da simpatia em
oposição aos escravos
que exibiam
práticas de maldade,
desonestidade, de vingança. Assim, as
identidades dos senhores e escravos foram definidas de forma
relacional, Eu x
Outro. No entanto, esse
Eu não
era somente constituído pelos senhores , a
estes se misturavam os estrangeiros , na obra de Macedo representado
por
Souvanel, professor de canto que se enamorou de Cândida;
senhores como o
fazendeiro Paulo Borges; Tereza, Florêncio, comerciante e
proprietário de um
sítio; homens livres sem profissão como Barbudo,
mentor intelectual do crime ao
seu senhor praticado por Simeão e cúmplice do
assalto a fazenda dos senhores
Domingos e Angélica; Doutor Bonifácio, que se
impõe como médico qualificado,
porém também se apresenta como curandeiro, dentre
outros. Estes são os
personagens que encarnam a elite imperial nos quadros de
escravidão de Macedo. O
Outro, está desenhado, fundamentalmente,
na figura dos escravos
como:
Simeão mulato; Pai –Raiol, escravo africano,
negro; Lucinda também mulata e
mucama de Cândida , dentre outros. No entanto, apresenta o autor, uma escala de
prestígio social dos
cativos pautada nos fazeres daqueles. Lucinda era mucana, morava na
casa dos
senhores, Simeão era escravo de extrema confiança
de seus senhores , também
morava com os senhores; Pai –Raiol, trabalhava na
roça e vivia em senzala.
Assim, os que conviviam com os senhores realizando tarefas domesticas,
na
escala social de Macedo gozavam
de maior
prestígio social do que aqueles que se dedicavam
à lavoura
e viviam
nas senzalas. Os escravos domésticos viviam ao lado de seus
senhores, nas
Casas-Grandes, o
que propiciava
intimidade e, muitas vezes afeição daqueles.[29]
Era o mundo das mucamas como Lucinda , garoto de recado como Frederico, dentre outros. Contava uma
velha ladainha que
“ negro no eito vira copeiro, não óia
mais pra seu parceiro”[30],
como a lembrar a distancia que separava esses escravos dos demais
cativos
agrícolas. Nesse
sentido, entendo que fora nessa
relação cotidiana entre a elite da qual faziam
parte os senhores e os escravos
que fora construída
a identificação
dos senhores e dos escravos.
Essa compreensão me remonta a Hall [31]
ao mostrar que
as identidades são
construídas/reconstruídas de forma relacional e
historicamente, ou seja, elas
ganham o contorno da época em que se vive.Assim, ser senhor
de cativo
significava ser proprietário rural, integrar a elite do
Império também
constituída pelos comerciantes, pelos que lidavam com a
burocracia emergente no
país, juntamente com os representantes do governo.[32]
Portanto, estar investido da propriedade do escravo, do direito de
açoitá-lo,
de castigá-lo, de negá-lo as possibilidades de
amar e ser amado, de impor a
eles sua cultura. Enfim, ser senhor expressava ter em mãos o
pleno poder sobre
os escravos. Ser
escravo significava juntamente com
os escravos livres, integrar um grupo de identidades
minoritárias, de profundas
diferenças culturais dos senhores; vozes e
histórias dissonantes que afirmam as
fronteiras da existência insurgente da cultura; um ser sem
corpo, nomes, bens
próprios e nem passado; ser um “bem” dos
senhores; ser trabalhador manual por
excelência; enfrentar o trabalho incessante de sol a sol e não ter o direito
a expressar a sensibilidade
que alimenta o coração. Enfim,
ser
escravo era sonhar incessantemente com a liberdade, porto no qual se
ancorava a
esperança de algum
dia, tornar realidade
o sonho de ser sujeito de si mesmo. Ser senhor e ser escravo compunham
mundos conflitantes, divergentes como a noite do dia, mas se
aportavam em um lugar
comum, a escravidão,
traço que não
anulava a diferença. Todavia,
essa relação entre os
senhores e o grupo ao qual pertenciam e os escravos fora edificada no
dia a dia
sob um
campo de tensões pautadas em
marcas de dor, de vingança e da violência
institucionalizada. Desse modo,
percebo essa relação tensa como uma
construção histórica e não
biológica. Relação
essa que perpassa todos os quadros da escravidão narrados
por
Macedo. Barbudo sugere
ao escravo Simeão, roubar
o que fosse possível da casa senhorial antes de assassinar
os seus senhores; Lucinda
tentava vender a reputação e a honra de sua
senhora a preço de fugazes prazeres
com Souvanel; Pai- Raiol com o concurso de Esméria extermina a
família de seu senhor -
envenena a mulher e dois filhos, dentre
outros. No
entanto, muitas vezes, mostra o
literato que essa relação conflituosa fora
mediatizada por simulações de afeto
entre escravos e senhores e vice versa. Simeão, cuidara do
seu amo na doença, “
o crioulo silencioso se mantinha dia e noite em pé a alguns
passos do leito do
senhor “ ( p. 22); ainda que o seu imaginário
estivesse povoado de desejo da
morte do seu senhor; Lucinda a mucama,viva e alegre “
costurando bem, falando
em modas, perspicaz e paciente logo conquistou a confiança
de sua senhora” ( p.
166) embora assediasse sua senhora com ensinamentos rudes que violavam
o bom
tom da época. Atribuo que esta tensão entre
senhores e escravos está localizada
na incompatibilidade entre realidade e desejo tanto dos senhores quanto
dos
escravos . Os primeiros, viviam posições de
mando, de poder, muitos deles desejavam
que a escravidão se perpetuasse na
sociedade brasileira. Os segundos , viviam uma realidade de
exclusão social
aspiravam ao desejo de não mais serem objetos,
“coisa” na mão dos senhores;
carregavam o sonho de serem sujeitos de si e da História.
Assim, real e
imaginário se misturam na configuração
da História. Nesse
embate permanente entre Eu –
senhores/elite e o Outro – escravos e ex-escravos, os
primeiros que detinham a
hegemonia política e cultural da sociedade buscavam
também a hegemonia na
relação identitária entre eles e os
escravos tentando sufocar a
diferença existente
entre eles. Assim, mantinham-se fiéis
aos propósitos do Estado Imperial de
homogeneizar
as vozes em desarmonia na sociedade, sob o véu da
Nação. Esta hegemonia do Eu
dos senhores/elite fica bem explicitada em As vítimas
algozes. Os
senhores expressando o imaginário da elite
imperial constituíam-se no Eu e os escravos expressavam a
voz do Outro, do
diferente daquele. O literato reitera constantemente a
afirmação de que o
contato direto com os escravos, ainda que não causasse danos
mais diretos,
corromperia inevitavelmente os costumes, os valores das
famílias senhoriais. Esta
afirmativa fica explicitada em sua narrativa na decadência do
fazendeiro Paulo
Borges que se torna amante da escrava Esméria; ou na
transformação da menina
Cândida em uma namoradeira, vaidosa e cheia de mentiras,
dentre outras
situações. Desenha cenas de bárbaro
assassinato de senhor como o fez Simeão,
cativo de estimação de seus senhores; de
envenenamento e feitiçarias que
conduziram à morte da família do fazendeiro Paulo
Borges realizadas por Pai-
Raiol, escravo africano; de perversão dos valores morais
familiares tal fora o
caso de Lucinda, mucama que transformara a sinhá em leviana.
Assim, o literato
reconstrói e apresenta a imagem do escravo como algoz, como
vingativo e
vilão, escória
da sociedade brasileira,
reafirmando a
supremacia do Eu, senhor/elite
sobre o Outro. Esta
tentativa de sufocar a diferença,
negar o Outro – o escravo me remonta a
Delumeau[33]
ao
ensinar que ao lado das apreensões vindas de nós
mesmos tais como
– medo do mar, da noite e das
motivadas por perigos completos como –terremoto, maremoto,
incêndio etc ,
existem os medos culturais , que invadem os indivíduos e as
coletividades ,
fragilizando-os. È o
medo do outro. Este
está relacionado à apreensão provocada
pelo desconhecido ou que pouco
conhecemos, que vem de outro lugar, que não se parece
conosco e que,
principalmente, não tem o mesmo modo de vida que
nós. Por estes motivos o outro
causa medo, simboliza o perigo. E quem eram os escravos
senão homens
desconhecidos, do além mar que atravessaram o
Atlântico carregando consigo os
grandes silêncios de noites povoadas de histórias
de animais, de feitiços, que
falavam uma língua desconhecida; negros que chegavam em
“ terra de branco”[34].
Por disporem de características tão diferentes
dos senhores despertavam medos,
simbolizavam o “perigo”, imaginário que
foi sendo transmitido de geração para
geração na sociedade brasileira. Identifico
também essa hegemonia do Eu
dos senhores/elite quando o autor ao reconhecer o passado africano de
Pai –
Raiol o diferencia dos mulatos Simeão e Lucinda. Aquele
“ se exprimia mal e
deformemente em portugues, introduzindo muitas vezes na sua agreste
conversação
juras e frases africanas”, embora há duas décadas vivesse no país . Seu
falar mal, para o autor, parecia ter a
intencionalidade de facilitar o planejamento e danos na casa do seu
senhor. Ensimesmado,
ele trouxera consigo muito da cultura africana cosmogenica. Fora do serviço
embrenhava-se pelas matas em busca
de raízes e plantas que provocavam o envenenamento e outros
males, era “ o
feitiço que como a sífilis viera da
África” ( p.72) continua o autor, o escravo
africano trouxe não somente sua força de
trabalho, mas “crenças absurdas” , uma
“religião extravagante”, a “
alucinação do feitiço”que
inoculara na terra do
cativeiro. Pai-Rayol,
nas imagens literárias de
Macedo era um escravo solitário, pouco freqüentava
a venda , voz tristonha
que, no interior de sua senzala,
repleta de símbolos e amuletos parecia
buscar, através de sua religião, a
cintilação divina. Estas imagens me fazem
lembrar a música – Se eu quiser falar com Deus, de
Gilberto Gil: Se
eu falar
com Deus Pai-Raiol,
a semelhança de outros
escravos africanos, talvez buscasse na cintilação
divina, a força para suportar
a ausência da terra onde deixaram fincadas suas
memórias, para manter o direito
de sonhar que um dia, a vida do
Outro –
seus senhores poderia ser a sua. Chamou-me
atenção nos quadros de escravidão
apresentados por Macedo, dois escravos serem mulatos,
apenas o africano era negro. Assim,
se refere aos mulatos: Os
crioulos são muito mais inteligentes e maliciosos que O
escritor
apresenta uma diferença étnica e cultural entre o
escravo negro e o crioulo afirmando
a superioridade deste , na escala darwiniana, sem dúvidas
ponto de referencia do
escritor. Num diálogo entre Pai-Raiol e Esméria
ele sugere ser ela “mais bonita
“ do que a sua “senhora branca”, capaz
portanto de seduzir o fazendeiro.
Todavia, logo depois ele complementa – “ Tereza era
bem feita , engraçada
e mimosa de rosto e
de figura a não
admitir comparação com a crioula’ ( p.
211) não deixando dúvidas na sua
crença
na raça branca como superior. Desse
modo, deixa marcada a sua convicção de
superioridade da raça branca. Ainda em
relação a esta questão
étnica , o escritor realça
o “olhar invejoso” de Lucinda aos seios
“ brancos como a neve” de Cândida; o
olhar de desejo de Simeão aos “ seios nus
e formosos “ de Florinda sua
sinhá-moça, obviamente branca. Assim, desvelava
Macedo, narrador cúmplice da camada senhorial, a
superioridade da raça branca e
a naturalização do comportamento depravado dos
escravos. Essa crença na
supremacia racial pode ter muito contribuído para a
compreensão de que sob cada
pele escura havia um algoz, um traiçoeiro,
imaginário que fortaleceu o racismo
no Brasil. O
literato, revela
uma incessante
desconfiança dos senhores diante do
“outro”, potencialmente traiçoeiro seja
eles
escravos, estrangeiros ou homens livres. Ao se imporem hegemonicamente,
eles
não enfrentaram o desafio de descortinar
o véu da diferença cultural dos escravos negros
africanos. Eles os olhavam, mas
como cegos não os viam porque vê-los na sua
dimensão cultural significava
reconhecer que eles tinham um passado que ainda orientava suas
ações e isto seria
retirar o “eu” da posição de
domínio[35]..
Preferiram
construir e naturalizar sobre
o passado do negro africano, estereótipos de primitivismo
como algoz,
feiticeiro, “tigre” desse modo, como incapaz de
produzir uma história de
progresso no país. Assim,
os
senhores narrados
por Macedo ao ocultarem
a diferença do Outro faziam eclodir a imagem do escravo
negro como selvagem,
bárbaro em contraposição à
civilidade, proposta do imaginário europeu. Os
senhores se
negavam a entender
que o passado, a
cultura dos negros escravos não
se
dissipara na travessia do Atlântico, eles se valiam de suas
referências
africanas de sentido e de crença na
“leitura” do novo meio, ainda que estas a
cada instante fossem reconstruídas[36];
que o negro escravo
ao negociar seu passado
cultural na nova cultura reconstruíra alguns valores e
sentidos , mas também
impusera suas marcas culturais seja na culinária, na musica
ou nos cultos afros
etc. Na linguagem literária de Salman Rushdie podem ser
nomeados de homens
traduzidos, transpuseram a fronteira africana trazendo consigo sua
cultura ,
sua identidade cultural a qual nos embates cotidianos fora
paulatinamente sendo
reconstruída. Para eles transpor a fronteira africana fora o
começo, o ponto de
partida de uma vida referenciada em duas culturas, uma da terra onde
nasceram e
teceram suas identidades étnicas e a outra onde viviam,
trabalhavam, mas nem
sempre onde estava o seu coração,
questões que os senhores de Macedo preferiam
olvidar. Tentando
dar
visibilidade aos interditos de Macedo em As vítimas algozes,
observo a
cumplicidade do literato com os senhores de cativos. Ao tratar do
imaginário do
medo dos escravos como tema central da obra , ao estabelecer hierarquia
cultural
entre crioulos e negros africanos percebo que por trás de
sua visão literária se
encontrava o desejo
da miscigenação, o
“ideal do branqueamento”, o que mostra que a
literatura se forja sobre os
trilhos da História. O “ideal de
branqueamento” proposto por Oliveira Viana[37]
e
que tomara conta do imaginário de sua
época afirmava que , ao trilhar este caminho, o Brasil
alcançaria uma pureza
étnica, ao
mesmo tempo evitaria que o
mestiço fosse degenerado , pois iria
assimilar cada vez mais
as
características do branco e não das
raças primitivas que entrariam no processo
de miscigenação, o índio e o negro.
Assim, o imaginário do medo propagado pelo
escritor pode ter o sentido de medo do “enegrecimento
“ do país , questão
inadmissível à
época uma
vez que a tríade branco-índio- negro se
encontra e se “dissolve” em uma categoria comum
fundante da nacionalidade[38]
.
Estava construído o mito da democracia racial,
naturalizava-se a exclusão
do negro na formulação de uma teoria
do tipo étnico brasileiro. Percebo aqui uma rigidez na
construção identitária
daqueles pautado no não reconhecimento do outro e, na
aceitação da ordem social
como imutável, o que fugisse da ordem seria
degeneração. Assim, essa hegemonia
do Eu sedimentava a diferença cultural na sociedade. Além disso, a
proposta de miscigenação representava um contra
imaginário ao darwinismo
aceito pelas elites, condição
favorável ao apoio dos escritores. O
literato não
se refere ao dialeto falado pelo negro africano nem como
língua , mas como uma
“algavaria” , sinal de incapacidade e rudeza.
Não que o desonhecimento do
português fosse coisa esdrúxula na sociedade
senhorial brasileira. Pelo
contrário. Aos proprietários de escravos
interessava simplesmente que eles
pudessem compreender suas ordens.
Essa
desconfiança com relação ao
“falar africano” do feiticeiro parece sinalizar
para a possibilidade dessa língua quase nada entendida ser
usada na organização
das práticas de resistência
ao senhor e
suas famílias. Isto
me faz lembrar que no
cotidiano dos escravos não era comum apenas o
mórbido espetáculo do açoite, do
feitor que fazia seu coração sangrar. Eles
costumavam cantar jongos , ora num
português arrevesado, ora em dialetos africanos diversos
durante o trabalho na
lavoura para criticarem o cotidiano das fazendas , para falarem dos
senhores,
sinhás e feitores como o bem conhecido: “ Meu
patrão me bateu/ Ele não procedeu
bem / Nada de mal fiz eu / Mas ele bateu em mim”. [39]
Muitas vezes os utilizavam para combinar o assassinato de
proprietários sem que
esse percebesse nada. Nesse sentido, a “ algavaria
bárbara” , como se expressa
Macedo, mostra que ele estava atento ao caráter
provisório da submissão
daqueles. Todavia
acrescenta o autor não
era apenas no “ falar mal “ o português
ou ao cantar os jongos que os cativos
poderiam travar uma luta silenciosa contra o mundo dos brancos, mas
também nas
“calunias” , nas “palavras
sacrílegas” sobre os senhores e suas
famílias versadas
na venda logo que chegava à noite, na cozinha e nas senzalas. A
obra de
Macedo é por ele mesmo definida como um
documentário no qual escalarece o
interesse em destacar o seu significado como um documento de natureza
“verídica”,
“são histórias
passadas a nossos olhos “
válido enquanto literatura e enquanto expressão
de um momento história
brasileira carregada de tensões e onerosos
sacrifícios. A finalidade em
evidencia da obra – convencer os senhores de fazer a
abolição , de forma lenta
e gradual antes que os escravos a fizessem revela que sua natureza
será
definida para além das fronteiras do terreno meramente
literário. A necessidade
de expressão em acordo com a urgência de
desenvolver um projeto que propagasse
o imaginário abolicionista o levou a um
“pequeno realismo” com “tintas
folhetinescas’ como aponta Antonio Candido[40]
Assim,
pressionado pelo desejo de apresentar , em sua obra, fatos vivenciados
pela
sociedade e sob o seu olhar “
verídico”
resta pouco espaço para a ficção na
obra macediana. Nesta
senda
vale lembrar que em sua obra Memórias da rua do ouvidor ,
Macedo apresenta sua
produção literária como
histórica , por isso deixa bem claro a origem e a
natureza das tradições das quais se utiliza. Aqui
fica explicitada a
dualidade vivenciada pelo autor
que além de escritor era também professor de
História no colégio Pedro II, à
época em que fazer História consistia em
trabalhar apenas o factual entendido
como “real”, portanto distante da literatura que
era ditada pela ficção.
Concepção , sem dúvida presidida pela
visão binária de mundo sustentada pelo
pensamento racional. No entanto se em As vítimas algozes ele
foge tanto da
ficção, em Memórias da rua do ouvidor
, ele admite trabalhar com episódios
imaginados para suavizar a leitura das memórias, mas
não inventa, imagina a
tradição porque se não é
verdadeira é “bem achada ( p. 23). Observo
que o sentido de imaginar está
próximo à existência do fato fora da
mente humana enquanto inventar seria criar uma imagem de, sem
correspondência
com o real. Observei
também que
a matriz romântica empenhada
na tarefa de dotar o Brasil de uma atividade literária
compensadora de tantas e
tão fundas carências está presente em
As vítimas algozes. Macedo evoca a voz de
Deus, dos governos e dos espíritos como forçam
que haveriam de
impor a emancipação dos escravos e não
se
desvencilha dos ventos do nacionalismo que se apresentava misturado do
desejo
de pensar o país a partir de si mesmo , mas não
renega o fascínio da
modernidade e da civilização européia.
Assim, Macedo como muitos literatos de
sua época que cantavam a liberdade dos escravos enquanto
conceito, enquanto
desejo, os assustava a possibilidade de um dia tornar-se realidade.
A liberdade destes significaria
o
reconhecimento da diferença do Outro, frestas por onde
poderiam ecoar as vozes
abafadas dos escravos, negros, crioulos, analfabetos, misturas e
herdeiros de
duas culturas. Herdeiros bifrontes como Hermes, que
viveram essa viagem de escriba acocorado, com
um pé fincado no chão, uma asa a voar , um remo
navegando e um
imaginário exílio dentro da terra que os
recebeu. Enfim,
o
arsenal de boas intenções quanto à
emancipação não basta para ocultar a
carga
de preconceitos que perpassa a obra do escritor. No entanto, sua
literatura
torna presente às experiências da
escravidão e da vida dos escravos, já
tão
distante temporalmente de nosso tempo. Ela possibilita a
reconstrução pelas
imagens literárias das dores, mas também do reino
da fantasia dos escravos,
imprescindível ao homem para
fugir das
garras da loucura revelando
que, no
antigo pode haver também uma invenção
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[4] Castoriadis, cornelius, op.cit. p. 222. [5] Fanon,
Black skin, White mask, Londres, Pluto,
1986. [6] Pesavento, Sandra e Leenhardt, Jacques. (orgs) Discurso Histórico e Narrativa Literária, Campinas, EDUNICAMP, 1998, p.25. [7] Benjamin, Walter. Obras Escolhidas, v. I, São Paulo, Brasiliense, 1989, p. 226. [8] Schwartz, Roberto. As idéias fora do lugar, S. P, Estudos CEBRAP, nº 3, 1973. [9] Mattoso, Kátia M. Queirós. Ser escravo no Brasil. São Paulo, Brasiliense, 1988,p. 156-7. [10] Dulemeau, Jean. História do Medo no Ocidente , São Paulo, Scwarcz Ltda, 1990., p.52. [11] Fanon, op.cit., p. 157:158. [12] Benjamin, Walter. Op. cit. p. . 223. [13] Apud Emília Viotti da Costa, op.cit.p.346. A autora cita a Viagem de uma parisiense ao Brasil, de Adèle Toussaint – Samson. [14] Apud Mario Carelli. Brésil. Épopée métisse. Paris, Gallimard, 1987,p. 107. [15] Delumeau, Jean. Op. cit. p. 22. [16] Castoriadis, op. cit. p. 221. [17] Bhabha, Homi. O local da cultura, Belo Horizonte, Ed. UFMG, 2002, p. 65. [18] Prado, Junior Caio. A formação econômica do Brasil, São Paulo, Brasiliense, 1976, p. 176. [19] Backzo, Bronislaw. Imaginação Social . Em Enciclopédia Einaudi, v. 5. Porto , Casa da Moeda, 1985, p. 342. [20] Antonio de Castro Alves, Os escravos, São Paulo, Martins, 1972, p. 197. [21] Astor Antonio Diehl, A cultura historiográfica brasileira do IHGB aos anos 1930, Porto Alegre, Ed. UFRGS, 1998, p. 35 [22] Sobre esta questão ver Cléria Botelho Costa O verbo em liberdade: a escravidão em Castro Alves. Em Jaime de Almeida et alli ( orgs) Cenários Caribenhos, Brasília, Paralelo 15, 2003. [23] Ed. Nacional, São Paulo, 1969. [24] Op, cit, p. 301 [25] Candido, Antonio. Formação da literatura brasileira – Momentos decisivos, v. 2, São Paulo, Martins Editora, 1968, p.11. [26]
Kristeva, Julia. Desire
in
language: a semiotic approach to literatura and art, 27] Glissant, Edouard. Poétique dela relation, Paris, Gallimard, 1981, p. 137. [28] Segundo o Censo de 1849 , a corte contava com 205. 906 habitantes, dos quais 78.855 eram escravos e 10 732 libertos. [29] Schwarcz, Lilia e Letícia Reis (orgs) Negras Imagens, São Paulo, EDUSP, 1996. [30] Schwarcz, op. cit.p.17. [31] Hall, Stuart. Identidade Cultural na Pós Modernidade, Rio de Janeiro, DP & A, 2001, p. 22 [32] Carvalho de, José Murilo. A construção da ordem: A elite política imperial, Rio de Janeiro, Relume Dumará, 1996, p. 86. [33] Op. Cit. P.32 [34] Expressão usada pelos escravos africanos para designar o Brasil. [35] Bhabha, Homi. Op.cit. p. 80. [36] Gates, Henry JR. Race, writing
and
difference it makes. Chicago, [37] Viana Oliveira. Evolução do povo brasileiro, São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1933. [38] Da Matta, Roberto. Relativizando. Uma introdução à Antropologia Social, Rio, Zahar, 1987. [39] Apud Emilia Viotti, op. cit, p. 230. [40] Candido, Antonio. Aformação da literatura brasileira, V. 2, Belo Horizonte, Itatiaia , 1975, p. 136-45 |
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